A décima sexta data da turné Road To Extinction passou pela capital. O Coliseu de Lisboa voltou a abrir as portas às hostes metaleiras, numa agradável noite que prometia concertos memoráveis. Em palco estariam duas bandas de referência na cena nacional, com álbuns lançados este ano e sérios candidatos a álbum de rock/metal nacional do ano e ainda os Septicflesh, o nome maior do metal grego, trazendo na bagagem um ainda recente Titan, um dos álbuns mais bem recebidos e elogiados de metal no ano 2014.
Adicionados ao cartaz à última hora, coube aos Bizarra Locomotiva abriram a noite com o seu rock/metal industrial, apresentando-se em palco com a locomotiva muito bem oleada capaz de levar o público em mais uma frenética viagem por carris de lírica complexa e sonoridades energéticas. Abriram com ‘Na Febre de Ícaro’ já com uma sala muito preenchida de público, sendo desde inicio muito bem recebidos. A veterana banda, a fundação remonta a 1993, apresentou-se em palco com uma atitude e energia que não esmorece com a idade e que muito contribui para que cimentassem um lugar como a maior referência do rock industrial português, com actuações ao vivo sempre dignas de perdurarem na memória.
Com o álbum Mortuário acabado de ver a luz do dia, continuaram por ele com os temas ‘Mortuário’ e ‘Na Ferida Um Verme’ recebidos com aplausos pelos presentes. O novo álbum tem a ambição de ser uma ópera de rock industrial, focado nas actuações ao vivo, missão que aprece cumprir com competência.
Desde o inicio que o publico reagia com energia à energia libertada em cima do palco, Rui Sidónio, vocalista, surgiu em palco aos saltos e nunca mais parou, deixando a musica sair-lhe do corpo em gotas de suor, conduzindo como competente maquinista a locomotiva até ao final ao som de ‘escaravelho’ do álbum Bestiário de 1998, numa viagem que terá tido como apogeu a malha ‘Anjo Exilado’ do Álbum Negro de 2009, com a colaboração de Fernando Ribeiro dos Moonspell. Terminaram a atuação pouco passava das 21h30 num espectáculo que durou pouco mais de 30 minutos, curto mas que colocou a plateia no ponto para o que ainda faltava da noite.
Eram 21h45 quando os primeiros acordes de ‘War In Heaven’ ecoaram na sala invocando de imediato uma legião de aplausos, metal horns e Headbanging, apesar de a sua sonoridade complexa e única, não ser de fácil de digerir por algum público. A banda grega compõe salmos negros, fazendo um Death Metal sinfónico ao qual todo o espectro do metal parece pouco para enquadrar a sonoridade que produzem.
Seth Siro Anton é um vocalista dono de um vocal gutural cavernoso e poderoso que se faz sentir nas paredes da sala, sempre muito interactiva com o público, que ia reagindo aos seus apelos, conquistando fãs a cada música que desfilavam, num set list totalmente focado nos três últimos álbuns, surgidos depois do renascimento da banda em 2007, Communion (2008), The Greath Mass (2011) e Titan (2014). ‘Communion’ e ‘Order Of Dracul’ precederam ‘A Great Mass Of Death’ executada com a colaboração do público a acompanhar as orquestrações com a voz a pedido do vocalista. ‘Pyramid God’ e ‘Prototype’ arrancaram algumas das melhores reacções da noite, intervalados por ‘Titan’. ‘The Vampire From Nazareth’ e ‘Lovecraft Death’ traçaram o caminho para o final ao som da sempre memorável Anubis, que provocou muitos gritos pela banda, e da especial ‘Prometheus’, dedicada ao público, que o vocalista Seth Siro Anton confessou que se tornará no futuro videoclip da banda. Saíram de palco muito aplaudidos e com uma plateia satisfeita. Uma palavra de elogio ao baterista Kerim Lechner, elemento mais recente do grupo que demonstrou estar perfeitamente enquadrado com o mesmo.
Mantendo a extrema pontualidade de toda a noite, os Moonspell subiram ao palco às 23h05 e a jogar em casa foram recebidos por uma sala cheia com um público claramente seu. Em concerto inserido na turné de promoção do novo álbum Extinct, começaram por este, com os temas ‘Breathe’ e ‘Extinct’ recebidos com muitos aplausos, gritos e metal horns. O público cantava os temas novos, prova que o recém-lançado álbum tem rodado nos mp3, rádios, Pc’s e ipod’s de grande parte dos presentes. Fernando Ribeiro, vocalista, era um homem visivelmente satisfeito com a reacção que esperava a banda retornada à sua terra natal, desdobrando-se em discursos de agradecimento, num constante diálogo com a plateia que lhe respondia em sintonia com gritos e aplausos.
Seguiu-se o tema Night Eternal que constituiu uma rara exceção aos álbuns Extinct (2015), Wolfhearth (1995) e Irreligious (1996) porque a noite era dedicada não só ao novo álbum mas também aos primeiros já que faz 20 anos que o importante álbum de estreia Wolfheart foi lançado e 23 anos de carreira da banda. Para celebrar isso mesmo tocou-se ‘Opium’ e ‘Awake’ do álbum Irreligious antes de se retornar ao mais recente álbum. ‘The Last Of Us’ e ‘Medusalem’ mostraram-se também já bastante familiares para os presentes que não estranharam a influência da música árabeturca em ‘Medusalem’. A primeira convidada especial, Mariangela Demurtas, vocalista dos Tristania, surgiu em palco logo a seguir para interpretar de maneira irrepreensível o tema ‘Raven Claws’ em mais uma viagem até ao álbum Irreligious.
Ouviram-se gritos pelos Moonspell quando retomaram uma última vez ao álbum Extinct com os temas ‘Funeral Bloom’, ‘Domina’, ‘Maligna’, ‘The Future is Dark’ abrilhantados pela mestria de Ricardo Amorim na guitarra, compondo belos Hinos de guitarra e roubando por momentos o palco para si. O último convidado especial e retribuindo o gesto de Fernando Ribeiro na actuação dos Bizarra Locomotiva, Rui Sidónio, entoou o tema ‘Em Nome Do Medo’ do álbum Alpha Noir (2012). A partir desse momento o concerto foi dedicado a reviver os primeiros tempos da banda, e como disse Fernando Ribeiro, foram grandes tempos, ‘Vampiria’ foi acolhida em êxtase, sendo claramente uma das músicas que os fãs não abdicam, e como era tempo para celebrar, seguiu-se ‘Ataegina’, provocando um bailarico em palco e na plateia, e ‘Alma Mater’, pelo meio um discurso emotivo de agradecimento aos fãs, que ainda antes da comunicação social lhe dar visibilidade estiveram sempre presentes.
Para o encore ficaram reservados ‘Wolfshade’, ‘Mephisto’ e para acabar a já tradicional e obrigatória ‘Full Moon Madness’, saindo a banda de palco sobe um coro de aplausos perante um público que não queria arredar pé e dar a noite como terminada.
A Road To Extinct tour prossegue, seguem-se mais 8 datas na Europa [n.d.r.: à data deste texto], antes de seguir para a América. Os Moonspell viajam para terras distantes mas deixam memórias e desejos por mais.
Texto: Henrique Duarte
Agradecimento especial pelas fotos ao Marco Trigo / Bliss & Hellfire (clicar no link para as respectivas páginas)
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