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16 de Julho: Cannibal Corpse, Toundra, Suicide Silence, Black Label Society, Decapitated, Comeback Kid, Refused, Soulfly, Betraying The Martyrs, Devil Sold His Soul, Heart of a Coward, Misanthrope, Aphonnic, Jardin de La Croix
Estivemos meses a aguardar por aquele momento. Ao fim de 9 horas de viagem, fixada a nova morada a estacas e de café “solo” a fazer efeito, chegámos finalmente ao maior festival da Península Ibérica que reúne géneros desde o Metal e do Rock ao Punk e Hardcore, passando por todo o tipo de ramificações.
A Songs for the Deaf Radio marcou presença na edição passada e este ano não poderíamos faltar. O Resurrection Fest é hoje um festival obrigatório a ter na agenda e contra factos não há argumentos.
Sem nuvens no céu e com os termómetros a dispararem, foi um primeiro dia marcado pelo calor desgastante. A sequência de concertos que tivemos pela frente não demonstrou qualquer tipo de clemência, mas quem corre por gosto não cansa, e pela multidão imensa, estamos longe de ser os únicos!
Do dia anterior constava que Biohazard e Pro-Pain não desiludiram, mas, oficialmente esse fora apenas o dia 0 e a maratona estava apenas a começar.
A honra de abrir as hostilidades, no palco Chaos, coube aos miúdos Brother Till We Die, de Madrid, que carimbaram o passaporte no concurso de bandas organizado pelo festival.
Na tenda Rituals picava-se o ponto ao som do beat down dos Nasty, no entanto eram os jovens madrilenos Jardin De La Croix a primeira banda a ser vista no início da tarde de quinta-feira. O seu rock instrumental, a par de toda uma cena espanhola em ascensão ( com o maior nome nos Toundra ), prime por grandes produções e álbuns que purificam a alma de tão límpidos que são. O palco Chaos não se demonstrou apto para criar o ambiente necessário e por isso o concerto demonstrou-se pouco entusiasmante na óptima do público que expectava mais peso e velocidade pelos próximos três dias.
O Mainstage ou palco principal, abriu com os Aphonnic com o seu Nu Metal, ainda com uma modesta plateia pela frente. De igual forma foi com o descontextualizado Heavy Metal dos Misanthrope no secundário.
Quem soube puxar pelo público foram os ingleses Heart of a Coward com seu Metalcore que meteu tudo aos saltos frente ao palco. Nós por cá temos os More Than a Thousand, que por várias vezes relembrámos com orgulho e que sem dúvida teriam alcançado outra dimensão. Mas de facto os HoaC conseguiram ser o catalisador necessário. Ao fim de várias horas o público estava mais solto e participativo e este concerto muito contribui para as animar um pouco as hostes.
De volta à tenda encontrámos os Oathbreaker com um post-hardcore profundo, cataclismico e repleto de camadas de escuridão. Uma sonoridade densa que nos consome em demasia. Complicado de digerir para quem salta de género em género com mais de 30º e muitas horas de pé com sol de chapa. Todo o seu potencial está guardado para concertos em nome próprio.
Não deixa de se aplaudir a forte figura feminina em palco e que faz corar muito homem de barba rija. Esta fora talvez a fase do dia menos apelativa e por isso demonstrou-se uma certa quebra de ritmo no público em geral. Os Devil Sold His Soul, apesar de tocarem no palco principal, foram vítimas disso mesmo, passando ao lado de muita gente e de poucas memórias para quem marcou presença.
Prestes a começar uma sequência repleta de nomes de topo, os Betraying the Martyrs tiveram de batalhar para merecer a moldura humana que os aguardava. Para além de “competirem” com os Defeater no outro palco, com o show de motocross trial e de skate, verificavam-se as enchentes em zonas de restauração… Os franceses que passaram por Portugal recentemente sabem montar uma autêntica festa com um metalcore muito positivo e dinâmico. “Let it Go”, a versão do tema da Disney que a banda lançou faz um ano, fica no baú de memórias da edição 2015.
O primeiro grande nome do dia era sem dúvida Soulfly, desta vez com o filhote Zyon Cavalera na guitarra-baixo, mantendo o já tradicional negócio de família. É verdade que já passou um quarto de século desde os tempos em que os Sepultura rebentavam com o seu thrash característico, e tanto Chaos AD como Roots para lá caminham, no entanto é extremamente difícil para os fãs baixarem as expectativas com tudo o que envolva Max Cavalera. Killer Be Killed é por esta altura o seu projecto mais entusiasmante e por incrível que pudesse parecer há uns tempos, também Cavalera Conspiracy o é. Soulfly são uma sombra do que já foram, e nem a figura de Marc Rizzo conseguiu amenizar a ideia de um colectivo demasiado “verde” e pouco coeso. A setlist que apresentaram, apesar de composta de alguns dos maiores êxitos da banda, como “Prophecy” e “Seek’n’Strike” e até mesmo “Back to the Primitive”, demonstrou-se pouco dada a timings. As obrigatórias memórias de “Refuse/Resist” continuam a fazer metade do trabalho mas “Roots Bloody Roots”, normalmente guardada para grandiosos finais, foi debitada a meio caminho. Sem mais Sepultura para oferecer, o concerto perdeu-se realmente ao som de “Carved Inside” e “We Sold Our Souls to Metal” (que faz parte de Archangel, a ser lançado ainda este ano). O mais recente tema espelha bem uma fase pouco original, e apesar de se sentir a busca de um novo hino, está longe de “Blood, Fire, War, Hate”, talvez o último grande tema dos Soulfly. Se em tempos a crítica frisava a banda de Andreas Kisser e de Derrick Green como sendo uma banda de covers de si próprios, depois de assistirmos a este, e verificado o desgaste quer vocal (sucessivas falhas) como da persona em palco de Max Cavalera (aparenta pouca motivação), cremos que os Soulfly que vimos das últimas duas vezes em Portugal ( Coliseu de Lisboa e Rock in Rio) são apenas uma memória agradável. Dessas vezes vingou o saudosismo, desta vez nem isso.
Alterações de última hora ditaram que seriam os californianos Suicide Silence a tomar o Chaos stage de seguida. No dia anterior tinham marcado presença no Paradise Garage (e a SFTD RADIO também esteve presente) mas lá não deixaram todas as suas energias. A banda demonstrou-se imparável ao longo dos 8 temas com que nos brindaram e facilmente se percebia que naquela tarde todos os planetas estavam alinhados de forma a tornar aquele um concerto especial. Fora inevitável sentir um certo simbolismo em torno daquele momento. Se houve público que chorou a morte de Mitch Lucker foi aquele. Pelo merchandise podíamos crer estar perante um cabeça de cartaz, pela performance… Ficámos a crer que afinal era mesmo. O novo vocalista (“Eddie” Hermida) soube captar a simpatia de todos dirigindo-se sempre em galego. O venezuelano que ficou famoso com os All Shall Perish esteve à altura do que lhe fora pedido. A dimensão que os concertos de Deathcore ganham no Resurrection está longe do que verificamos em Portugal. O espanhóis são claramente fãs dos “cores” modernos e não o escondem. Por cá ainda temos algumas reticências mas isso talvez se deva à faixa etária que por norma compõe os concertos. Estamos como o nosso país, a ficar com falta de reposiçao de pessoas e nestes géneros, salvo raras excepções (como no dia anterior no Paradise Garage), denota-se bem. O concerto ficou marcado por um momento que teve tanto de bonito como de sinistro: “Sacred Words” contou com um palco invadido pelos ResuKids (serviço de babysitting do festival que promove várias actividades com os mais novos ao longo dos dias). Digamos que deathcore até pode ser coisa de adolescentes, mas não exageremos. Foi daqueles momentos que aplaudimos a boa vontade… Mas não repitam para bem dos miúdos e dos pais que hoje estão à procura de terapeutas da fala. “You Only Live Once” tornou-se um dos momentos chave do dia. Um momento de pura nostalgia sem choradeiras. Mitch certamente ficaria orgulhoso.
Os Headliners do dia, mesmo que em Portugal dificilmente o fossem, foram recebidos pelo público espanhol de braços abertos sendo claro o reconhecimento da forma como influenciaram o Hardcore moderno. As memórias que tínhamos do concerto fora do baralho que os suecos Refused proporcionaram no Optimus Alive’12 eram bastante positivas. Na altura não deram tréguas ao público e este não ficou impávido e sereno por muito tempo. A jogar em terreno seguro, os ícones do Hardcore Melódico fizeram jus ao que deles se lhes esperava: um concerto muito competente e dinâmico, resultado de puro profissionalismo em palco. O lusco-fusco deu um certo tom ao ambiente vivido. A primeira sombra frente ao palco amenizou a temperatura e talvez por isso os Mosh-Pits ganharam uma dimensão maior que com Soulfly. “Rather Be Dead” abriu em grande estilo com Dennis Lyxzén a ceder ao crowdsurf que instigou o caos frente ao palco principal. Conhecidos pelas suas facetas contestatárias, sendo o capitalismo um alvo preferencial, apontaram armas à igualdade de direitos e não temeram em apontar o dedo à organização pelo número (que a seu ver) vergonhoso de elementos femininos no cartaz do Festival. Sem surpresa foi Shape of Punk to Come o álbum mais privilegiado, para agrado de todos, terminando a actuação com duas “bombas”: “Elektra” e “New Noise” que levaram à multidão ao extase com as letras mais do que decoradas. Respirou-se anos 90, tempos em que aqueles elementos sonoros que o rock alternativo soube catapultar ainda perpetuam os gostos musicais de muitos de nós.
Já passando das 22H o horário obriga a novas escolhas: por um lado o peso dos Decapitated e pelo outro a melodia dos Comeback Kid. Os primeiros, já com o sol posto, proporcionaram um belo momento de puro metal, quer na pujança criada e disparada pelos amplificadores como pela forma como dominaram tudo sem medos nem hesitações. O seu Death Metal é repleto de técnica e ao vivo demonstra bem todo o seu potencial. O som bem colocado conseguiu maximizar os temas do novo álbum, Blood Mantra, que apesar de não ter sido colocado num pedestral não deixa de agradar aos fãs do género que têem como ícone os incontornáveis Death. No ano passado vimos nomes como Suffocation, Obituary e Carcass a comprovarem que se o género já não está no pico continua a meter a um canto muito do metal que se faz ao nível contemporâneo. Este ano os Decapitated estiveram à altura, por muito que isso possa ofender os mais fundamentalistas. Quem não cedeu ao headbanging que fique com a vitória moral, porque os outros fizeram a festa e não foi pouca. Melhor só se a dose fosse dupla com o Vagos Open Air já aí à porta… Fica a sugestão para o ano que vem.
Já na tenda Ritual os Comeback Kid comprovaram o porquê de serem Headliners (desse palco) com hinos como “GM Vicent & I” e, principalmente, “Wake Up The Dead” que teve direito a um dos maiores sing-alongs de todo o festival. Há muito tempo que são uma das bandas mais acarinhadas do Hardcore, não só em Portugal como no resto do mundo, e isso se deve à capacidade de criarem temas orelhudos e bastante easy-listening sem perderem a energia que tão bem caracteriza toda a sua discografia. Die Knowing não é excepção. A tenda cheia comprovou que de facto seria muitíssimo ingrato ter de optar entre estes rapazes e os pesos-pesados da música extrema: Cannibal Corpse. A sensibilidade da organização em alterar esta situação apenas prova o seu lema: um festival de fãs para fãs.
São um dos nomes mais esperados do Vagos Open Air deste ano, e compreende-se porquê. Mais do que o conjunto Black Label Society, é o singular Zakk Wylde quem atrai os milhares frente ao palco. O famoso guitar hero, que outrora fez parte de uma das mais mediáticas formações de Ozzy Osbourne e que hoje faz suspirar por Pantera, é um ícone que vive de uma inflação voluntária por parte dos amantes do rock pesado. A verdade é que a obra discográfica da banda nunca rompeu com o devido potencial que a técnica e virtuosismo do frontman criaram. O seu estatuto é fruto de uma especulação que todos evitamos assumir mas que adoramos conviver. Ninguém nega as capacidades de Zakk e companhia, apenas assinalamos o pequeno leque de temas chave de toda uma carreira. Então onde poderá estar a fórmula de sucesso dos BLS? Pelo que assistimos, está ao vivo e com 18 ou 19 amplificadores Marshall! A figura imponente do guitarrista enche o palco e os seus solos enchem a alma. Dos temas mais roqueiros como “Funeral Bell” e “Suicide Messiah” à power ballad de “My Dying Time”, o concerto foi sendo construído e escalado ao som dos solos que todos esperam mas que nunca falham a surpreender. “Stillborn” foi sem grande dificuldade o tema que reuniu a maior saudação ao longo de uma hora de actuação.
No dia anterior os reis do metal extremo retornaram a Lisboa ( já tinham passado uns bons aninhos..) e em Vivero fizeram jus ao seu estatuto lendário. São peso bruto, obsceno e descomplexado. O pesadelo para os pais mais pudicos e conservadores. Um autêntico teste às nossas capacidades auditivas e instrumentalizado quer por Hiroshima como por Nagazaki. O som poderoso que nos habituaram não se perdeu no festival a céu aberto e a pujança fez partir pescoços. Os guturais de George “Corpsegrinder” Fisher são considerados por muitos amantes de Death Metal como os melhores e há muito que fizeram esquecer Chris Barnes, mesmo com o seu papel fulcral em alguns dos álbuns históricos. Hoje em dia nem os fãs de Six Feet Under se consideram clientes satisfeitos, quanto aos Cannibal Corpse… Com A Skeleton Domain passam a contar 13 álbuns de estúdio, um número mais do que respeitável por si só, e aplaudido porque nem sempre a quantidade é inimiga da qualidade: este LP fora muito bem recebido pela crítica como pelo público e ao vivo encaixa perfeitamente entre os momentos dignos de um best-of de 26 anos de carreira! “Kill or Become” é já reconhecida e em sequência com “Sadistic Embodiment” e “Icepick Lobotomy” potenciou uma recta final de luxo, das melhores que o mundo do Brutal Death Metal tem para oferecer: de Tomb of the Mutilated – “I Cum Blood”, de Kill – “Make Them Suffer”, do clássico Eaten Back to Life – “A Skull Full of Maggots” e a obrigatória “Hammer Smashed Face” terminando em grande estilo com “Devoured by Vermin”. Apesar de donos e senhores de uma técnica perfeccionista e veloz, transmitem todo o peso em temas mais lentos como “Evisceration Plague”. Em suma, encheram as medidas em todos os critérios que um fã de música extrema possa ter. Os outros terão dores de cabeça, mas esses são meninos. No fim a dúvida manteve-se: como é possível ter um pescoço como o de Corpsegrinder? Estará partido pelo Headbanging profissional ou é fruto de alienígenas?
O fim da noite foi guardado como celebração de dois projectos que podem servir de porta estandarte de géneros distintos mas que muito orgulham nuestros hermanos. Primeiro celebrou-se o vigésimo aniversário dos bascos Berri Txarrak, um power trio que brindou o público com o seu rock alternativo, que tanto demonstrava influências de uns Rage Against the Machine como de uns Nirvana. Na óptica dos portugueses, sem os mesmos laços afectivos e culturais, a noite não se deu por terminada graças à plenitude sonora dos Toundra cujos instrumentais massajaram os tímpanos cansados ao fim de um dia de ruído, do bom claro. São de facto um nome a ter em conta não só no contexto musical espanhol mas em todo o universo do rock experimental. Aquele tipo de instrumental que vai crescendo, como uma onda ou até mesmo como uma história: com um início, um meio e um fim. A noite, ou a madrugada se preferirem, acabou ao som das covers de Deftones a cargo dos Defclones… No entanto a falta de energia estava espelhada em toda a multidão. O dia fora desgastante, tanto pelo microclima da zona como pelo cartel de peso. Faltava só repetir a dose… Mais duas vezes!
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