[Report] Páscoa no Inferno Metal Festival 2015 (exclusivo SFTD em Oslo)

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Oslo (Noruega) – Certamente já deverão ter ouvido vezes sem conta a expressão “vai para o inferno!”, eu mesma já passei por essa experiência, mas com tempo e antecedência, resolvi agendar e preparar a ida para um outro tipo de inferno, mais fantástico e melhor que o inferno apocalíptico referido em geral.
Fantástico porquê? Porque tem música, diversão, muitas pessoas satisfeitas com um cartaz repleto de bandas a proporcionarem momentos grandiosos e únicos nas nossas vidas. Tudo isto naquele que é já considerado um dos melhores festivais indoors na Europa, refiro-me obviamente ao Inferno Metal Festival, na cidade de Oslo, Noruega, que decorre sempre em plena época de Páscoa, cujo cartaz para este ano superou todas as expectativas, em jeito de celebração do 15º aniversário em grande e foi o seguinte: 
Dia 1 – Solbrud, Naglfar e Arcturus na Vulkan Arena; Misþyrming, Sinmara e Svartidauði no Pokalen; The Osiris Club, Patria e Blodhemn no John Dee; Galar, Momentum, Krakow e Taake no Blå.

Dia 2
– Execration, Septicflesh, 1349 e Behemoth no Rockefeller; Haemophagus, Inner Sanctum, Antichrist e Ensiferum no John Dee; Doomraiser no Revolver; Virus e Vulture Industries na Kulturhuset.
Dia 3 – Goatwhore, Skeletonwitch, My Dying Bride e Enslaved no Rockefeller; Ade, Crescent, Dødsengel e Sargeist no John Dee; Sheol no Revolver.

Dia 4
– Secrets Of The Moon, Kampfar, Dødsheimgard e Bloodbath no Rockefeller; IXXI, Deathcult (CH), Slagmaur e Mortuary Drape no John Dee; Sectu no Revolver.

Cheguei a Oslo dia 31 de Março ao final do dia, mesmo a tempo de começar a jornada infernal no Revolver Bar, a fim de assistir à actuação dos Den Saakaldte, Svartjern e Djevelkult, boas bandas de black metala apoiarem-se umas às outras em estilo de combate, mostrando a sua força e poder musical para o público, como pré-aquecimento para os dias seguintes que prometiam ser arrasadores em termos de corpo e espírito. 
Os Den Saakaldte são uma banda de black metal formada em 2006 e que conta com três álbuns no seu currículo, “Øl, mørke og depresjon” (2008) , “Hall Hail Pessimism” (2009) e “ Kapittel II: “Faen i Helvete” (2014), estando ainda a promover este último trabalho e foi com o tema de abertura “Din Siste Dag” que os Den Saakaldte tiveram desde os primeiros minutos um público bastante contemplativo e apoiante na sua mão até ao final do concerto.
Destaque para o momento alto da noite, quando o vocalista Eldur anunciou o tema “Djevelens Verk”, dedicado ao pai do guitarrista Sykelig, que faleceu recentemente, e de seguida a banda recebeu uma grande salva de palmas do público. Gostei do concerto e espero que a banda venha actuar no nosso país e recomendo para apreciadores do género.
Após o concerto, meet n’greets aqui e ali, o corpo pedia descanso pois a semana prometia e não era pouco, mas dada a variedade do cartaz e diversos programas desde exibições de filmes e exposições de artworks passando por conferências, foi difícil escolher entre esta e aquela banda, se bem que já tinha uma ou outra actuação a não perder de vista.
Muito bem, decidi-me pelo Rockefeller, onde iriam actuar os cabeças de cartaz do festival e gostaria de salientar que Oslo é uma cidade pequena e fácil de percorrer e sobretudo é acolhedora, e nesta altura, encontra-se coberta de negro devido aos mais de mil metaleiros de vários cantos do mundo, já não digo de branco porque a neve estava a derreter, dando lugar ao verde primaveril, deixando antever as belíssimas paisagens dos fjordes.

Dia 1 – 01/04/2015

Um dia difícil devido à variedade de escolhas e era difícil recusar um convite de uma banda para degustação da sua própria cerveja, neste caso, os 1349 e a sua 1349 Black Ale no Café Fiasco, com a presença de duas bandas convidadas a animar o serão, os Frostheim e os Draug, e a minha dúvida consistia em tentar ser o mais breve possível para conseguir ver pelo menos o último concerto do Club Day, os Arcturus na Vulkan Arena. Sendo assim, não consegui marcar presença nos concertos alusivos à Indie Recordings  Night Label, em especial o concerto da banda brasileira de black metal, Patria, a estrearem-se em solo norueguês/europeu. Paciência, fica para uma próxima oportunidade.
Perto das 00h00 e com umas 1349 Black Ales no estômago (não foram assim tantas, é favor não interpretarem tão à letra ou eu estaria em coma com essa quantidade, muito bem, foram umas 3, hehe), passo apressado em direcção à Vulkan Arena, consegui chegar em cima da hora de início da actuação dos Arcturus e miraculosamente um bom spot para delirar com o concerto, já os islandeses Svartidauði tinham dado conta do recado no espaço Pokalen, uma pequena sala anexada à Vulkan Arena.
 
Arcturus
Os Arcturus, liderados pelo genial vocalista Simen “ICS Vortex” Hestnæs (ex- Dimmu Borgir), e com o lendário baterista Jan Axel “Hellhammer Blomberg (esse mesmo, o baterista dos também lendários Mayhem), deram um grande concerto, hipnotizando os presentes com temas dos álbuns”Aspera Hiems Symfonia”, “ La Masquerade Infernale”, “Sideshow Symphonies” e “The Sham Mirrors”, e ainda apresentaram um tema novo “The Arcturian Sign”, que fará parte do novo álbum intitulado “Arcturian” com data de edição prevista para o dia 8 de Maio, via Prophecy Productions. Tive acesso à setlist do concerto e foi a seguinte: “Evacuation Code Deciphered”; “Nightmare Heaven”; “The Arcturian Sign”; “Painting My Horror”; “Deamon Painter”; “Alone”; “The Chaos Path”; “The Code”; “Sickness Hibernation Complete”; “Master Of Disguise”; “Wintry Grey/Du Nordavind/ Morax” e “Shipwrecked Frontier Pioneer”.
Será necessário dizer que saí da Vulkan hipnotizada e com a alma cheia? Espero voltar a ver Arcturus em breve.

Dia 2 – 02/04/2015

Execration
Estabelecida uma rotina diária que consistia em fazer turismo, visitando alguns lugares obrigatórios em Oslo horas antes da romaria ao Rockefeller para os concertos principais, não convinha esquecer uma visita  à tão famosa Helvete, agora Neseblod Records, loja de discos e museu do black metal; cheguei ao dia 2, um dos mais importantes na minha opinião, pelo facto de rever Septicflesh e 1349, com estes últimos a apresentarem na íntegra os temas cozinhados do seu último opus “Massive Cauldron of Chaos”.
A abrir as hostilidades no palco do Rockefeller esteve a banda de death metal vencedora de um Grammy norueguês para o melhor álbum de metal de 2014, os Execration, que aproveitaram bem a ocasião para apresentar de forma bem enérgica o seu mais recente trabalho “Morbid Dimensions” e que vale bem a pena ser ouvido e a banda merece mais oportunidades ao vivo.
 
Septicflesh
Em seguida os mestres do death metal sinfónico, Septicflesh puseram a assistência em delírio, deitando achas na fogueira, com o seu último trabalho “Titan” (2014) nas suas munições, disparando com “War In Heaven”, passando pelos clássicos como”Communion”, “Lovecraft’s Death”, “The Vampire From Nazareth”, intercalados entre os vários temas de “Titan” e finalizando em apoteose com “Prometheus”. O vocalista Seth Siro referiu a satisfação de fazerem parte do cartaz do Inferno e também com o feedback que estavam a ter em relação ao último álbum e ainda aproveitou para apresentar ao público o novo baterista da banda, Khrim,  provou que é um sucessor à altura de Fotis Benardo. Foi caso para dizer que os Septicflesh chegaram, tocaram e venceram.

Para terminar em cheio o meu dia, a surpresa maior estava reservada pelos 1349 que incendiaram por completo o Rockefeller. Tinha curiosidade em saber como a banda iria apresentar na íntegra o seu “Massive Cauldron of Chaos” mesmo a debitarem temas clássicos na abertura, após a aparição do baterista Frost e do guitarrista Archaon a cuspirem fogo para a assistência, “Riders Of The Apocalypse” deu o mote para a destruição, seguido de mais cinco temas antes do domínio total da fervura de efeitos pirotécnicos do caldeirão caótico, devo dizer que nunca me tinha sentido assim tão quentinha desde um concerto de Rammstein tal era a intensidade do calor provocado pelas chamas ardentes que volta e meia surgiam durante o concerto. 
Ravn e seus acólitos puseram a audiência ao rubro, contando com a ajuda do guitarrista convidado, Destructhor (Myrkskog), não deixando ninguém indiferente à sua marca infernal. No comunicado que a banda fez, previam incendiar o Rockefeller, no bom sentido, pois claro, cumpriram com cada palavra proferida tal e qual uma sentença. O concerto foi intenso do princípio ao fim e os vestígios do incêndio foram estes: “Riders of The Apocalypse”; “I Am Abomination”; “Sculptor of Flesh”; “Chasing Dragons”; “Serpentine Sibilance”; “Atomic Chapel”; “Cauldron”; “Slaves”; “Exorcism”; “Post-Mortem” ;  “Mengele’s” ;  “Golem”; “Chained” e “Godslayer”.

Se para uns, 1349 encerraram em beleza o dia, para outros foi o regresso dos polacos Behemoth que fizeram a festa com mais um grandioso espectáculo repleto de efeitos pirotécnicos, assim que soaram as primeiras notas de “Blow Your Trumpets Gabriel”, já eu tinha ido recarregar as baterias. Já vi Behemoth ao vivo e tenho consciência do potencial indiscutível da banda, mas não sou fan, apesar de os respeitar.

Dia 3 – 03/04/2015

Goatwhore
Este dia foi para matar as saudades de duas grandes bandas, My Dying Bride e Enslaved, e conhecer outra, Goatwhore. Devido ao cansaço que eu começava já a sentir, resolvi instalar-me confortavelmente no segundo balcão, perto dos bares, e apreciar de forma relaxada e mais contemplativa os concertos.
Escusado será dizer que estas três bandas fizeram as delícias de muitos fans, os norte-americanos Goatwhore abençoaram tudo e todos com o seu blackened death thrash metal naquela que foi  a sua estreia pelo Inferno e nem mesmo uma corda partida do baixo os demoveu. O segredo foi reagir com uma dose de bom humor negro e continuar a contagiar o público com a sua energia e o vocalista Bem Falgoust tem jeito para entretenimento, muito headbanging acordou o público, rendição total. Não é em vão que são consideradas uma das melhores bandas do género.
 
My Dying Bride
Mais tarde os lendários britânicos reis do doom metal, My Dying Bride reinaram na sua hora com bastante romantismo teatral a que já estamos habituados, as saudades já eram muitas e “Your River” iniciou uma belíssima actuação em que a banda provou estar em plena forma, não faltando clássicos como “The Songless Bird”, “Turn Loose The Swans”; “ She Is The Dark” ou mesmo o meu favorito “ Like Gods Of the Sun”. Mais uma rendição do público que contemplou cada movimento, cada gesto e a total entrega de Aaron Stainthorpe e seus comparsas na subtil arte de encher de emoções os corações dos seus fiéis seguidores. Gothic doom no seu melhor.
A promover o novíssimo e décimo terceiro longa-duração da sua carreira, “In Times”, os pioneiros do viking progressive black metal  Enslaved tomaram de assalto o Rockefeller, suspiros aqui e aplausos ali. Grutle Kjelsson é um frontman que desempenha o seu papel  de contador de histórias na perfeição. Enslaved entraram a rasgar com “Thurisaz Dreaming”, tornou-se óbvio que a audiência estava mais do que satisfeita por ver uma das suas bandas favoritas ao vivo, e foi mais um concerto de sonho a que tive o privilégio de contemplar.

Dia 4 – 04/04/2015

O último dia do festival tinha tudo para terminar em grande com um regresso há muito esperado e uma estreia que despertava curiosidade. Refiro-me aos também lendários Dødheimsgard, que estão de regresso com um novo álbum denominado “A Umbra Omega”, que é pura e simplesmente uma maravilha e aconselho os apreciadores do género black/avant-garde/industrial a darem uma oportunidade a esta banda. A estreia estava reservada para os suecos Bloodbath. Já lá vamos.
Comecei por apreciar o concerto dos germânicos Secrets Of The Moon, não conhecia e fiquei fan, são daquelas bandas que nos prendem a atenção e nos levam para diferentes lugares.
Em seguida nem houve tempo para respirar, mais uma banda invadia o palco e que invasão, que concertão, nada de distracções na actuação dos Kampfar (na foto do topo do artigo), mais efeitos pirotécnicos de arrepiar, ainda não tinha visto nada do género, chamas a virem dos lados com tal intensidade. Aconselho vivamente a quem ainda não teve a oportunidade de ver estes fantásticos nórdicos a darem o seu melhor em termos de energia a todos os níveis. Primeiro estranha-se em audições, mas ao vivo, a história é diferente, entranha-se logo de tal modo que nos faz querer ouvir e recordar os arrepios na espinha…
Dødsheimgard
Passando das histórias de folclore pagão e mitologia nórdica dos Kampfar, chegou a vez dos Dødheimsgard cativarem o público e deixarem a sua música falar por si. Os génios Aldrahn e Vicotnik provaram que ainda conseguem transportar-nos para mundos diferentes com as suas influências algo jazzísticas de uma forma progressiva e estas fusões resultam quando bem executadas, logo quem aprecia algo diferente dentro de um meio extremo, irá certamente ficar deliciado e satisfeito. Missão cumprida para mim e muitos fans que acorreram à sessão de autógrafos minutos após o concerto. Cinco estrelas.
Bloodbath
A fechar com todo o seu esplendor e rigor, os Bloodbath, em especial, Nick Holmes, calaram muitas bocas, sobre a prestação deste em relação aos temas antigos e sobre a sua interpretação em geral e deram um brutal concerto de death metal old school, com os temas a serem executados na perfeição e a voz de Nick igualzinha como se ouve no último registo da banda, “Grand Morbid Funeral” , sem efeitos e sem cerimónias.  Nick enquadrou-se perfeitamente na banda e a sua voz confere um toque pessoal e único. O caminho é em frente, sempre a abrir. Mais um privilégio de concerto, com um set de luxo: “Let the Stillborn Come To Me”; “Mental Abortion”; “So You Die”; “Breeding Death”; “Anne”; “Cancer Of The Soul”; “Weak Aside”; “Soul Evisceration”; “Unite In Pain”; “Like Fire”; “Eaten”; “Mock The Cross” e “Cry My Name”.
Com este concerto a edição deste ano do Inferno Festival estava praticamente encerrada. Procuraremos voltar numa futura edição para mais aventuras e momentos grandiosos, resta-me dizer que o Inferno Festival é dotado de uma excelente organização, com destaque para a pontualidade dos concertos, as inúmeras actividades que mantém qualquer um bem concentrado, desde filmes a conferências, experimentem visitar Oslo nesta altura e não se arrependerão. Para este Inferno vale a pena ir e recomenda-se.

Texto / fotos : Sandra Nunes 

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