[Report] Orphaned Land e convidados em acústico no Cinema São Jorge

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Os Orphaned Land reservaram os meses de Setembro e Outubro para a sua primeira tournée acústica, presenteando os fãs portugueses com uma data no Cinema São Jorge no passado dia 1 de outubro. Tendo a banda cimentado, graças às últimas passagens bem-sucedidas por Portugal, uma forte legião de fãs, a sala Montepio esgotou facilmente, apesar de nunca assim ter parecido para quem se deslocou à mesma a contar sentir-se como sardinhas numa lata de conservas. 

Ainda antes da hora prevista para o início dos concertos, os Leaves subiram ao pequeno palco, com a casa a meio.
 A banda espanhola, vinda de Barcelona, apresenta um rock ligeiro com influencias folk, do qual se destaca o bom trabalho de teclas. Iniciaram o espetáculo com algumas dificuldades no som do microfone e da própria vocalista que desafinou um pouco ao início. A vocalista acabou por ser o centro das atenções tanto pela sua boa presença em palco, como pela voz agradável mas também pelo sotaque por vezes pouco perceptível, quanto cantavam em inglês, porque também o fizeram em espanhol, que deixou um sentimento agridoce na sua atuação. A setlist dividiu-se pelos seus únicos dois registos editados até à data “While The Light Continues Spinning” e “This is the Time”, num concerto íntimo, que cumpriu sem entusiasmar mas que ainda assim mereceu os aplausos que lhes foram destinados no final da sua atuação de cerca de 30 minutos. 
Cerca das 21h30 seria a vez dos Molllust, a banda de Leipzig, Alemanha. São um dos mais interessantes projectos que surgiram nos últimos anos, formados em 2010 propõem-se a produzir uma inovadora fusão de música clássica e metal, num género que apelidam de ópera metal. Subiram ao palco com uma formação reduzida e despida dos elementos mais “metal” , iniciando o espetáculo por ‘Ouvertüre II’ do mais recente álbum “In Deep Waters” e provocaram de imediato aplausos, entusiasmo e alguma supressa entre aqueles que foram apanhados de desprevenidos pela sonoridade da banda. Em palco a banda apresenta-se teatral, interagindo uns com os outros, encarnando personagens, numa encenação que com facilidade provoca no público uma sensação de estar a assistir efetivamente a uma ópera. A banda é composta por músicos experientes que em cima de palco demonstram elevado recorte técnico, a vocalista teclista Janika Groß desempenha ambas as funções com elevada competência, apaixonando pelo som das teclas e pela beleza da sua voz operática, capaz de agudos muito bons. Janika Groß interage com o público criando proximidade e esforçando-se por tentaram explicar a mensagem das músicas alternando um registo divertido com um sério, por sua vez o guitarrista Frank Schumacher dedica-se a provocar sorrisos, seja a tirar fotografias ao público e aos fotógrafos com o seu telemóvel, a beber champanhe e tombar a garrafa sobre as teclas ou a dar uma volta no meio do público enquanto tocava, na musica “König der Welt”. 
Os temas iam desfilando e o público assistia com interesse à disputa das teclas e das cordas pelo foco da composição, a voz de Janika Groß é apoiada pela de Frank Schumacher criando uma mistura de cores por vezes negras e profundas, por vezes quentes e esperançosas, tudo junto criam um som orgânico, complexo, muitas vezes exigente, e ao mesmo tempo emocional que deixou os presentes cativados. 
A setlist foi dedicada quase em exclusivo ao último álbum “In Deep Waters”, exceções feitas a musica ‘Sternennacht’ do primeiro álbum “Schuld” e ‘Ave’ homenagem ao grande compositores de Leipzig Johann Sebastian Bach, música que faz parte de um álbum de versões de temas de Bach, “Bach con Fuoco” lançado pela banda em 2013, com que terminaram a actuação. Pelo meio, talvez o momento mais alto, a triologia ‘Voices of the Dead’ , ‘Paradise on Earth’ e ‘Spring’ com uma mensagem de superação sobre a injustiça da sociedade, tocadas como se fossem diferentes Actos de uma ópera. Quando saíram de palco, cerca das 22h20, os aplausos que ecoavam na sala tardaram a findar. 
Faltavam cerca de vinte minutos para as 23 horas quanto o coro Stimmgewalt Choir surgiu no palco com um pequeno set composto por 5 temas, que serviram para o coro demonstrar a sua excelente capacidade para cantar à capela e provocar arrepios com a suas vozes poderosas, enquanto aqueciam o público para o espectáculo dos Orphaned Land. Começaram por “Engel” (vídeo abaixo), cover dos conterrâneos Rammstein. Seguiu-se uma macabra balada de Tom Lehrer, “The Irish Ballad”. Depois “Rebellion” dos Grave Digger e “Last Night of the Kings” uma cover dos Van Canto. Para finalizar, “Beer, Beer, Beer”, uma música de tributo a Charlie Mopps
Eram 23 horas quanto o público se agitou com mais intensidade, a casa estava muito bem composta mas apesar de esgotada, facilmente ainda ali cabiam mais 50 pessoas, a banda mais esperada surgia em palco, o coro Stimmgewalt Choir recuava para segundo plano e os Orphaned Land saciavam quem ansiava pela sua música. Trocaram os instrumentos eléctricos pelos seus irmãos acústicos mas foram recebidos com a mesma intensidade assim que os primeiros acordes de ‘The Simple Man’ do mais recente álbum “All Is One” chegaram aos ouvidos dos presentes, muitos aplausos que acompanhavam o ritmo das músicas e corpos que dançavam incapazes de ficar imóveis aos sentirem os ritmos étnicos fluírem pela pele. Seguiu-se “All is One” do mesmo álbum e parecia que os habituais em concertos de metal  moshpits podiam ser trocados pela dança do ventre. 
Talvez o maior mérito desta tournée é a oportunidade que concede à banda para tocarem algumas músicas sempre esquecidas dos seus sets habituais devido à dificuldade de as integrar num concerto de metal, exemplo disso a música que se seguiu ‘The Evil Urge’ do álbum “El Norra Alila” muito bem recebida. A setlist prosseguiu numa viagem pelos seus 5 álbuns, cheios de uma inovadora abordagem à música extrema, impregnada com os elementos étnicos da conturbada região a que pertencem e uma mensagem pacifista de quem luta através da sua música pela união de povos que parecem condenados a se desunir e construírem abismos cada vez mais profundos entre si. 
O vocalista Kobi Farhi antes de tocar ‘In Thy Never Ending Way’ do álbum “The Never Ending Way of Orwarrior”, anunciou que aquela seria a última música, mas como é judeu fazia um acordo com o público se eles cantassem a próxima musica com ele, a banda tocaria mais músicas, o público respondeu na perfeição cantando em uníssono e conquistando o direito a um encore
No momento que a banda saiu de palco ficando só o coro Stimmgewalt este teve mais uma oportunidade para um momento a solo, depois surgiu em palco Kobi Farhi e juntamente com o coro cantou Hallelujah (cover de Leonard Cohen) para grande surpresa dos presentes (vídeo abaixo). O encore continuou com ‘The Beloved’s Cry’ do longínquo Sahara que tocou no coração dos fãs mais antigos da banda. Encerraram o concerto com ‘Norra El Norra (Entering The Ark)’ e  “Ornaments of Gold”  com o público a saltar, cantar e a bater palmas ao ritmo da música, naquele que foi um concerto acústico cheio de uma energia electrizante. 
Quando saíram de palco já havia entre os presentes o desejo e o apelo para o regresso da banda seja no seu formato habitual ou em acústico. 
Texto: Henrique Duarte
Fotos: Joana Mendonça (todas as fotos aqui

Vários vídeos do canal youtube de Paula Granada abaixo: 

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