[Report] 1º dia Rock no Rio Sado 2013 – MOONSPELL + RAMP + Grog + Low Torque (c/ videos)

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A primeira edição do Rock no Rio Sado era já à partida um risco assumido de forma orgulhosa pela organização. Apostar num cartaz 100% nacional, numa zona vincadamente afectada pelas dificuldades económicas que o nosso país atravessa, demonstrava um certo optimismo face ao evento em si. Juntemos uma dose de chuva, durante o dia, e uma “bela” e monótona  prestação da Selecção Nacional de Futebol no estádio da Luz em simultâneo com o horário de concertos (e com aqueles descontos em cartão Continente..). A coisa estava complicada…
As tecnologias do mundo moderno são benesses do dia-a-dia, no entanto, há certos e determinados pormenores que não ficam nada mal ao charme de um evento que, acima de tudo, depende do publico: se não fossem os GPS’s e os Google Maps desta vida, a procura do recinto seria extremamente complicada, não encontrámos uma única referência ao festival na cidade de Setúbal. Até aquelas “festinhas”, bem alternativas, no meio do nada, como as de Almeirim, por exemplo, têm um certo código de setas coloridas em sítios chave – até criam um certo sentimento de aventura!
A zona é famosa por motivos pouco apelativos ao turismo local, o que abalou de certa forma as expectativas de muitos.
Para grande surpresa, o recinto foi mesmo um dos pontos fortes deste evento. Simplesmente magnífico. Espaço era coisa que não faltava, com direito a um balcão natural de frente para o palco, dinamizado por um corredor composto por barraquinhas de comes e bebes variados. Uma zona dedicada ao público Motard, uma tenda dedicada em exclusivo para os after-hours pós concertos, etc.. tudo impecável. Este festival tinha reunidas as condições para receber milhares de pessoas com condições melhores que alguns dos festivais mainstream e com grandes patrocinadores ( falo por exemplo de um Sagres Surf Fest ).
A abertura do evento teve direito a um humilde discurso da Presidente de Câmara Municipal de Setúbal, Maria das Dores Meira, com um apelo ao consumo local – o belo Choco Fr(r)ito e o famoso Moscatel. A seu lado uma cara ilustre da história do rock em Portugal, e um padrinho deste evento – António Manuel Ribeiro dos UHF.
Também da terra, os Low Torque (que a SFTD têm vindo a seguir) tiveram a honra de abrir o primeiro grande festival da sua cidade natal. O seu rock faz falta aos festivais que se dizem do género. Há falta de riffs, de solos de bateria, de vozes rasgadas. Há demasiados sintetizadores, minimalismos, pormenores  brejeiros… o rock nu e cru está cada vez mais difícil de alcançar. Os Low Torque provaram que este era um dia de rock à antiga. As motas estilo motard no palco criavam uma moldura perfeita. Só faltava o cheiro a gasolina e a borracha queimada.
O seu álbum de estreia dá-nos um gostinho de um stoner rock que encaixaria perfeitamente numa daquelas vagas (já preenchidas…) no alinhamento do futuro concerto dos Queens of the Stone Age. Falta o tal risco, ou a vergonha descabida quem sabe, de apostar em bandas portuguesas, quando o nível de conhecimento do público face a algumas bandas internacionais, é igualmente duvidoso por vezes. O que não faltou foram os singles musculados em « Stripped Down to the Blood» e «Karmageddon». Outras passagens memoráveis, de agrado do público que os estava a conhecer, foram « Vampires» e «Poisoned Lips, Dead Tongues».
O atraso forçado, talvez pela meteorologia desfavorável, não foi o suficiente para aumentar a mancha (ou falta dela) de público frente ao palco. No entanto, os fieis do rock bateram o pé e abanaram a “carola” ao som das guitarradas de André Teixeira, pautadas pelo ritmo penetrante de Arlindo Cardoso e de Miguel Rita, na bateria e no baixo.
É notável o trabalho na secção rítmica, não fossem os Low Torque uma banda em tempos instrumental. No entanto, a voz de Resende é um bónus indiscutível.
Um concerto que dada a duração, deu para tirar partido do seu trabalho quase na totalidade.
Já com o sol posto, os Grog parecem ter amedrontado S.Pedro e a sua chuva que poucas saudades deixava no recinto. 20 anos a descarregar picos de grindcore e daquilo que muitos chamam de brutal death metal. A par de uns Simbiose, são uma referência nacional num sub-género que dificilmente encaixaria num festival deste tipo. No entanto, e como prova de um cartaz ecléctico, a banda soube tirar partido de um sistema de som que teve mais prós do que contras ( mais uma prova de uma organização cuidadosa nestes pormenores), e brindou o público com uma performance avassaladora, onde as linhas de baixo acusaram na sismologia setubalense. Há sempre quem estranhe este tipo de sonoridades, os vocais e até mesmo os nomes de alguns temas, no entanto foi de sorriso nos lábios que o público assistiu a temas como «Hanged By the Cojones». Uma influência, para muita da família metaleira, Jeff Hanneman (guitarrista dos Slayer) foi relembrado numa dedicatória sob a forma de «Necrogeek».
Por norma, a grande dificuldade das bandas de grindcore, crust e de outros sub-géneros mais extremos, é a capacidade de conseguir projectar o som de forma a realmente criar uma espécie de tsunami de graves. Tivemos um belo exemplo disso com os Atentado recentemente na República da Música, com a facilidade acrescida de ser num recinto fechado. Num festival a problemática é acrescida mas funcionou na perfeição.
Seguiram-se os dois pesos pesados da história do metal em Portugal: os Ramp e os incontornáveis Moonspell.
O conjunto liderado por Rui Duarte, sempre acompanhado do seu discurso activo, deixou claro que a proximidade de casa era suficiente para se sentirem como tal. Ainda alguns dos presente tinham em memória fresca o concerto da concentração motard em Vila Franca de Xira e estavam já prontos para outra dose. Dito isto facilmente se percebe que se haviam poucas pessoas no recinto, estas eram as fieis. As que de tudo fazem para ir a todo o lado, que compram cds e t-shirts. As que de certa forma ajudam a sustentar a arte destas bandas.
Os Ramp foram durante muito tempo denominados de Metallica portugueses, e a verdade é que sempre honraram tamanha proclamação, e durante muitos anos fizeram furor no público português. Os tempos mudam, e o público também. Se nos 90, o público vivia sedento de concertos rock, sejam eles dos Iron Maiden ou Faith No More, hoje parecem ter criado anti-corpos a qualquer tipo de música menos comercial – barulho julgam muitos!
Mas aqueles que lá estiveram, mais uma vez, deliraram ao som de clássicos como «Insane», «Dawn», «How», «Single Lines», passando por temas bem reconhecidos como «Hallelujah», bem longe de um Leonard Cohen ou de um Jeff Buckley. Uma dedicatória sentida à mãe do vocalista Rui Duarte na emotiva «Alone» fez sentir o primeiro grande coro da noite.
O espectáculo que Tó Pica e Ricardo Mendonça transmitem em palco relembra os tempos de guitar hero. Estes não ficam nada atrás de exemplos internacionais clichés no que toca a darem um bom espetáculo de rock’n’roll abastecido de riffs thrash old-school mas que chegam facilmente a qualquer público. Esta é a arte do metal dos Ramp, não são os mais rápidos, os mais pesados ou os mais extremos, são o metal do povo.
O Best Of é algo que ainda não teve a luz do dia, mas é um objectivo assumido da banda. Este concerto poderia muito bem compor a tour de lançamento. Não se esqueceram as já famosas covers : A versão de «Anjo da Guarda» de António Variações é sinónimo de destruição e as movimentações fizeram-se sentir; «Dance Like an Egypcian» das The Bangles  e «Try Again» dos Spermbirds partiram tudo no encore final. No fim deste concerto, e com Moonspell pela frente, finalmente sentia-se nas pessoas que tinha valido a pena a comparência neste festival. A temperatura aumentou com os níveis de afectividade bilateral entre a banda e os presentes.
Da Brandoa, do Olival Basto, do mundo. Os Moonspell vieram marcar a sua marca naquela que foi a sua primeira passagem, ao fim de mais de 20 anos de actividade, por Setúbal. Muitos aguardavam este momento como sendo a primeira reunião metaleira pós- Iron Maiden no Pavilhão Atlântico, e a moral estava nos seus picos. Depois de um ” Fim do Mundo” memorável no Tmn ao Vivo, muito do público da capital se fez deslocar mais uma vez para assistir ao concerto da banda mais internacional da cena em Portugal.
«Alpha Noir / Omega White » foi aplaudido pela crítica e parece já fazer parte dos àlbuns mais acarinhados da sua discografia. «Axis Mundi» é já uma referência de abertura de concerto, como noutros tempos foram «In and Above Man»/«From the Lowering Skies».”IPSO FACTO, AXIS MUNDI” está já na ponta da língua dos peregrinos frente ao palco. Em tom marchande se deram início às hostes, numa setlist de grande calibre que primou pelos temas mais mediáticos. «Opium» relembrou a todos a lição do heterónimo Álvaro Campos com a eterna passagem pelo Opiário que já exportou a língua portuguesa por vários cantos do mundo. «Vampiria», «Mephisto» e «Finisterra» são exemplos clássicos do seu reportório, mas as mais recentes «Night Eternal» e «Lickanthrope» (grande trabalho de Mike Gaspar a fazer tremer o chão) dos dois últimos trabalhos de originais demonstram-se temas mais pesados e menos doom’escos, no entanto a sua receptividade é sinal que os “novos” Moonspell têm acertado com as expectativas dos seus fans. «Em Nome do Medo» é o tema que comprova da melhor forma. Este é o hit do novo álbum entre os fans, mesmo não sendo um single. «Nocturna», um dos exemplos mais radio friendly da banda, foi relembrada sem levantar grandes ondas apesar de tudo.
O já velhinho Wolfheart teve uma presença especial neste concerto, com temas menos óbvios como «An Erotic Alchemy» e «Ateagina» que fez as delícias com ritmos bem mais folk dignos de um concerto de Korpiklaani ou de uns Finnitroll, com direito a umas danças mais folclóricas pelo recinto fora.
Ao som do lobo se introduzia o encore com «Wolfshade ( A Werewolf Masquerade)». «Alma Mater» foi requesitada em todas as paragens entre músicas, tornando-se num hype que culminou no tema mais frenético.
Da praxe é já a eterna «Full Moon Madness», um ritual de misticismo épico e uma tradição da banda de Fernando Ribeiro. Em contraste com a entrega mais popular do concerto anterior, o concerto dos Moonspell é mais sério, mais frio o que não favorece a opinião pública na sua totalidade. No entanto, é uma postura de charme e de seriedade para com o que fazem tão bem. Ricardo Amorim, Pedro Paixão e Aires Pereira são elementos que não lutam por um lugar de destaque e a fluidez da coisa nem resulta num vedetismo brejeiro por parte do mediático vocalista. Como tudo, são perspectivas. O que é certo é que Moonspell é sinónimo de concertos de grande nível.
O after-hours esteve a cargo do DJ António Freitas, bastante familiar neste meio.
No rescaldo do primeiro dia de festival tinha-se a consciência que o dia seguinte teria um risco muito maior face ao cartaz pouco mediático que apresentava, mesmo sem chuva ou com jogos da selecção. Não se pode culpabilizar o público pela falta de comparência. Cabe aos promotores conseguirem se demonstrar  uma oferta apelativa,  e quando se esperam números a rondar as 10 mil pessoas e se encontram poucas centenas apenas, não se pode culpabilizar a meteorologia ou a cultura portuguesa. No entanto, a organização está de parabéns nos esforços a nível de recinto. a qualidade foi de facto assinalável, mas a quantidade é propicia a momentos memoráveis, e por muito que se diga o contrário, com público em massa, acaba sempre por ter uma atmosfera diferente.
Texto: Tiago Queirós
Videos (abaixo): Nuno Santos/Tiago Queirós (ver todos no canal YT)







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