A contagem decrescente para esta passagem dos Iron Maiden foi feita numa escala ansiosa de meses. Encher o Pavilhão Atlântico ( agora denominado de Meo Arena) era uma certeza quase absoluta que veio a ditar uma procura intensa logo nos primeiros dias, no fim de contas trata-se de uma das maiores bandas de heavy-metal à face desta Terra (e de outras tantas possivelmente). As previsões cumpriram-se, e a mancha negra, mais uma vez, não perdeu a oportunidade de se reunir numa comunhão que já se pode considerar familiar onde as diferentes gerações não se distinguiram nos sucessivos coros que se verificaram ao longo do concerto.
Seventh Son of a Seventh Son é para muitos o pico da carreira discográfica dos britânicos, e um momento de viragem no imaginário heavy metal da época. Já lá vão 25 anos desde 88 e as memórias do Dramático de Cascais são já vagas. O mundo entretanto mudou drasticamente (basta vermos que nesta altura ainda existia o tão afamado Muro de Berlim) mas a maiden-o-mania manteve-se fiel em resposta à lealdade dos próprios Maiden. A verdade é que temos poucos exemplos do que se pode considerar clássicos num pós-Seventh Son, mas se na altura se estranhou a presença de sintetizadores, hoje aplaude-se a perspectiva progressista na sua sonoridade como um belo exemplo da evolução do New Wave of British Heavy Metal. Um remake desta tour era sem dúvida um presságio de uma noite memorável.
A Songs for the Deaf Radio, como grande parte dos seus seguidores, não podia ter perdido esta oportunidade de assistir de perto ao possível concerto do ano. Assim sendo, marcou presença tanto na plateia como no balcão para tirar partido de toda a experiência que um concerto desta envergadura poderia oferecer. Apesar do trânsito nas imediações e da constante ameaça de mau tempo (S. Pedro têm de fazer muito melhor para desencorajar esta gente!), já se encontrava um Pavilhão bem composto quando os Voodoo Six entraram em palco com um álbum de estreia que apaixonou Steven Harris e que certamente ganhará uma grande visibilidade graças a esta tour europeia conjunta.
A sua mistura de Hard Rock britânico com um Heavy Metal clássico encaixou bem caindo nas graças daqueles que queriam guardar desde cedo um bom lugar na frente. Luke Purdie demonstrou a sua simpatia em palco puxando pelo público, com a eterna dificuldade de uma banda de abertura, tentando por breves momentos captar atenções para o espectáculo em palco sem esquecer o saudosismo praxe, algo obrigatório na posição em que se encontram (só ficam a ganhar) relembrando quem pisaria o palco pouco tempo depois. Será que haveria alguém ali perdido a esse ponto? Não há qualquer dúvida – era impossível dado a quantidade industrial de merchandise que o público fez questão de tirar do armário. Há cerimónias de gala com menos gravatas!
A sua mistura de Hard Rock britânico com um Heavy Metal clássico encaixou bem caindo nas graças daqueles que queriam guardar desde cedo um bom lugar na frente. Luke Purdie demonstrou a sua simpatia em palco puxando pelo público, com a eterna dificuldade de uma banda de abertura, tentando por breves momentos captar atenções para o espectáculo em palco sem esquecer o saudosismo praxe, algo obrigatório na posição em que se encontram (só ficam a ganhar) relembrando quem pisaria o palco pouco tempo depois. Será que haveria alguém ali perdido a esse ponto? Não há qualquer dúvida – era impossível dado a quantidade industrial de merchandise que o público fez questão de tirar do armário. Há cerimónias de gala com menos gravatas!
Percorreram-se picos de «Songs to Invade Countries» e «Fluke» culminando com o momento mais interactivo com «Long Way From Home».
O intervalo desrespeitoso do concerto do dia anterior, também na Meo Arena, contrastou com a pontualidade britânica de uma banda que prime pelo profissionalismo em prol do vedetismo barato. Tal como se assume que «It’s a Long Way to the Top ( If You Wanna Rock’n’Roll)» dos AC/DC antecede subtilmente a entrada Morriconiana/ Leonesca de «Ecstasy of Gold» nos concertos dos Metallica, muitos deram de si aos primeiros acordes de «Doctor Doctor» dos velhinhos UFO, pioneiros a par de clássicos venerados como Led Zeppelin, Black Sabbath ou Deep Purple. A própria banda de Bruce Dickinson e Cª têm uma cover deste tema na sua bem composta discografia.
O calor humano de um pavilhão completamente esgotado, deu início a um degelo apresentado nas telas onde o HD certamente deu um novo brilho a uma introdução que ao vivo cria um certo arrepio na espinha. A setlist era previsível e tal como no álbum, «Moonchild» iniciou uma sequência disparando sucessivamente os níveis de intensidade na plateia. O misticismo implícito neste sétimo álbum da banda ganha uma nova dimensão com o cenário apresentado, numa versão a três dimensões do artwork que é sem dúvida uma das suas imagens de marca. Segui-se «Can I Play With Madness», do mesmo álbum, onde se sentiu que se o entusiasmo do tema inicial fora em parte fruto do timing, este fora incontestavelmente pelo agrado de um ataque rompante a um dos singles de maior sucesso de Seventh Son of a Seventh Son.
«The Prisioner» foi um dos brindes que o Sr. Harris antecipava, e que deliciou os fans. Number of the Beast ainda hoje é apontado como um dos melhores álbuns da história metaleira, e no meio de tantos temas fortes, este infelizmente é de certa forma uma raridade.
Ainda bem longe da meia-noite, Janick Gers ataca o riff de «2 Minutes to Midnight» sendo o refrão cantado por milhares. Uma passagem quase obrigatória por Powerslave, sendo de certa forma uma constante ao vivo ao fim de tantos anos.
No primeiro discurso da noite, Bruce Dickinson dá ênfase ao tema seguinte. «Afraid to Shoot Strangers» é um tema belíssimo, que acabando por quebrar um pouco do ritmo dos temas iniciais acrescentou uma dose de emotividade ao público com um solo inicial que cria um efeito nostalgia que nada têm a ver com a sua idade. Na realidade, este foi dos poucos temas apresentados do pós-80’s. Qual seria o outro? Uma pista: é do mesmo àlbum… mas ficou para mais tarde.
Esta vaga poderia ter sido preenchida quem sabe por um «Children of the Damned» mas ninguém saiu a perder.
Daqui para a frente o tempo passou em fast-foward num desfilar de êxitos inacreditável, bem longe da setlist rebuscada da Concentração Motard de Faro, ou de temas inseridos quase obrigatoriamente como no Super Bock Super Rock ( obviamente dado o contexto dessa tour).
Esqueceram-se todos os álbuns pós-92 e saltou-se No Praying for the Dying: Êxitos atrás de êxitos.
Citando Lord Tennyson, todo o imaginário da Guerra da Crimeira, com a farda condizente e de bandeira em riste, «The Trooper» saí das do twin attack dos guitarristas Dave Murray e Adrian Smith de forma electrizante – “You’ll take my life but I’ll take yours too” sai de forma espontânea da multidão e é apenas comparado ao cantarolar constante das linhas de guitarra.
O galope constante de Steve Harris no baixo é hipnotizante e catalizador frenético ditando muito da sonoridade da banda que muitos arriscam afirmar ser a maior do Heavy Metal mundial.
A introdução já não surpreende ninguém e é também ela citada em coro: «The Number of the Beast» obriga todo o ser presente, até mesmo o mais puro sacristão a erguer o punho de indicador e mindinho apontados para o palco. O jogo de luzes e os cenários recriaram mais uma vez um ambiente fantástico. 666 (six six six) deixou à muito de ser uma referência Bíblica, é uma referencia do universo Maiden.
«Phantom of the Opera» tinha sido um dos marcos da ultima passagem da banda pelo mesmo recinto, e mais uma vez foi muito bem recebida. Se desde 88 muita coisa mudou, 1980 … é obra conseguir a formula da juventude nestes temas. Paul Di’Anno lançou o tema, mas na voz de Bruce parece ganhar uma outra dimensão. Uma prestação invejável. Imparável, apenas alvo de críticas por aqueles que já não conseguem baixar a fasquia do topo. Nada como assistir a Rob Halford dos Judas Priest em acção… Não são comparáveis, mas é simplesmente um aspecto a valorizar.
«Run to the Hills» foi inquestionavelmente um dos momentos auge da noite com o (mítico Eddie em palco sem dar tréguas à banda, principalmente ao Janick Gers) seguida pelo fingerpicking inconfundível de «Wasted Years» o tema mais radiofónico ao longo destas décadas.
Obrigatória mesmo, visto baptizar a própria Tour agora revisitada, «Seventh Son of a Seventh Son» apresentou-se como a experiência quase religiosa. O conceptualismo do tema aliado aos efeitos do órgão criaram um ambiente digno de ceita espiritual. Os aplausos demonstraram o quanto grato o público estava.
«The Clairvoyant» apesar da temática soa alegre e despreocupada. Ao vivo soa ainda melhor.
Numa febre transmitida da América do Sul, não sendo caso único (veja-se o caso dos Megadeth), o público virou instrumento à primeira nota de «Fear of the Dark» – o tal tema pós-80’s que faltava.
Um momento que ultrapassa gerações, e que só prova o impacto que os Iron Maiden continuam a ter nas gerações mais novas.
«Iron Maiden» fechou a recta infalível despedindo-se a banda ao de leve, onde a realidade veio ao de cima a muita gente. “Já?!”… Ainda não tinha acabado e muitos já sentiam a falta do pouco carinhoso Eddie. Valha-nos o Encore da praxe.
Como vai sendo habito, três temas apenas. «Aces High», que abriu na ultima passagem por Lisboa, usa a pirotecnia a seu favor, que na linha da frente fazia a temperatura subir bastante mas que é dá um belo toque de espectáculo.
«The Evil That Man Do» revela-se o tema com maior reconhecimento do álbum celebrado. Ninguém quis poupa os ultimos cartuchos guardados, e muitas cordas vocais forma perdidas. Terminando onde tudo começou, «Running Free» é entretenimento puro. Feitas as apresentações desnecessárias, a banda despediu-se. Há toda uma tour pela frente, e ainda agora começou.
Por breves momentos acreditou-se num possível segundo encore, onde muito se desejava «Hallowed be Thy Name», mas consta que nessa altura já a banda se encontrava na carrinha num plano de fuga com um truque bem simples que enganou milhares de pessoas. São muitos anos!
Os Iron Maiden marcaram assim mais uma passagem pelo nosso país e desta vez com um espetáculo mais composto e ambicioso, aliado a uma setlist em formato best-of onde os álbuns clássicos provaram mais uma vez serem obrigatórios na prateleira de um metaleiro que se preze. Infelizmente, e como vai sendo habitual, constataram-se várias deficiências ao nível da projecção do som.
Up the Irons!
Texto : Tiago Queirós
Videos : Nuno Santos
Adorei o concerto, consegui ficar praticamente na primeira fila da plateia em pé, foi um momento que nao esquecerei de certeza. O som estava excelente nessa zona e conseguia-se perceber cada nota dada.
Muita boa reportagem, videos com boa qualidade. Gostei de ler e de rever alguns dos momentos passados nessa noite.
Up the irons! m/
Grande reportagem Eu estava no balcao e notava-se alguns problemas de som, mas isso nao impediu a grande festa e mais toda a gente nos balcoes esteve sempre de pe. Foi fantastico
Eu fui!