[Report] Overkill, Prong, Enforcer e Darkology @ Paradise Garage

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O concerto dos OVERKILL em Vagos não deixou à banda qualquer possibilidade de evitar uma passagem pelo nosso país nesta Tour europeia.
Para a história prevalecem as memórias, de quem mais vibrou com o thrash velha guarda sempre fiel a si próprio. Acontece que neste caso em concreto há uma base extremamente credível que sustenta o saudosismo de tal noite. Passaram apenas dois anos e a reacção do público fez-se notar, de forma massiva, com lançamento desta data: Portugal queria ainda mais Overkill.
Tendo isso em conta, a Prime Artists não deixou escapar esta oportunidade de brindar da melhor forma os metaleiros portugueses, do mais velho ao mais novo, com um nome bastante respeitável no meio.

Por isso mesmo, foi sem surpresa que nos deparámos com uma bela multidão frente à mítica sala alcântarense. A enchente que se viria a registar deu continuidade à tendência de esgotar (ou pelo menos aparentar ser fisicamente impossível entrar mais gente) como o que recentemente se verificou com Anathema e facilmente se verificará com Amon Amarth, por exemplo.
O mercado pode estar saturado ou em baixo em várias gamas de oferta, mas a este nível há uma grande procura não haja dúvida (o referido promotor trouxe àquela sala, nos últimos anos, nomes como Trivium, Meshuggah, Satyricon, Sepultura, Children of Bodom, Hypocrisy, Fear Factory, etc..).
A primeira banda de fim de tarde/noite evitou o sofrimento do público leonino presente que em vez de desgraças assistiu a um belo concerto a cargo dos Darkology que buscaram relembrar o público o que, numa primeira fase, transportou grande fatia dos presentes para o mundo da música pesada.
O mais recente álbum destes texanos, ‘Fated to Burn’, está acabadinho de sair e dá agora os primeiros passos na estrada. Tivemos uma bela apresentação de uma banda que demonstra querer dar tudo para romper no meio e ir mais longe ao fim de uma década de carreira.
Os Enforcer brindaram a sala com um revivalismo que não consideram old-school, pois a seu ver o género é intemporal, mas que relembra uma sonoridade próxima de uns Anvil, com muito tradicionalismo na arte de “riffar” a guitarra. Tanto pendia para um speed metal como para uma espécie de New Wave of British Heavy Metal que contrastava com o aspecto juvenil dos elementos da banda que claramente entraram no DeLorean na estreia do “Regresso ao Futuro” em 1985. Será que os suecos ainda deliram com essa incrível invenção que é o walkman?
“Mesmerized by Fire” que abriu as hostilidades, é um exemplo concreto de pormenores claros do que outrora nos fascinou em nomes como Judas Priest e Iron Maiden.
Uma coisa é certa, são concertos que raramente falham e este foi mais um exemplo que em caso de dúvida para opening acts, inserir thrash/hard/Heavy ou algo em redor. Engane-se quem pense que se trata de uma abordagem irónica, pois não o é de facto. Enquanto meio mundo pretende reinventar a roda, os Enforcer vão por outro lado…
Temia-se um concerto bem menor do que deram na República da Música, mas apesar de tudo ainda tocaram 10 temas onde se destaca a cover de “Countess Bathory” do álbum, bastante influente, Black Metal dos Venom.
Os rasgos de hard rock complementaram toda a atitude em palco. “Midnight Vice”, tema que fechou a sua actuação, foi a prova disso mesmo.
Apesar de apresentar alguns temas do seu ultimo álbum Death By Fire, não descuidaram ao trazer em bagagem temas dos dois álbuns anteriores.
Seguiram-se os nova-iorquinos Prong, cuja inclusão neste quartel se mostrou um óptimo pretexto para relembrar o seu peculiar trabalho de estúdio. Uma banda cuja instabilidade se revelou determinante na sua evolução. O distanciamento com o nosso país também não ajudava a ter por certo um núcleo de fãs portugueses. Foi a estreia dos Prong no nosso país e o número de pessoas que se mostravam em sintonia com a banda fora algo surpreendente.
Uma performance bem ao estilo americano, na perspectiva de entretenimento puro, algo que por vezes falta em certas bandas que se descuidam neste aspecto.
A terminar em beleza “Snap Your Fingers, Snap Your Neck”. O seu ritmo contagiante fez relembrar algumas linhas dos Nine Inch Nails aos quais não se pode descartar Prong como uma influência musical. Sem dúvida o momento mais efusivo do seu concerto que se revelou de grande nível e perfeitamente contextualizado com todo o ambiente clubbing do Paradise Garage.
Uma bela tentativa de conquistar o público português a nomear este o concerto da noite. Um esforço legítimo, tentando a sua sorte caso o concerto dos headliners fosse uns pontos abaixo do previsto. O público aplaudiu de forma sentida, mas a noite acabou por nos oferecer o resultado previsto. Overkill a vencer exercendo uma força excessiva para além do necessário para alcançar o objectivo, tal como o nome indica.
Sem arredar um centímetro, até porque seria terrivelmente complicado, o público deixou-se ficar instalando-se um sentimento de contagem regressiva no ar.
Prestes a subir ao palco estavam um dos nomes históricos da cena thrash-metal, símbolos de identidade própria mas sempre dentro das linhas que limitam o género em si.
Na figura de Bobby Ellsworth encontramos um ícone da história do Metal. Algo que em caso algum é desfavorável. Não descurando a influência de DD Vernil nos alicerces da banda, obviamente.
Em Vagos a promotora tinha-nos brindado com um grande concerto de Annihilator a representar esta vertente que tão facilmente se cruza com todos os estereótipos do metal.
O que falta aos Annihilator em possíveis noites menos boas (no Vagos foi demasiado perfeito para ser sempre assim..) tem os Overkill para suportar momentos menos empolgantes- uma figura que é alvo de todos os olhares.
Com a entrada de todos os elementos da banda em palco verifica-se o entusiasmo habitualmente guardado para o headliner.
A introdução do mais recente álbum White Armory Devil, “XDM”, deu lugar a uma entrada a rasgar com o mais recente single “Armorist” que demonstra bem a recepção deste ultimo trabalho pelo público português.
A contrastar directamente, recuou-se 17 álbuns e quase 30 anos para “Overkill” que deliciou o público mais old-school por vezes desligado com o que se passa de mais recente neste mundo do metal.

Apostando numa entrada de forma a garantir grande parte do espectáculo logo à partida, a banda de Nova Jérsia atacou “Electric Rattlesnake”, que tanto rodou nos tempos mortos no Vagos Open Air. Muito provavelmente o tema que para a história se destacará nesta fase da carreira. O sentimento de clássico precoce demonstra o respeito que há pela banda querendo o público interagir com ela seja em que fase for. Se muitos vieram deste single e saltaram para “Elimination” e o bichinho despertou, é porque as coisas estão a ser bem feitas. Tudo o resto não interessa, sejam bem-vindos à família!

Seguindo uma lógica na sequência de temas por álbuns, estava na vez de um tema no segundo álbum, Taking Over, quando o thrash era uma novidade com níveis de expansão como nunca dantes vistos na história do Metal. “Wrecking Crew” foi a eleita. Um tema que soa a lição de história. Nesta podemos fazer air guitar sem sermos expulsos da sala. Apenas comparável a “Rotten to the Core” nesta primeira metade de concerto.
No meio da multidão, era visível a agitação de um mosh-pit intenso. Respirou-se metal no Paradise Garage.
Nos momentos seguintes o público pareceu pagar um pouco da factura de tanta metalada junta, quebrando o ritmo que apesar de tudo era feito ao som de ” Bring Me the Night” e de o old-school de Under the Influence ( um clássico obrigatório) com “The End of the Line” cantado em coro.
A dinâmica de discoteca, com o bar sempre ali ao lado cria um certo desconforto em certas zonas sendo propício a que muita gente se distraia do concerto em si. A figura do mítico frontman suporta tudo com grande classe. A realidade é que os Overkill já têm de jogar seguro nos temas de modo a criar uma estrutura de concerto capaz de justificar o estatuto de histórico. Assim o fazem é por isso aplaudimos.
Sem desgastar em demasia um público que quer hits, os thrashers demonstraram-se profissionais, sem grande entusiasmo aparente, curiosamente.
Possivelmente se deva às graves falhas técnicas no som que se verificaram por vezes em alturas chave da setlist, algo que põe em causa muito do trabalho investido para proporcionar um bom concerto.
“Hello From the Gutter” foi visivelmente um dos tais temas que o público aguardava mas “Ironbound”, já de uma era Nuclear Blast, colou na perfeição antecipando uma despedida pouco dada a alaridos.
O encore apesar de previsível era o espelhar da wishlist de muitos de nós. É certo que há sempre alguém que gostaria de uma “Old-School”, por exemplo, mas não ficou mal servido certamente com uma bela dose de “Bitter Pill” juntamente com o tema chave de toda a sua carreira e um clássico obrigatório da história do thrash metal : “Elimination”. Facilmente se compreende o caos de uma sala cheia com tamanha descarga de adrenalina. Um momento que soube a brinde num fim de semana que esteve em grande para a comunidade metaleira da zona de Lisboa e Margem Sul.
“Fuck You”, diversas vezes requisitada foi guardada como cereja no topo do bolo. De dedo bem estendido lá nos despedimos de sorriso nos lábios. Uma belíssima noite que certamente permanecerá nas nossas memórias. 
Uma banda que nunca esteve na ribalta como os mediáticos Big 4 mas que em contrapartida sempre estiveram no activo com uma certa regularidade no que toca a lançar álbuns, 17 em 28 anos, assim como na estrada a proporcionar momentos como o que assistimos pelo mundo fora. Os anos 80 já vão distantes mas estes rapazes são sobreviventes e carregam bem a cruz de demonstrar o que foi o thrash nessa áurea época.
Texto: Tiago Queirós

Fotos: Marta Louro (veja todas as fotos da nossa página no facebook, abaixo)

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