Um sábado (dia 27 de Junho) marcado pelos elevados níveis de mercúrio nos termómetros, praias cheias, trânsito, mega piquenique, golos, e Rock…muito Rock no RCA Club!
A selecção Sub-21 chegou à final do europeu mas quem levantou a taça foram os Dollar Llama.
Grand Union está já disponível para audição e encomenda online e pelo que a SFTD Radio assistiu não vai deixar ninguém indiferente!
A noite começou ao som dos Lâmina que aos poucos vão entrando no meio com cunho próprio. Depois de abrir para um nome tão sonante como é Acid King e terem já marcado a sua presença no Reverence Valada, a banda de Vasco Duarte vai deixando de estar intrinsecamente ligada aos projectos humorísticos do vocalista. Nem mesmo em dia de Mega Piquenique em Lisboa este filho ilegítimo de Tony Carreira ( Jean Carreira – uma das conhecidas caricaturas do vocalista ) virou costas ao Rock.
De guitarra em riste e após os primeiros acordes é inevitável pensar para os nossos botões : “Dá-lhe Falâncio!!”
O revivalismo 70’s, aquele alternativo e com níveis de coolness assinaláveis, está espelhado nos Lâmina que tal como exemplos sonantes como Graveyard e Kadavar, foram aos poeirentos LP’s guardados no sótão e voltaram às origens. O toque pessoal esteve na voz, com agudos distorcidos e bem trip-friendly…
“Big Black Angel” e principalmente “Cold Blood” serviram de chamariz para uma banda que está ainda a dar os primeiros passos mas que promete logo à partida.
Como ode aos deuses do metal, que sem dúvida, são a banda mais influente de quem caminhou pelas vertentes do riff pastoso, sujo e pesado, Black Sabbath foram dignificados com uma cover do seu ponto 0, o tema homónimo que faz calafrios desde 1970.
“What is this that stands before me?” – os Lâmina, e vieram para ficar!
Para a história terá que ficar, inevitavelmente, o momento em que Catarina Henriques ( conhecida pelo projecto Anarchicks ) se sentiu indisposta sem nunca comprometer a própria música num acto de pura entrega! Um corajoso esforço que não deixou o público indiferente. That’s Rock’n’Roll!!
De resto o seu papel na bateria foi essencial em toda a dinâmica sonora com que brindaram os lisboetas.
Apesar da vaga de stoner rock no nosso país, e da aposta de vários projectos em injectarem características doom com detalhes mais thrash ou pós-punk nas composições, o sludge sempre foi um género pouco influente nas bandas nacionais.
É certo que o NOLA style, que marcou uma geração muito graças ao papel do influente Phil Anselmo com a sua super-banda Down, caíu nas graças de um certo nicho de mercado mas nunca rompeu de forma visível no seio da música portuguesa.
Nesse aspecto, os My Master the Sun estão claramente a nadar contra a corrente mas o seu timing poderá ser mesmo o melhor e as tendências crescentes quer em casas como RCA e Sabotage, se fazem sentir em festivais como Reverence Valada, Amplifest e Primavera Sound (espante-se!).
Na mesma sala que receberá os ícones Eyehategod, os My Master the Sun apresentaram-nos um espetáculo bem mais denso que as restantes bandas do cartel.
Para além da vistosa camisa de Ricardo Falé, foi sua voz que se destacou ao longo de mais de meia hora de actuação. As influências de Adolfo Luxuria Canibal estão lá todas e os momentos ao estilo Mão Morta sublinharam as vantagens dos versos cantados na língua de Camões.
O EP MMTS, actual estandarte do seu rock pujante e pesado, foi apresentado em temas como “Se a Morte Chamar”, “Uno” e “Pó” que deu por terminada uma actuação que sem exagerar no psicadélico conseguiu deixar o público totalmente anestesiado.
Seguiram-se os nossos bem conhecidos The Quartet of Woah que teimam em continuar a sua gloriosa jornada conquistando novos fãs em todos os seus concertos sem nunca saturar quem não perde uma oportunidade de repetir a dose.
‘Ultrabomb’ foi considerado pela SFTD Radio como o melhor álbum do ano e a sua longevidade apenas sublinha tal distinção.
Frente ao palco já não verificamos o espanto de quem descobre a pólvora pela primeira vez, como outrora verificámos. Na passada noite de sábado a banda de Gonçalo Kotowicz e Rui Guerra teve direito a uma plateia rendida desde o primeiro momento, demonstrando que as letras estão decoradas assim como todas as melodias que exaltaram os corpos presentes nas primeiras filas. É uma honra ter uma banda dessa envergadura a abrir os concertos, seja qual for a banda.
A agenda menos composta nos últimos tempos explica-se pela “construção” do segundo álbum que nos faz desesperar de tanta expectativa.
Sem surpresas, temas como “How to Build a Bomb?” e “Taste of Hate” marcaram um concerto que primou pela descontracção e pelo bom ambiente. Não houve espaço para “The Path of Our Commitment”, a obra mais complexa e completa do seu repertório discográfico à data e mesmo assim a fasquia continuou intacta lá bem em cima. Não é qualquer banda que se possa dar ao luxo de descartar assim um trunfo.
“U Turn”, talvez pelo estatuto de single, continua a ser o tema escolhido para encerrar a actuação e as reacções do público foram claras.
O mote da festa era o lançamento do novo álbum dos Dollar Llama, Grand Union. No entanto, o que se comprovou foi uma noite de autêntica consagração de toda uma carreira.
A noite era deles e o entusiasmo em palco demonstrou bem que este foi mais um marco da história de uma banda que os têm vindo a conquistar passo a passo.
O turning point dos Dollar Llama estará certamente para acontecer num futuro próximo: a aposta de algumas rádios FM e online, da Raging Planet e de eventos com uma certa magnitude ( ex: John Garcia ) comprovam que a banda está a apontar armas para o topo.
No entanto, resumir a sua carreira ao que de futuro lhes espera seria desrespeitar um passado que deve ser relembrado e aplaudido pela humildade como seguiram o seu caminho e que, como de resto, fora demonstrado no documentário transmitido entre intervalos.
São já 13 anos de histórias, com intervalo é verdade, e com algumas mudanças no line-up, mas que sustentam o carinho do público que marcou presença em peso no RCA Club. A curta discografia apenas prova que não vivem disto mas vivem para isto. É cada vez mais difícil ir para estúdio, e a vida de estrada é a única forma de sobreviver no meio. Por isso, e por muito mais, foi uma noite de celebração!
Como manda a praxe, foi o tema de abertura do novo álbum, “Howl”, que proporcionou a primeira dose de riffs bem Sulistas e que se enquadram bem com o imaginário dos já citados Down, que Tiago Simões envergava como autêntica farda rocker.
O headbanging tornou-se uma constante e o air guitar viciante. O som guitar-driven bem característico das vertentes stoner assim o obriga.
Este segundo LP ( em 2006 Revolution FM foi lançado como EP), distingue-se num maior cuidado na sua produção e na criação de uma identidade sonora própria.
Grand Union foi apresentado na íntegra e de onde se destacaram momentos como “Jaws”, que tem já direito a vídeoclip e “Bloodthunder” que espelham bem o ritmo incansável de todo o álbum.
O tema que melhor explica as possíveis comparações aos norte-americanos Godsmack será sempre “Overrated” e é de facto legítima pelas similitudes vocais. De igual forma, e também de Under the Hurricane, “Never Forgive, Never Forget” arrancou um dos mais sonantes coros da noite.
“Noisecreep” teve direito a um convidado especial, Rui Guerra, o virtuoso teclista dos The Quartet of Woah. Sem se sobrepor ao som da banda não se fez sentir um verdadeiro acréscimo de valor musical, de certa forma, esta parceria foi um acto mais simbólico que prático até porque a sonoridade crua dos Dollar Llama não se enquadra facilmente com as harmonias das teclas.
Mas para a posterioridade o que permanecerá serão as memórias de barcos insufláveis pelo ar, de moshes amigáveis, de brindes e de boa disposição que, segundo a banda, foram gravados, quem sabe para um futuro videoclip.
O previsível encore fez desfilar “Days of the Highwatt” e “Alpha Blood” mas o ponto final da actuação foi feito ao som do single de 2009, “Deathblows”, o grande cartão de visita dos lisboetas.
Com este lançamento os Dollar Llama conseguiram fortalecer a sua discografia e subir de nível em palco.
Nada como o confirmar já no próximo dia 25 de Julho, no Side B, com Terror Empire e Voidust.
Texto: Tiago Queirós
Fotos: Nuno Santos (todas as fotos aqui)
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