No passado sábado, 13 de Dezembro, o Paradise Garage voltou a proporcionar uma noite memorável. More Than a Thousand, Devil in Me, Hills Have Eyes e Ella Palmer foram o pretexto. O público aderiu em peso ao chamamento, fez a festa e voltou para casa vitorioso. Que todos os concertos assim fossem.
A primeira banda da noite tinha já pela frente uma multidão que várias bandas internacionais não conseguiram ter nessa mesma sala. Os Ella Palmer não poderiam ter escolhido uma melhor oportunidade para voltarem aos palcos.
Sem sombra de dúvidas, foram a banda mais distante do imaginário Metalcore/ Hardcore/ Emocore que serviu de pretexto para tamanha adesão.
Quem foge dos circuitos mainstream ou “trendy”, tem tendência a rumar a destinos mais radicais: mais rápido, mais pesado, mais agressivo, mais técnico, etc… Hipérboles que por vezes criam um certo menosprezo pelo rock mais acessível que, mais do que nunca, faz falta. Foi isso que encontramos por volta das 21h.
Perante um público bastante receptivo, foram os temas na língua de Camões que revelaram melhores resultados ao contrário do que se verifica por exemplo em bandas como os Fonzie.
Quem teve oportunidade de seguir a evolução dos (também) setubalenses Hills Have Eyes compreende facilmente que em palco o seu metalcore adolescente está mais maduro do que nunca.
Na sala Alcantarense conquistaram a plateia sem grande atrito, munidos de um som pujante que fez tremer os alicerces. Um concerto que demonstra toda a experiência de estrada, que têm reunido nos últimos anos, com claro destaque para a figura do vocalista Fábio Batista também reconhecido pelo seu projecto Ninja Kore que certamente lhe fornece mais valias no que toca a performances indoor.
Conseguindo transportar toda a produção presente em Strangers, o álbum que catapultou a banda para o claro estatuto que hoje em dia tem, o Paradise Garage testemunhou ao vivo e a cores uma prestação que muito orgulha a cena nacional.
“Purdah” e “Hold Your Breath”, tal como no LP, foram os temas de abertura de um concerto curto, mas eficaz, que teve direito a uma recta final com Vasco Ramos, a entrar pela primeira vez em palco para se juntar aos colegas de profissão, no tema “Anyway It’s Gone”, para delírio da multidão. O single “Strangers”, pelos ecos que se fizeram ouvir na plateia, é o tema forte da setlist e de lá não poderá arredar pé tão cedo.
Sem dúvida alguma, os Hills Have Eyes estão no seu pico de forma. As primeiras movimentações, quer no mosh-pit como ao nível do Stage Dive, foram simples reflexo do entusiasmo visível frente ao palco e uma prova de que as águas do Sado continuam a fornecer todos os nutrientes essenciais à sobrevivência da cena local. Apesar do filtro que o tempo criou, pois de lá surgiu em tempos toda uma vaga emocore, podemos comprovar que os “sobreviventes” não são fruto de mera teimosia mas de total devoção quer das bandas como dos fãs.
Da Quarteira para o Mundo. Assim se pode descrever a carreira dos Devil in Me.
Há muito que deixou de ser surpresa ver o seu nome associado a exemplos tão sonantes como Madball ou Sick of it All, algo que alcançaram por mérito próprio e que deve ser motivo de orgulho para todos nós.
Longe vão os tempos em que assistimos a concertos interrompidos pela polícia, como fora no Campo Grande. Possivelmente, da noite de sábado, poucos seriam os que marcaram presença na gravação do DVD, na Incrível Almadense, dos míticos Tara Perdida, onde a actuação da banda fora mais que memorável. Nessa altura Brothers in Arms, segundo álbum, fora uma lufada de ar fresco no hardcore nacional mas também alvo da crítica dos fãs mais conservadores do género. A entrada do single no AirPlay da MTV fora apontado como uma afronta ao underground. 2007 poderá ser hoje apontado como um turning-point na carreira de Poli e companhia. Sobreviveram ao underground e foram mais longe sem perderem as características que apaixonaram os seus ouvintes.
O que é certo é que hoje a banda tem uma agenda internacional, regular, a par de grandes nomes, passa por circuitos de festivais sonantes e quando voltam à “terra” encontram sempre casa cheia.
O carismático vocalista, que noutras andanças é reconhecido pelo seu projecto Sam Alone, é um animal de palco e merece ser reconhecido como um artista na verdadeira concepção da palavra. Com ele perdura todo um núcleo duro que no colectivo demonstram toda uma lição de palco.
Enquanto esperamos pelo novo álbum, Soul Rebel, cuja expectativa está a uma escala além fronteiras, os “alfacinhas” debitaram toda a lírica, mais do que decorada, de hinos como “Only God Can Judge Me” e ” From Dusk Till Dawn”. “Alive” obrigou os fãs mais old-school a calçarem os seus dancing shoes para um Two-Step mas no público mais jovem foi claro que “On My Own” e “The End” eram os temas mais aguardados da noite.
Subtilmente, o guitarrista Matos fez-nos relembrar Dimebag Darrell, que nos deixou fez 10 anos na passada semana, com um pequeno excerto de “Broken” que arrancou os sorrisos nostálgicos dos mais velhos.
Terminando em grande o concerto mais intenso da noite, “Freedom”, um clássico dos Rage Against the Machine, que a poucos Km dali, anos antes, proporcionaram um dos melhores concertos que este país já assistiu. A invasão de palco demonstrou claramente que se para muitos era a primeira vez, não será certamente a ultima.
E a fasquia continuava a subir…
Este ano a Songs for the Deaf Radio teve oportunidade de assistir, entre outros, ao concerto dos More Than A Thousand no palco principal do Resurrection Fest em Espanha e na altura assistimos de perto ao porquê da aposta internacional deste tipo de bandas, e em especial no seu caso em concreto.
O vasto mercado que assim alcançaram, verifica-se também a nível nacional de forma contra-cíclica. Não podemos associar os MTAT a uma local scene e o público não o esconde. Hoje são uma banda sem fronteiras e casa cheia, com a extensa fila à porta, sob condições climatéricas nada favoráveis ( não só chovia como as temperaturas apelavam a programas mais caseiros), demonstrava isso mesmo.
As t-shirts de bandas como Parkaway Drive ou Architects, cujo imaginário não se encontra distante do dos portugueses, estavam claramente em número inferior ao merchandise dos headliners da noite. A vasta multidão, maioritariamente adolescente, deslocou-se com o propósito claro de vibrar com as musicas que vão preenchendo a discografia da banda de Vasco Ramos.
No intervalo entre concertos ninguém arredou pé, e mal se fez soar a intro dubstep as reacções foram visíveis.
A primeira parte do concerto foi dedicada exclusivamente aos primeiros 5 temas do álbum mais recente (Vol.5: Lost at Home) lançado este ano. “Feed the Caskets” teve direito a um Wall of Death esmagador, como se pode comprovar no vídeo abaixo e o single “Heist” ouviu-se em coro logo de seguida. Daí para a frente foi sempre a subir. A paisagem no público foi sempre dinâmica em resposta aos sucessivos pedidos da banda. Como se eles fossem sequer necessários…
De 2010 se retiraram 4 temas de Vol.4: Make Friend and Enemies, álbum que cimentou a sua sólida base de fãs. A crescente exponencial que se verifica na carreira deste colectivo ficou clara com a recepção dos trabalhos mais recentes.
A conhecida proximidade com os Hills Have Eyes ficou mais uma vez comprovada em palco com a entrada de Fábio Baptista para o tema “We Wrote a Song About You”. Os aplausos fizeram-se ouvir fortemente.
Terminando a sequência inicial deu-se lugar a um medley de temas do passado, premiando assim quem os segue faz tempo : “Walking on the Devils Train/ Trip to Gotham City/ Memories & Addictions/ The Hollow/ It’s The Blood, There is Something in the Blood”.
A secção rítmica da banda ao vivo tem de ser assinalada.
O baterista, Wilson, é sem dúvida alguma um elemento chave na sonoridade e de baquetas na mão consegue criar picos de sismologia. No baixo, Mike Ghost, demonstra que o sangue que corre na suas veias é de quem nasceu para as artes ( com trabalhos de fotografia muito interessantes) e na música continua a dar cartas por muitas saudades que tenhamos do projecto Men Eater, merecedor de todas as críticas positivas que obtivera no passado.
“Midnight Calls” teve um estatuto especial, estando isolado da sequência inicial dos temas do ultimo álbum, mas foi com o frontman solitário em palco, de guitarra em riste, que se fez sentir um dos momentos da noite: “In Loving Memory ( Life Flashes)”, precedido dos acordes e alguns versos de “Change (in The House of Flies), a conhecida balada de Deftones.
O apogeu da noite foi mais uma vez “Roadsick” e “No Bad Blood”, em uníssono total numa visão memorável e até mesmo invejável. Naquele momento poderia ter sido gravado um DVD para a posterioridade.
Infelizmente, algumas falhas técnicas, primeiro ao nível das guitarras e posteriormente ao nível do feedback criado pelos microfones, fizeram-se notar. Adversidades que nunca puseram em causa o que fora uma autêntica cerimónia de coroação. Os More Than a Thousand foram, sem dificuldade, os reis da noite.
Texto: Tiago Queirós
Fotos: Nuno Santos (todas as fotos na página SFTD Made in Portugal)
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