Os noticiários nacionais perderam um furo jornalístico bombástico e a Songs for the Deaf Radio, em cima do acontecimento, pode confirmar que o no passado dia 18 de Abril, o Ritz Clube em Lisboa foi invadido por indivíduos de uma galáxia distante.
2.0.1.3. é o segundo álbum dos Noidz, e como o nome aparenta, é mesmo uma nova versão sonora, um update do sistema intergaláctico que busca referências terrestres em Lusitana pátria. Depois de alguma espectativa, finalmente aterrou de forma oficial.
Passaram mais de dois anos desde a apresentação de Great Escape na Aula Magna. Na altura o espaço fora ingrato para todos aqueles que queriam bater o pézinho ao som de um trance ainda muito pouco desprendido de D-Maniac, nome bastante acarinhado no meio em Portugal. No Ritz o palco fora demasiado pequeno para a megalomania apresentada pela banda, mas, à falta de cadeirões académicos, montou-se um dancefloor. E quem disse que a música pesada não pode ser também ela dançável?
O espetáculo montado passa muito pela atmosfera futurista implícita na caracterização da banda. No palco encontrávamos vários LCDs e uma armação envolvente à bateria que é já uma imagem de marca. «React», tema do novo álbum, serviu de presságio de uma autêntica viagem espacial. O espiritualismo típico de um trance psicadélico veio ao de cima com riffs metálicos que na voz feminina e envolvente de Biotika abria o concerto de forma carismática.
Estava feita a introdução do que estaria para vir. Uma setlist previsível mas de um profissionalismo que só abona a seu favor.
Quem tenha assistido de perto à evolução deste projecto pode afirmar sem complexos que os Noidz, estão melhores do que nunca. Sem por em causa o passado recente da banda, é visível uma melhoria ao nível da atitude em palco, mais à vontade e confiante naquilo que tão bem fazem. A experiência dos anos anteriores está a dar frutos, e não me refiro apenas ao conjunto mas também ao público, que depois de estranhar está finalmente a provar a máxima de Fernando Pessoa, e está a entranhar-se de forma única.
Ao contrário do ponto de comparação, por razões obvias, do caso dos Blasted Mechanism, a sua música está a ganhar cada vez mais força e , livre de preconceitos, explora cada vez mais uma liberdade criativa que só por si é digna do nosso respeito. Tenho para mim, que neste momento, este projecto está num patamar mais interessante.
Para os nossos leitores, é importante destacar também a nova faceta mais inclinada para o uso de riffs e solos complexos ao nível da guitarra (curiosamente decapitada; mais um adorno futurista a juntar ao leque infindável). Os breaks de bateria e as linhas de baixo elevam o peso.
Este update meteu pedras no bolso dos Noidz. Estão claramente mais pesados, não ao nível do trance mais sim do seu Rock industrial.
«Sonic Boom», tema do seu primeiro álbum ( The Great Escape), é um exemplo claro de um poderio crescente que vai buscar alguma da gestão de público digna de um Keith Flint e dum Maxim Reality (Prodigy) sem por de parte alguns elementos de um rock/metal industrial diferenciando-se do Big Beat do exemplo anterior. Se bem me recordo, «Breathe» fez parte da setlist da banda diversas vezes, e este tema vai buscar elementos semelhantes. Foi uma explosão de som que muito se deve a um Dr. Zee mais interactivo e dinâmico no frente a frente com os fans. “Lisboa…” bastava para criar uma certa proximidade.
Mais uma vez, o industrialismo teatral de Marilyn Manson encaixou no concerto com a cover de «The Beautiful People», mas «Wherever I May Roam», do comercialmente prestigiado Black Album dos Metallica foi o pico do sing-along em todo o espetáculo deliciando a multidão.
Temas como «Alien noidz» e «Decoding Code» são já familiares e festivaleiras no ponto, mas temas mais recentes como «Message to Earth» e «We are the Future» entram tão bem no ouvido que rapidamente criam um sentimento de familiaridade também.
Mas sejamos realistas, desde os tempos da Aula Magna que se especula sobre o que seria o próximo passo na carreira da banda em termos de originalidade e inovação. Relembro que nesta altura se lançava a versão do clássico dos Madredeus, «O Pastor» onde a banda ganhava voz e irradiava uma paixão pelas raízes nacionais. No Ritz este tema ganhou a dimensão de um épico, como merecido, sendo um dos picos da noite com a colaboração de Júlio Pereira e do seu cavaquinho.
Desta vez até Arlindo de Carvalho veio à baila, também cheio de elementos de outra galáxia, numa versão única de «Chapéu Preto».
Momento de ternura, de audácia e de arrepio na espinha, foi sem dúvida, com a entrada de Katia Guerreiro em palco, a versão de «Estranha Forma de Vida». Poucos se atrevem a tocar num hino universal da música da saudade. Ainda menos se atrevem a dar-lhe uma nova roupagem. Sem dúvida o momento mais especial da noite onde foram reis em plena Baixa Pombalina. Os aplausos apenas o comprovaram. Fez-se barulho porque se cantou o Fado.
O encore lançado serviu de contagem decrescente para soltar o momento chave dos seus concertos, «Roots Sounds from Earth» serviu-se em tom de festa numa noite que certamente criou moral para esta nova realidade espacial. Mais uma vez digo, há qualquer coisa de viciante naquela gaita-de-foles.
A dinâmica e o espetáculo em si apenas provaram que se ambiciona mais e melhor. Que as promotoras estejam atentas, e que a Songs for the Deaf esteja lá para o confirmar.
Texto / Vídeos : Tiago Queirós
Fotos / Videos : Nuno Santos
(Todas as fotos AQUI)
Leave a reply