A tarde de sábado contrastava com a chuvosa noite anterior – o Sol moitense recebia de braços abertos o público ainda longe de estar saciado de música pesada.
Adiaram-se as ressacas e as dores de pescoço e ao som de Awaiting the Vultures bebiam-se as primeiras imperiais do dia (remédio santo) e apreciava-se a complexidade técnica deste projeto do Xinês (baterista dos Switchtense) que nos brindou com aquilo que muitos catalogam como Death Metal Progressivo Instrumental. Apenas poderemos imaginar como seria este concerto num ambiente semelhante ao do concerto dos Process of Guilt, visto ser também ele bastante atmosférico e absorvente. Demasiado sóbrio e em número reduzido, o público não teve oportunidade de disfrutar de tamanha qualidade.
Entretanto chegava às imediações do recinto a excursão vinda do Porto que rapidamente se fez sentir no concerto dos, jovens mas eficazes, Nuklear Infektion. O entusiasmo que demonstram em palco é contagiante, com alguma interacção intervalada entre Thrash que vão buscar a clássicos mais old-school, como se comprovou mais uma vez nas suas covers de «Troops of Doom» e «Ace of Spades». O público simpatizou com a sua causa e aderiu. «Preachers of Life» culminou um concerto que certamente ficará na memória destes rapazes de Lisboa que mostraram que o seu EP de estreia pode apenas ser o princípio de uma bela amizade.
Seguiu-se o Hardcore lisboeta a cargo dos Shape, que provavam assim mais uma vez que este Moita Metal Fest é cada vez mais eclético, em sonoridade e no próprio público. A margem-sul é por tradição Hardcore-friendly, e se no dia anterior muitos foram de propósito pelos Bizarra, no sábado era visível o público HC. Algumas dificuldades técnicas não foram suficientes para desmoralizar o ultimo concerto dos Shape que ficarão em hiato nos próximos tempos. Ficaram para a história alguns temas novos assim como alguns que têm vindo a acompanhar a banda nos últimos anos, dando a conhecer a um potencial novo público.
O Pica é outro daqueles frontman que marca a diferença, e se assim o era nos Seven Stitches, continua a ser nos Primal Attack que retomaram as sessões de headbanging com o seu groove que não destoaria num regresso do vocalista ao mítico Wacken. A evolução e coesão da banda promete dar frutos. O primeiro álbum consta que está ai não tarda! Concerto de um profissionalismo assinalável.
Brutal Brain Damage |
O fim de tarde foi assinalado com as sonoridades mais extremas. Primeiro a cargo dos Brutal Brain Damage com brindes de Grindcore que certamente deixariam uma criança gaga para o resto da vida, tal seria o susto. Pesado ao ponto de dispensar os graves de um baixo… Tamanha demolição fez os caprichos dos fans do género assim como antecipou a janta de públicos mais sensíveis.
Os Dementia 13, que trouxeram na sua música o imaginário dos filmes clássicos de terror, brindaram-nos com o seu death metal clássico, cheio de experiencia proveniente de outras andanças, nomeadamente dos Holocausto Canibal e dos Pitch Black. «Tales For The Carnivorous», seu EP de estreia, foi assim apresentado como aperitivo naquele que seria o intervalo merecido, tanto para as pernas como para o pescoço, havendo ainda tempo para uma cover de Six Feet Under («The Enemy Inside» ).
The Firstborn |
O intervalo serviu para arrecadar alguma energia, essencial para a recta final. Os The Firstborn, a caminho de duas décadas de existência, fizeram a diferença neste cartaz, com um estilo mais espiritual do que físico, se assim o posso dizer. As 3 guitarras, baixo e a cítara (inevitavelmente rouba todas as atenções) criam uma miscelânea de sons bastante envolvente mas não criaram grandes ondas. Lions Among Man, pelo género em si, dificilmente consegue chegar ao nível do próprio álbum.
A única presença internacional esteve a cargo dos Omission, que tiveram uma recepção calorosa. A banda madrilena vestida a rigor para a ocasião, carregou a fundo nos riffs thrash/ speed e juntou-lhe pitadas de um Black clássico, distinto sobretudo ao nível do baixo. A felicidade estampada nas suas caras valeu a meia hora de palco. Um bom concerto, mas nada à frente do produto nacional aqui exposto durante os dois dias.
Omission |
Web |
Seguiram-se os veteranos Web, cujo o seu prazo de validade parece não ter limite. A excursão do Porto, apoiou em peso a banda da cidade Invicta que proporcionou mais uma vez um bom espetáculo. Deu para relembrar o tempo em que banda que se preze tinha um guitar-hero. E que belo exemplo!
Revolution Within |
As semelhanças e comparações são inevitáveis: os Revolution Within vão buscar muito da sonoridade dos anfitriões Switchtense, e o seu álbum é igualmente devastador assim como as suas performances. É possível melhorar? Sim, junte-se o próprio Hugo dos Switchtense. «Pull the Trigger» tornou-se assim um dos momentos que ficarão a ecoar na cabeça durante uns tempos.
O caldeirão-Pit foi mexido à colherada, num movimento que o vocalista Raça incitava a um crescente circle-pit, cada vez mais concorrido. Como já é tradição, fechou-se em grande estilo com o Wall-of-Death em « Stand Tall». Sem dúvida, um dos melhores concertos desta edição do MMF.
Desde cedo que se percebia que o concerto dos For the Glory, até poderia não ser o headliner mas era o nome mais aguardado. Desde a Lions Unleashed Tour que a relação Swt/FtG se acimentou e uniu públicos. No mundo do hardcore eles são uma instituição e certamente uma referencia óbvia, sendo impossível contornar a sua carreira dentro do género. «Armor of Steel» e «Some Kids Have No Face» foram acompanhados por um Crowdsurf/ Stage Dive como ainda não se tinha visto, num descontrolo total. A sede de sing-alongs foi uma constante, apenas comparável à sede insaciável de alguns dos presentes.
Congas apelou à união do underground, do metal e do hardcore que se provou na moita ser possível ambos coexistirem. Nada como provar isso mesmo com o Hugo a largar mais uma vez os seus afazeres e voltar ao palco com uma potente «Life is a Carousel». A despedida ganhou outra dimensão com o clássico «Survival of the Fittest» que acabou com o palco cheio de gente.
Johnny Simbiose |
Coube aos Simbiose a tarefa de fechar esta 10ª edição do festival, e certamente que a experiencia foi levada em conta na hora da decisão. No entanto, tornou-se uma tarefa algo ingrata visto que muito do público abandonava a sala. O seu concerto contaminou a sala com um crust potentíssimo cheio de temas rápidos e violentos quanto basta. Information Overload serviu de termino.
10 edições depois, o Moita Metal Fest é mais do que obrigatório no circuito underground português, e muito se deve ao empenho dos Switchtense, assim como das bandas envolvidas, em criar algo de muito especial. Foram dois dias em que a qualidade foi servida em quantidade.
10 edições depois, o Moita Metal Fest é mais do que obrigatório no circuito underground português, e muito se deve ao empenho dos Switchtense, assim como das bandas envolvidas, em criar algo de muito especial. Foram dois dias em que a qualidade foi servida em quantidade.
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Texto :Tiago Queirós
Fotos : António Gaspar | Nuno Santos (clica aqui para ver todas as fotos)
Vídeos : Tiago Queirós | Nuno Santos
Grande reportagem! Com muita pena minha nao pude comparecer, mas e como se estivesse estado la! Continuem assim