[Report] Rebellion Tour 2015 @ República da Música

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(c) João Cavaco // Arte-Factos A Rebellion Tour, a sexta por sinal, desta vez não escapou a Portugal. Madball e Strife foram os vencedores de uma noite onde Backtrack soube a pouco, Rise of the Northstar não fez delirar os seus fãs (mas também não torturou os infames “haters“) e a prata da casa ( Reality Slap e Push) mais uma vez nos encheram o peito de orgulho.
A República da Música encheu, e se nos jornais desportivos do dia seguinte se referia uma noite triste e fria em Alvalade o que a SFTD Radio verificou foi o oposto nesta espécie de catedral do underground contemporâneo da capital.
O micro-clima da sala cedo fez relembrar a passagem do Resurrection Tour of Chaos ( com Hatebreed, The Exploited, Napalm Death e Primal Attack). No entanto, e apesar da forte procura de bilhetes, verificaram-se melhorias significativas na forma como as coisas fluíam pelo recinto. Um esforço que merece ser valorizado. 
Aos portugueses Push coube a difícil tarefa de abrir uma noite que à partida lhes ficará permanente no curriculum como uma data a ter em conta em retrospectiva. 
(c) João Cavaco // Arte-FactosNão é todos os dias que se tem este tipo de privilégio. A jogar em casa, os lisboetas demonstraram o porquê de serem uma banda cada vez mais visível pelos cartazes do mundo underground. A banda sonora das primeiras imperiais da noite foi “groovesca” e bem satisfatória para os que, do outro lado do palco, ainda iriam percorrer uma maratona “hardcore” de Hardcore.
Os conterrâneos Reality Slap desde cedo foram apontados como um projecto a ter em conta neste nosso rectângulo. “The End” e “Breaking Out” ( o momento chave do seu blitz-concerto ) são, há muito, temas fortes que suportam esse estatuto. 
(c) João Cavaco // Arte-FactosNoites com Dog Eat Dog e Comeback Kid, para não enumerar mais, valorizaram esta aposta e o que não faltam são exemplos de concertos arrebatadores, como o do benefit no Ritz Clube.
Na República da Música vingaram a sua quase meia-hora de spot-light da melhor forma possível e o público retribuiu. A entrega e o feedback tudo apontam para que estejam bem encaminhados. Certamente de futuro surgirão novos temas que projectarão a banda para outro nível. É uma questão de tempo porque dedicação não falta e o estatuto de promessa continua sem argumentos contra. 
Por esta altura, da entrada não se via cessar o fluxo de pessoas num só sentido. O público não se fez de esquisito e respondeu em peso ao chamamento proposto pela Hell Xis.
O primeiro act internacional ficou a cargo dos nova-iorquinos Backtrack que no fundo são fruto tardio das sementes plantadas da cena nova-iorquina. 
(c) João Cavaco // Arte-FactosNa sua curta carreira nunca esconderam as influências que daí retiraram e desde 2008 que vão criando novos fãs pelo mundo fora sendo neste momento autênticos embaixadores do revivalismo moderno do NYHC.
É recorrente encontrarmos maus exemplos que tentam transportar o passado para o presente mas este não é o caso. A sua fórmula relembra muitos dos presentes que antes de muitos “cores” que por aí andam, fora esta a que apaixonou grande parte do público mais old-school. A nova guarda fez uma vénia aos veteranos e o respeito tornou-se mútuo. 
Infelizmente o concerto fora curto demais para a intensidade gerada. Choveram e suaram-se os corpos no mosh pit. Os rasgos de velocidade punk muito contribuíram para tal. Na curta prestação provaram que ainda é possível manter as coisas mais acessíveis e menos rebuscadas sem perder a essência. Tínhamos assistido ao seu concerto no Resurrection Fest no passado verão, num palco bem maior, mas sem complexos afirmamos que é neste tipo de habitat que realmente vingam. Cara a cara. 
Os Rise of the Northstar foram, desde o lançamento do cartaz, o nome menos consensual: de agrado de uns e de desagrado de outros. 
(c) João Cavaco // Arte-FactosLá indiferente não foi…. As últimas passagens por Portugal demonstraram-se frutíferas no que toca a criar fãs e estes não se retraíram perante as opiniões mais hostis. Talvez por essa sinergia o nível de preconceito desceu um pouco … Não deixou no entanto de continuar a sentir-se um claro défice de “mind over matter”.
Franceses, cujas influências de hip-hop demonstraram-se sempre mais clubísticas que de rua, apresentando um som produzido como uma espécie de metalcore mas com muita falta tanto do prefixo como do sufixo… Se escreverem com hífen esse fica como oferta da casa. A somar ao imaginário nipónico… Uma salada de frutas que apenas entretém e nesse aspecto podemos afirmar que até foram bastante coesos. Não negamos no entanto que houve de facto bastantes reacções positivas do público (o que realmente interessa) mesmo sem tocarem o seu tema mais conhecido e cheio de paleta : “Demonstraring my Saiya Style”. 
Dificilmente alguém ficou indiferente foi com a pujante prestação dos californianos Strife
(c) João Cavaco // Arte-FactosUma outra visão de Hardcore, desta vez proveniente do outro lado do continente norte-americano, que da mesma forma reúne uma aceitação igualmente unânime por parte do público. A cena NYHC é possivelmente mais mediática por estes lados, mas o público português, sendo neste contexto devoto como é, reconhece o valor em tal região desde os tempos dos exemplos bastante singulares Blackflag e Dead Kennedys.
Recordem-se que ainda há bem pouco tempo passámos, aqui em Portugal, pelo auge daquele punk rock de praia, banhado a raios de sol. Era estar atento aos cartazes. Curiosamente o som dos Strife pouco se enquadra nessas vertentes mais easy listening e Terror era o exemplo mais visível de merchandise na plateia. Vale o que vale mas… O que se assistiu foi a uma sessão de harcore crua num espaço que transpira underground. Sem barreiras ou adornos desnecessários verificamos à maximização de um concerto deste tipo. A figura barbuda e intimidante de Rick Rodney (vocalista) personaliza bem o carácter de peso da sua sonoridade. Desde cedo tomaram o palco e conquistaram a multidão. Não fosse o headliner este seria, sem dúvidas, apontado como o melhor concerto da noite. Um concerto marcado por break-downs sólidos, riffs demolidores e napalm vocalizado! Há falta de barbudos no hardcore? Talvez!

Para quem tenha nas suas referências exemplos como Judge e até mesmo Hatebreed (uma bela ponte entre o público metaleiro e hardcore punk), Strife são um nome a marcar na agenda numa futura e eventual terceira passagem pelo nosso país. Um intermédio sem os toques de punk dos primeiros e os aspectos mais groove metal dos segundos. O vídeo que gravámos de “Look Away” espelha bem a prestação da banda que aproveitou para apresentar mais uma vez o álbum de 2012, “Witness a Rebirth”. Em coro se despediram os portugueses, que vieram de Norte a Sul do país, num sing-along espetacular em “Blistered” de In this Defiance, o álbum que em 1997 lançou este nome a uma escala mundial. 
O espaçoso intervalo deu para recarregar baterias e para de certa forma desesperar… Não sendo de todo uma novidade no nosso país, não deixam de ser ícones de toda uma geração ligada a estas andanças. É de Madball que falamos obviamente. A SFTD Radio esteve presente na última passagem de outro ícone NY, Agnostic Front, pela mesma sala e desta vez verificámos, novamente, a paixão e entrega dos portugueses.
Com o pretexto baptizado de Hardcore Lives, a moral não estaria certamente baixa. Nada como os doutores comprovarem a tese perante seu júri mais uma vez. Abrindo com o clássico “Set it Off”, do álbum com o mesmo nome que é ainda hoje apontado como o favorito dos fãs, tornou-se impossível permanecer no mesmo m2 muito tempo. A setlist focou-se na apresentação de temas do novo álbum: “DNA”, “Hardcore Lives” e especialmente “Doc Marten Stomp” tiveram belíssimas recepções comprovando que um quarto de século depois continuam a criar temas que vão directos à procura do público. Neste caso não é preto no branco mas sim “Black and Blue”!! Não se negligenciaram temas de outros LPs como “The Beast” ou até mesmo, a versão dos já referenciados “irmãos” Agnostic Front, “It’s My Life”.
Sempre muito comunicativo Freddy “Madball”, entre o seu inglês americano e o seu esforçado portunhol, demonstrou um grande nível de intimidade por terras de Camões. “Nuestra Familia” disse ele, e desta vez não nos chateámos.

Sem direito a encore, foi com “Pride ( Times are Changin’)”, um claro hino para os presentes, que se deu por terminada uma grande noite. Em palco o mediático frontman pediu ao nosso embaixador Poli ( Devil in Me / Sam Alone) para repetir um dos momentos mais memoráveis que se retirou de Viveros em 2013. Soube a cereja no cimo do bolo.
Não faltaram energias a meio da semana, durante cerca de 5 horas de concertos marcados pela entrega de ambas as partes do tal palco que renúncia divisões. Ali se comprovou mais uma vez que não há espaço para vedetismos em algo tão próprio e tão espontâneo. Quem não foi tem belas razões para se arrepender. Não duvidem. Ah… E para a próxima saiam do sofá!
A SFTD Radio aproveita para agradecer à promotora Hell Xis pela organização deste evento e ao João Cavaco//Arte-Factos pelas magníficas fotografias que nos cedeu.
HARDCORE LIVES!

Texto: Tiago Queirós
Fotos: João Cavaco / Arte-Factos ( todas as fotos aqui)

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