16 de novembro, o frio apertava e os passos de quem andava pela baixa de Lisboa davam para o Coliseu dos Recreios. A fila não se fez demorada e a organização e determinação de quem recebia fazia ser célere a entrada.
Às 21h o o espaço ainda mostrava muitos lugares vazios, mas quando se começaram a ouvir os assobios e o barulho de quem esperava a assinalar que estava na hora esses mesmo lugares deixaram de existir.
Halestorm entrou com tudo o que tinha. “Love Bites (So do I)” foi o tema de arranque e o cartão de visita, que aquela banda encabeçada por uma mulher de fina figura não teria qualquer sinal de fraqueza dali em diante e a voz dela estaria ali para fazer prova.
Lzzy Hale tem uma voz arranhada e rouca, leva-a ao extremo com um resultado de fazer corar qualquer um. Determinada, forte e segura da sua postura em palco mostrou ter garra e muito rock para além da sua imagem. De guitarra em riste entrou em palco com tudo e com todos que lhe seguiram. A banda apareceu e deu o que tinha que dar, o que queria dar e o que o público recebeu. O público agradou-se e contribuiu, estava feito o pacto de amizade entre banda e a audiência. Um estreia nada envergonhada e nada fraca. Continuaram sempre a altas temperaturas e em alta sintonia.
Talvez por ser o último dia de digressão a banda estava alegre em palco e até bastante acessível ao público, e este, típico do nosso povo, adorou e entrou na brincadeira e na sintonia. O irmão de Lzzy, Arejay Hale, a comandar a bateria, estava ao rubro. As brincadeiras eram uma constante e logo não tardou em entrar em contacto directo com o público. Num jogo simples foi atirando a baqueta para o público e este atirava de volta na esperança que a coisa resultasse, e quando resultou… O coliseu aplaudiu e vibrou ao ponto de a música ser abafada. Mas não fez qualquer mal, o pacto estava selado e “aquela banda” que veio abrir para Alter Bridge conquistou um lugar no coração de quem foi assistir ao espectáculo.
A energia permaneceu e a boa onda entre palco e plateia também e nem o tema romântico da noite fez quebrar as atenções ficando o coliseu cheio de pontos de luz iluminados por isqueiros e telemóveis dando um ambiente que Lzzy agradeceu e elogiou: –“You are wonderfull guys!”.
Agradeceram a oportunidade há muito esperada para tocar no nosso país e elogiaram Alter Bridge por terem lhes dado essa oportunidade. Saíram com a promessa de voltar se o público assim o quiser, mas disso não restaram dúvidas. “I Miss the Misery” foi o tema que assinou esse contrato.
Pouco tempo depois já se notava movimento em palco, afinavam-se instrumentos e alinhava-se o som. As luzes apagaram-se e o Coliseu encontrava-se cheio. Se haviam dúvidas que os Alter Bridge era uma banda há muito esperada… desenganem-se.
Mal apareceram em palco a recepção foi ensurdecedora. Myles Kennedy acena e agradece, a banda prepara-se para mais um concerto. A postos no microfone abre a boca e dá as primeiras silabas e instantaneamente cala-se e dá um passo atrás, ouvia-se a continuação do primeiro tema e o Coliseu mostrou a Myles e ao resto da banda que não iriam estar sozinhos naquela noite, em tema algum. O espanto ficou plantado na cara de Myles ao ponto de não ser possível disfarçar e assim continuou a cantar com o publico a acompanhar e a mostrar que finalmente vieram e que os esperavam ansiosamente há muito. Não houve um tema em que a banda estivesse sozinha e em que o público não interagisse. Obediente e sempre em resposta com o que se passava em palco aproveitou, participou e agradou-se pelo concerto dado que se revelou perfeito e ao mais alto nível. Nem mesmo “Fortress”, tocada ao vivo pela primeira vez em digressão, deixou de ser acompanhada pelo público. A cada elogio ou conversa de Myles Kennedy a audiência respondeu em ovação gritando “Alter Bridge”, “Tremonti” e “Portugal”. Algo que a banda soube respeitar e acarinhar com sabedoria e educação.
O alinhamento escolhido pela banda foi muito sóbrio e com uma formula de sucesso. Composta maioritariamente com temas de álbuns anteriores jogaram pelo seguro, mas “Cry of Achiles” mostrou que poderiam estar sem medos e que tocassem o que tocassem aquele público não os largariam nem um segundo, nem num só tema.
“Blackbird” foi o momento altíssimo da noite, tanto pela prestação de Tremonti, que nunca desilude, como também pela receptividade do público que deixou a banda a trocar entre eles olhares de satisfação. Mas seguido pelo tema “Watch Over You” com Myles na guitarra acústica, como tem sido hábito nos concertos, foi o delírio e eis que Lzzy aparece, nada compremetedora no seu vestido preto, para um “dueto” a três em que o público se emociona e emociona a dupla em palco. O fecho do tema foi assinalado com muito barulho e ovação do público e a vocalista mais uma vez acarinhada pelo “padrinho Myles” e pela audiência.
“Open Your Eyes” foi o último tema do alinhamento e a banda saiu do palco (mas sabia que voltaria) com as luzes a apagarem-se nas suas costas. O público reagiu como esperado, mas talvez a reacção tivesse sido demais para Alter Bridge porque os gritos, assobios e o bater de pés no soalho centenário do coliseu fez com que aquela casa de espectáculos ameaçasse ir abaixo com aquele chamamento. A noite não acabaria ali, não assim, não daquela forma. E o Coliseu também não. “Addicted to Pain”, “Calm the Fire” e “Rise Today” foram os temas do encore que trouxe elogios, agradecimentos, desculpas, por não terem vindo actuar ao nosso país mais cedo e por não terem a noção do quanto eram acarinhados em Portugal, e com a certeza de cá voltarem sempre que os portugueses assim o desejarem.
Numa despedida demorada encontraram a saída do palco e o público saiu satisfeito e os mesmos adjectivos ouviam-se no meio do barulho da multidão que se organizava para a rua: “perfeito”, “lindo”, “brutal”.
Setlist Halestorm
- Love Bites (So Do I)
- Mz. Hyde
- Rock Show
- Freak Like Me
- Break In
- Familiar Taste of Poison
- Drum Solo
- Dissident Aggressor (Judas Priest cover)
- I Get Off
- Here’s to Us
- I Miss the Misery
Setlist Alter Bridge
- Slip to the Void
- White Knuckles
- Come to Life
- Before Tomorrow Comes
- Cry of Achilles
- Ghost of Days Gone By
- Ties That Bind
- Waters Rising
- Broken Wings
- Metalingus
- Blackbird
- Watch Over You (with Elizabeth “Lzzy” Hale) (Myles Acoustic)
- Fortress (Live premiere)
- Isolation
Encore
- Open Your Eyes
- Addicted to Pain
- Calm the Fire
- Rise Today
Texto e Videos: Liliana Dias
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