[Reportagem] Festival Bardoada e Ajcoi 2014 (2ºdia)

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O Pinhal Novo recebeu mais uma edição do Festival Bardoada & Ajcoi, o segundo dia do festival prometia muito público, não só porque a agradável noite de outubro convidava à reunião das hostes mas porque o cartaz era composto por bandas de qualidade do qual faziam parte por exemplo aquelas que serão eventualmente as duas maiores bandas de Setúbal.

Foi já com um casa bem composta, com uma plateia cheia de juventude, que os Griever subiram ao palco, pouco passava das 21 horas. A banda, que tocava em casa, foi muito bem recebida, aos primeiros acordes de ‘Skeletons’ conseguiu logo provocar os primeiros headbangings da noite. O metal que produzem combina peso e melodia, assente num vocalista versátil, Henrique Martins alterna o vocal gutural com o limpo com naturalidade, acrescentado texturas à musica da banda numa fusão homogénea. À música ‘Flames of Hope’ seguiu-se ‘Rewind’ e os primeiros moshes da noite, ‘Denial’ e ‘Neurotic’ trouxeram os circle pits e a intensidade que nunca seria perdida durante todo o resto da noite. Ainda antes de terminarem a sua atuação com ‘Chains’ a banda brindou o público com ‘Palavras Vãs’ musica inteiramente cantada em português, numa louvável e muito bem conseguida tentativa de romper com o tradicional uso do inglês. Os Griever provaram que no Pinhal Novo não se fazem apenas bons festivais mas também boas bandas de metal.

Entrevista Mike Ghost (More Than a Thousand)

Enquanto os Kandia não subiam ao palco aproveitámos uma oportunidade para fazer uma flash-interview (não planeada) com Mike Ghost, baixista dos More Than a Thousand:
Songs For The Deaf Radio: expectativas para o concerto de hoje?
Mike Ghost: se as pessoas aguentarem até à uma da manha, vai ser claramente um concerto à More Than a Thousand.

SFTD: qual a importância de tocar em Portugal?
Mike Ghost: tem uma importância gigante, mas é difícil, é preciso encontrar as condições que nos permitam um bom concerto. Se fosse possível tocar mais cá, talvez nem fossemos para fora.

SFTD: o que acham do público português? 
Mike Ghost: é o melhor público do mundo, enchem os concertos, conhecem as músicas de um ponta à outra, são fantásticos. 

SFTD: bandas que sejam uma influência para os More than a Thousand? 
Mike Ghost: desde que estou na banda que acho que essencialmente a banda se copia a ela própria, não existe uma referência. O último disco gravamos sem produtor e portanto foram apenas as ideias da banda, tomamos todas as decisões 

SFTD: projectos futuros para a banda? 
Mike Ghost: muitos concertos, e muito provavelmente tournée norte americana. Essencialmente queremos tocar muito. 

Mantendo a pontualidade, como aliás foi apanágio durante todo o festival, os Kandia subiram ao palco cerca das 22 horas. Oriundos da Maia, são uma banda de referência no panorama do Rock português, tendo inclusivé vencido em 2013 o prémio Global Rockstar. O seu rock moderno aventura-se por uma sonoridade que ameaça atravessar a fronteira entre o metal e o rock sem nunca realmente a cruzar, música executada com paixão, adornada por bons riffs que encontra na vocalista Nya Cruz o ideal elo de ligação entre a banda e o público. Nya Cruz combina um timbre de voz roqueiro, com beleza e atitude. Com boa interação e alegre com o público, trouxe ainda mais gente para dentro da sala cada vez mais bem composta. De fora do concerto ficou o ep Light (2008), sendo o set composto por temas dos álbuns Inward Beauty | Outward Reflection(2010) e All Is Gone (2013), e foi por este ultimo que iniciaram com os temas ‘Caution’ e ‘New Breed’. Seguiu-se ‘Deviant’ quando já se ouvia entre o público muitas vozes a gritar por Kandia. Aproveitaram então, para viajar ate 2010 tocando os temas ‘Paranoia’, ‘Into Your Hands’ e ‘All I Need To Know’, o público saltava e até era possível ver algum mosh, tendo a vocalista aproveitado para ela mesmo filmar o público por um bocado. O single ‘Scars’ foi possivelmente a música que arrancou mais palmas à plateia, antes de a banda fechar com ‘Blow’ e ‘Karma’. Um bom concerto que terá servido para agradar aos fãs antigos e fazer alguns novos.

Vindo de Paris, França, e pela primeira vez em Portugal, os Checkmate aproveitaram sobretudo para apresentar o seu mais recente trabalho, o álbum Immanence (2013), num concerto non-stop, electrizante, de alta intensidade, que lançou o público num turbilhão de mosh, circle pits, Wall of death e stage diving. Foi visível que a banda rapidamente conquistou o público, vocalizações fortes e rasgadas contrastando com voz limpa, bateria muito bem cadenciada, boas variações de ritmo e muita energia parecia ser exactamente aquilo que o público esperava para soltarem as energias que transportaram até ao evento. As reações mais calorosas terão surgido como resposta aos temas ‘Invictus’ e ‘I.M.A’. A banda francesa deixou o palco debaixo de um coro de aplausos e certamente satisfeita com o público português.

Quando passavam poucos minutos da meia-noite, chegava a hora da primeira banda de Setúbal subir ao palco, e era muito o público que estava à sua espera. Os Hill Have Eyes são uma banda de metalcore cujas origens remontam a 2004. Ao longo dos anos a evolução não foi só sonora ou técnica, mas também na forma como comunicam com o seu público, existe uma relação especial entre ambos, sendo que são uma das bandas nacionais que mais público arrasta consigo e estando perto de casa o mais espectável era uma multidão desejosa de celebrar com eles.
Arrancaram a todo o gás com ‘All At Once’ e o público respondeu com mosh que se perpetuaria por todo o concerto. Com a setlist sobretudo focada no último álbum Strangers (2012) houve ainda tempo para tocarem algumas malhas mais antigas como ‘Unneurotic’ e ‘21.12.2012’ do álbum Black Book (2010) e apresentar uma novo malha, ‘The Bringer Of The Rain’, do seu próximo álbum (video abaixo).
Os fãs, rendidos à banda, cantavam as musicas e gritavam por esta, que respondeu com um final arrebatador, de regresso ao álbum Strangers tocaram ‘Anyway It’s Gone’ com a presença de Vasco Ramos (vocalista dos More Than a Thousand) e ‘Pinpoint e Strangers, deixando visível no rosto dos fãs o suor e a satisfação.

Os More Than a Thousand eram a banda mais esperada da noite, tendo a sala ficado totalmente repleta quando subiram ao palco e tocaram as primeiras notas de ‘Cross My Heart’. Os MTAT são sem dúvida umas das bandas nacionais de maior sucesso internacional: formados em 2000, entre álbuns e EPs, a sua discografia é já bastante longa, e o facto de recentemente terem assinado pela Good Fight Records e pela EONE Music garante à banda a capacidade de fazer chegar a sua música a todo o globo. A cumplicidade entre a banda e o público é tal que parece que Vasco Ramos não é o único vocalista, não existe uma única música que o público não cante com a banda, entre saltos, moshes, stage diving e muitos braços no ar, a banda responde com muita energia em cima de palco e uma maneira de fazer metalcore muito pessoal, simultaneamente melódico e pesado apoiado em refrões que facilmente se enraízam na nossa mente. A setlist foi inteiramente dedicada aos álbuns ‘Vol 4: Make Friends and Enemies’ (2010) e ‘Vol 5: Lost at Home’ (2014), excepção feita à malha ‘In Loving Memory’ do álbum ‘Volume I: Trailers Are Always More Exciting Than Movies’ (2004). Se as musicas ‘Cross My Heart’, ‘Fight Your Demons’, ‘It’s Alive’ e ‘First Bite’ já haviam provocado reacções energéticas no publico, o tema ‘Nothing But Mistakes’ provocou uma explosão que lançou a plateia no ar aos saltos, ‘Feed The Caskets’ foi cantada em uníssono pelo publico com os punhos bem erguidos. Seguiu-se ‘Heist’, ‘Lost at Home’ e ‘Make Friends and Enemies’ que mantiveram as hostes numa direcção explosiva, interrompida pelo momento em que Vasco Ramos sozinho no palco, fazendo-se acompanhar por uma guitarra, num momento mais íntimo em que canta os temas ‘In Loving Memory’ e ‘Midnight Calls’. A plateia juntou-se ao vocalista, repleta de braços no ar e alguns isqueiros acessos, para partilhar aquele momento. Concerto finalizado com ‘Roadsick’ e ‘No Bad Blood’. Ficou a ideia que durante o espectáculo, que durou pouco mais de uma hora, se libertou energia suficiente para iluminar uma cidade.

A fechar o festival um cortejo de percussionistas conduzindo o público à saída, prometendo para o ano mais uma edição de um festival que valeu pela muito boa organização e muito boa prestação das bandas que subiram ao palco.

Texto: Henrique Duarte
Fotos (abaixo) /Vídeos: Nuno Santos 

[Nota final NS] Da nossa parte temos a agradecer à organização pelo excelente trabalho e pelo enorme profissionalismo demonstrado, esperando por mais edições deste festival que revelou ter um futuro promissor.

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