[Report] Anathema + Mother’s Cake @ Paradise Garage, Lisboa

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A chuva resolveu dar tréguas a quem se deslocou a Alcântara para assistir a mais um regresso dos Anathema a Portugal, desta feita para mostrar o mais recente trabalho, ‘Distant Satellites’.
Numa noite com lotação esgotada já anunciada, previa-se a romaria das grandes noites do Paradise Garage, e foi isso mesmo que aconteceu. A abertura das portas deu-se pouco depois das 20h, mas a entrada a conta-gotas, devido ao controlo de segurança revelava-se insuficientemente rápida para que todos pudessem assistir ao concerto de abertura.
Mesmo retardando a entrada em palco cerca de um quarto de hora, e havendo indicações para acelerar o processo de entrado no recinto, foi com a casa a meio gás, perto das 21h15, que os Mother’s Cake subiram ao palco.
Desconhecidos de grande parte do público, este trio austríaco é uma banda de progressive/groove rock que em 2010, com apenas o EP de estreia ganharam o concurso Local Heroes Austria, que fez com que muita gente lhes pedisse que pusessem cá fora um álbum. O resultado é ‘Creation’s Finest’ de 2012, que vieram mostrar a Lisboa.
Iniciaram o concerto com o tema que dá nome ao álbum, com inicio instrumental, em que o efeito da guitarra soava a um órgão, pintando a paisagem com leves pinceladas, apoiada no potente baixo de Benedikt Trenkwalder e numa bateria desconcertante, num ritmo funk, de estrutura imprevisível,  mas bem calculada.
É então que o vocalista/guitarrista Yves Krismer se dirige pela primeira vez ao público, que ainda não estava a perceber bem o que estava a sair dali, agradecendo a sua presença, e arrancam para ‘AC Rage’, uma malha de rock aparentemente mais directa, mas logo abanada pela força da bateria de Jan Haußels e invadida por uns riffs mais heavy, logo quebrados por uma acalmia, numa constante troca de ritmos variados e complexos, tudo ligado freneticamente numa longa composição sonora.
Continuando por caminhos progressivos honrando os grandes dos anos 70, ‘Night And Day’ apresenta um rock grandioso, e sempre com muitas tonalidades.
Depois de agradecer em português anunciam a malha “Soulbrazen”. É já com a casa cheia (finalmente acaba a fila que chegou a dar a volta ao quarteirão) que se despedem com ‘Run Away’, uma malha que faz em tudo lembrar os míticos The Mars Volta, naquele seu jeito de conjugar o peso com o funk e uma enorme electricidade em palco, fazendo que nem nos déssemos conta que já passaram 45 minutos. Minutos muito bem passados e, o que poderia ser uma escolha para banda de abertura um pouco arriscada, revelou-se aposta ganha.
Enquanto se esperava pela banda britânica, tentámos descobrir as novidades de espaço, uma vez que há uma nova gerência no Paradise Garage. Pela positiva, o regresso da cerveja a preços minimamente decentes, no entanto no aspecto da temperatura da sala e circulação de ar, mesmo com o público a acatar maioritariamente o apelo da banda para não se fumar no recinto, o espaço tornou-se rapidamente numa sauna insuportável. Apesar de várias tentativas não conseguimos encontrar uma única zona com ventilação de ar fresco, o que é um ponto urgente a rever, bem como a escassez de empregados nos bares para dar vazão a tantos clientes sedentos. 
Ao nível de som, o PA é poderossísimo, talvez até com alguns decibeis a mais para o espaço, pelo menos no som das baterias.
Pelas 22h30 apagaram-se as luzes tendo inicio o concerto pelo qual todos ansiavam: Danny Cavanagh sobe ao palco e dá as boas vindas ao público, arrancando de imediato com ‘Lost Song Part 1’, do novo álbum. De inicio notaram-se algumas dificuldades, com algumas partes da música pouco reconhecíveis, parecendo haver alguma falta de sincronia entre as vozes de Lee Douglas e Vincent Cavanagh, que se diluíram à medida que a música foi crescendo, atingindo o clímax pouco antes do fim, arrancando imediatamente com a ‘Lost Song Part 2’, novamente mais calma inicialmente e com um desempenho notável na voz por parte de Lee .
Se há coisa que os Anathema sabem fazer bem é criar ambientes crescentes nas suas músicas, que partem de um ponto calmo e introspectivo que, depois com a adição de progressivas camadas sonoras, aliada à entrada da bateria (normalmente numa parte mais avançada) e ao crescendo em conjunto, levam a que as músicas atinjam um outro estado de alma. Nada encaixa melhor neste exemplo que as músicas que completaram o arranque do concerto, ‘Untouchable Part I’ & ‘Part II’, do anterior ‘Weather Systems’, que foram cantadas em uníssono pela plateia, num daqueles momentos que dificilmente se esquecem.

É então que Vincent dá as boas noites ao público, anuncia que é o aniversário de Lee e introduz ‘Ariel’, com dedicatória a Tobel Lopes, uma das muitas músicas novas que apresentaram na sexta-feira. Mais uma malha causadora de arrepios, principalmente na parte em que Lee e Vincent intercalam as vozes, preenchendo uma muito bonita melodia.
Antes de arrancarem a ‘Lost Song Part 3’ confidenciam-nos que foi em Lisboa que a trabalharam, com o novo bateria (e anterior teclista) da banda, o “nosso” Daniel Cardoso, a ter um papel importante na mesma. 
É então anunciada ‘Anathema’ e, sendo esta uma música com o nome da própria banda, faz todo o sentido que tenha sido uma espécie de cartão de visita da banda, impregnado de ADN anathemático, incluindo um sentido solo de Danny, num dos melhores momentos apresentados nas novas músicas.
Explicando a importância que John Douglas (percursionista) teve desde o inicio da banda, Danny introduz ‘The Beginning and The End’, passando o referido John para a bateria, por troca com Daniel, que assume as teclas nas faixas seguintes, uma ‘Universal’ com um final apoteótico e a sempre hipnótica ‘Closer’, dando por terminado (a primeira parte) o concerto.
Após uma breve pausa, com o público (literalmente) derretido em simultâneo pela actuação e pelo calor, a banda- também com claros sinais de desgaste devido às condições do espaço – retorna ao palco com a formação inicial, para atacar um encore iniciado com a intro ‘Firelight’ antecedendo a música ‘Distant Satellites’, num dos momentos menos fortes da noite. Mas logo de seguida uma ‘Natural Disaster’ cantada em uníssono marcou outro ponto alto do concerto, e só quem lá esteve percebe o vibe que esta experiência acarreta. Não dá para descrever em simples palavras.
Logo de seguida mais uma nova, ‘Take Shelter’, atmosférica e electrónica, com vários arranjos especiais, como o Danny a tocar guitarra com um arco de violino (!), e despedem-se com o anúncio do after party, em que Danny seria o DJ, mas avisando logo que não atendia pedidos nem dava autógrafos, em tom de humor. 
Terminam com ‘Fragile Dreams’ num momento de celebração plena com o público.
Uma hora e quarenta e cinco minutos de concerto que ficaram a saber a pouco, como acontece sempre que não se quer que algo acabe.

Texto: Nuno Santos
Fotos: Joana Marçal Carriço (mais fotos no nosso facebook)

One comment to [Report] Anathema + Mother’s Cake @ Paradise Garage, Lisboa

  • Fabio Barros  says:

    Convinha averiguarem os nomes dos elementos da banda antes de publicarem o texto. Assim sabiam que a vocalista feminina de Anathema se chama Lee Douglas.

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