[Report] Rockline Tribe Fest III: venha mais um!

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No passado dia 10 de Maio o RCA CLUB recebeu a 3ª edição do Rockline Tribe Fest, que, ainda a abertura de portas não tinha sido concretizada, já se podia assumir uma noite de casa cheia, como se veio a comprovar de facto.

Bizarra Locomotiva, For the Glory, Phantom Vision e The Quartet of Woah compuseram um cartaz que se traduziu em horas de boa música e de convívio numa organização que se demonstrou bem preparada para qualquer eventualidade. Pode não ser a especialidade, mas esta dupla Izzy/ Carlão, os DJs que dão a cara pelas famosas festas da Rockline Tribe, sabem como organizar eventos com correspondência do público.
A Songs for the Deaf Radio esteve presente e conta-vos tudo:
Como se adivinhava previamente, o público lisboeta ainda não deixou de se encantar pelo hype do rock nacional do momento, de seu nome The Quartet of Woah, enchendo a sala pontualmente. E quem adivinharia, meses antes, que este cenário fosse possível pouco após o termino de um clássico do futebol português? 
Foi com “Empty Steam” que se deu início ao certame. No palco era visível a satisfação da banda em tocar para uma casa digna de representar a capital. A banda continua a manter um paralelismo entre aqueles que se deixam encantar com os temas de Ultrabomb e aqueles que já foram encantados. 
É de certa forma curioso a forma como o quarteto conseguiu criar raízes no mundo das sonoridades pesadas, e falo das presenças em festivais como o Moita Metal Fest e o SMSF, não esquecendo alguns concertos com bandas como Process of Guilt ou até mesmo Crossed Fire. A ordem natural das coisas levaria a crer que esta banda ficasse associada a nomes como Miss Lava ou Low Torque, por exemplo, o que não se verifica no curto prazo numa aposta de um segmento de público pouco provável mas que não deixa de ser vencedora. Facilmente se verificam as reviews favoráveis e comentários bem simpáticos dos metaleiros aos “putos do hardcore”.
A atitude da banda em palco é também ela cada vez mais favorável e talvez resultante dos crescentes quilómetros que já levam de estrada, numa agenda aparentemente saudável e requisitada.
Para infortúnio dos presentes que ainda não tinham tido o privilégio de assistir a uma das suas actuações, Rui Guerra, teclista e uma das vozes da banda, não estava nas melhores condições ao nível do potencial que já provou em vezes anteriores. Possivelmente por questões de saúde a voz não se apresentava na melhor das condições mas empenho não faltou e não houve dúvidas na sua entrega total.
How to Build a Bomb?” tem aquele q.b. de Led Zeppelin que fica bem em qualquer altura, da mesma forma que “The Balance” soa prog rock sem cair em grandes transes de colar o lobo occipital ao crânio. Penso que todos saímos com a massa cinzenta intacta. 
Gonçalo Kotowicz prova o lugar reservado no Reverence Festival com ” Taste of Man” que tem aquilo que todos imaginamos como banda sonora de tal evento. Aquele baixo torna-se uma potencial lesão no pescoço tais são os níveis de stoner. Músicas como “Ultrabomb” e “Slingshot Sam” são já marcas registadas da sua sonoridade, aquela que com o passar dos anos iremos apontar como o “som dos The Quartet of Woah” em vez de debitarmos as potenciais influências. 
O momento épico adjacente a “The Path of Your Commitment” é sempre um tira teimas. Esta é a música. Como sempre, são gostos, mas certamente não será caso único.
A banda guardou para o fim o single “U-Turn” numa prestação que não foi particularmente inspirada mas que ainda não foi desta que desiludiu.

A inclusão dos Phantom Vision neste cartaz prometia momentos de uma certa densidade dançante na cobertura new wave que os temas da banda proporcionam. Um género que cada vez menos atraí novos ouvintes mas que deixa um feixe de luz escapar na tal escuridão ritmada sendo uma espécie de veneno que acaba sempre por criar vítimas. Os seus ritmos hipnóticos e bem regados a efeitos, que só por si esquivam-se da convencional banda, não necessitando de uma bateria ou de um baixo para criar ambientes que buscam tanto de Bauhaus como de Depeche Mode e um bocadinho ali é acolá  de Soft Cell.

De facto há todo um conjunto de influências óbvias que tanto agradam uma certa facção de metaleiros, possivelmente aqueles mais dados às noites de Goth Rock do Cais do Sodré, assim como em quem tenha nas suas referências musicais nomes como Joy Division ou New Order, não esquecendo os muitos fãs dos The Cure. Há uma certa aura Krafwerk’iana crescente à medida que evoluem os Bpm’s  de tema para tema.
Far Enough” deu início a um concerto que surpreendeu pela positiva um público que apresentava algumas dúvidas.
A figura de Pedro Morcego é tudo menos discreta, dentro e fora de palco, não sendo suficiente para se tornar o foco de atenção do público (e acredito que não fosse exclusivo  da parte masculina) graças ao belo espectáculo de burlesco, proporcionado pela dançarina Ágata, que dava uma nova dimensão artística às músicas.
A profundidade das linhas de guitarra fazem ecoar as notas prolongadas enchendo a sala.
Os tempos mais produtivos da banda fazem parte do passado o que se fez sentir numa certa nostalgia em alguns presentes com merchandise da banda como na visível felicidade presente na banda.
O carismático vocalista é dono de uma voz ressonante que por vezes fazia lembrar uma personagem bem conhecida da música pesada portuguesa, que por acaso, também marcou presença do início ao fim dos concertos. Mas deixemos esse para depois.
Graças ao Indiegente, esse programa de grande respeito que a Antena 3, personificado no Nuno Calado, Morcego cravou o seu nome  no meio, aliado claro, ao trabalho com os Phantom Vision. Deixou a sua marca no álbum que celebrou os 15 anos do programa com o tema “There are Times“, que não ficou fora da setlist destacando-se como o momento tema mais alucinante que tresanda a rock’n’roll com estilo próprio. “Electric Wet Dreams” antecedeu tal momento, contrastando no feeling bem mais pesado e espacial. Tema este que fora baptizado da mesma forma que outrora fora a própria banda.
O concerto terminou ao som de “Strange Attraction“, “Archfiend” e “Total Eclipse” numa recta final em tom de vitória. Será caso para dizer Post-Punk’s not Dead?
Ao contrário da sua última passagem pelo Rockline Fest, na sua segunda edição, os For The Glory não jogaram propriamente em casa. Estão bem familiarizados com a sala na rua paralela à do RCA, mas nesta ainda não tinham marcado presença. A primeira vez não teve o cenário habitual dos seus concertos, onde o seu público por norma marca presença de forma efusiva, o que sempre contribui bastante para o próprio concerto. Não fossem os FTG uma banda de hardcore.
Relembrando que a sala estava cheia, público era coisa que não faltava, a questão era se estariam aptos para enfrentar a legião da Locomotiva da mesma forma que sempre os caracterizou. A resposta foi positiva e penso que isso também se deva ao crescente historial da banda ao se cruzar sucessivamente com o público mais dedicado a outras sonoridades. Uma vitória que tem uma certa simbologia na já saudosa Lions Unleashed Tour e que desde esse momento criou uma certa união de tribos espelhada na união de bandas como Switchtense, FTG, Steal Your Crown, Grankapo, Primal Attack e Diabolical Mental State, entre outras, sendo visível a presença de alguns elementos de certas bandas referidas.
Esta nova realidade no underground português permite que os For the Glory apresentem o seu Lisbon Blues a quem tenha o Bestiario ou Wolfheart como pilares na sua discografia nacional.
Os primeiros três álbuns da banda criaram hinos que fazem parte nuclear das setlists da banda de Congas. No entanto o seu registo mais recente levantou muita curiosidade em seu redor e temas como “No Colour“, “The Key” e  Lisbon Blues” parecem estar a pegar da mesma forma provando o que a crítica já antecipava.
All the Same“, “Armor of Steel“, “Some Kids Have No Face” assim como “All Alone” e “Fail Me” só pecaram pela falta daquele sing-along e duma paisagem mais caótica frente ao palco ( a grade de segurança talvez tivesse criado um efeito repelente) como assim o fora por exemplo no Room 5 onde também se reuniram os Twentyinchburial em que Rui Brás largou o baixo dos FTG por breves momentos e relembrou temas como “Amo-te“. Talvez por ter sido uma ocasião especial o público do hardcore tenha comparecido em peso num Rockline Fest, mas creio que numa próxima ocasião estará novamente em peso apoiando a cena local, algo que sempre o caracterizou.
Aproveitando a presença de Hugo, vocalista dos Switchtense, “Life is a Caroussel” fora mais uma vez um dueto previsível mas, como sempre eficaz.
“101” que busca muito do ‘core dos anos 90 foi talvez o tema mais devastador da noite sendo a cereja no topo do bolo “Survival of the Fittest“.
Uma performance de grande profissionalismo sempre caracterizada pela veia interventiva do frontman. Para recordar fica a imagem, de certa forma surpreendente, de Gonçalo (Quartet of Woah) num belo mergulho para ao público. 
Parafraseando o vocalista dos For the Glory (“Congas”), Rui Sidónio é um animal de palco! Mas disso já ninguém tinha dúvidas. Não deixa no entanto de ser inevitável deixar-nos encantar com tamanha entrega em palco. A incorporação na personagem é soberba e teima em não deixar de surpreender, vez após vez.
Não foi uma estreia os carris da locomotiva se cruzarem nos horizontes da Rockline Tribe. Não temeram ser os primeiros cabeças de cartaz da história do evento (Room 5) e ainda proporcionaram um “Fim do Mundo“, com os Moonspell, que abalou os alicerces do Tmn ao Vivo.
Casos de sucesso que confirmam uma bela aliança entre a banda e a organização. 
No passado sábado deu-se continuidade a tais resultados. O público na sua maioria é já fiel nas passagens da banda pela capital, e até mesmo de suas imediações, podendo-se afirmar, sem receios, que se trata de uma das mais activas legiões de fans no mundo da música pesada em Portugal. Um culto que não se move pela fé mas sim pela certeza de que testemunharão algo de arrebatador. Algo incomparável, longe de destoar numa escala maior, caso tivessem ao dispor os adereços que 20 anos de carreira mereciam. Talvez envergonhasse uns certos alemães, mas é melhor não ir por aí. Esses também não têm uma legião de fans em Portugal propriamente pequena.
Numa altura em que se aguarda o novo trabalho de estúdio, a esperança de assistir a algo novo é inevitável. Tal sede não fora saciada, mas os clássicos continuam frescos e relembra-los faz parte de todo o tal culto que é assistir a Bizarra Locomotiva ao vivo.
Egodescentralizado” foi o tema eleito, sem surpresas, para dar início à sessão industrial da noite. 2009 parece que foi ontem. Cinco anos se passaram (e relembro que outros cinco já tinham passado desde Ódio) quando o lançamento do Álbum Negro fez as delícias de muita gente. Talvez a cronologia tenha levado a que fosse propício tal resultado: de forma quase imediata se formaram uma mão cheia de clássicos incontestáveis. Se haviam dúvidas no processo criativo da banda na era pós- Armando Teixeira com Ódio, estas foram por água abaixo com o último trabalho.
O tom não desce com “Gatos do Asfalto“, um dos temas fortes do “Bestiario“, para muitos o álbum chave de toda a sua discografia.
Já imaginaram como seria se Rui Sidónio fosse o vosso personal trainer numa aula de fitness daquelas com step? Esqueçam a zumba. “Buraco Negro“, ” Desgraçado de Bordo” e a já velhinha ” Druidas“, ao ritmo do frontman, seriam o suficiente para queimar grande parte das cervejinhas que foram bebidas frente ao seu palco ao longo de anos.
A T-shirt com o mítico cisne de Angel Dust, objecto de reparo na plateia (tal fora a sua influência para muitos de nós), pouco durou. Crowdsurf e sucessivas invasões ao espaço de conforto do público comprovam que a Locomotiva não passava na inspecção face à inexistência de travões. O acidente é eminente e todos temos uma curiosidade mórbida de o testemunhar. Assim foi quando os sinos tocaram, como manda a procissão ( neste caso a dos Edípos), o nosso Trent Reznor lá se deixou cair da galeria superior que tanto abona a favor do RCA Clube e que de certa forma fez relembrar o concerto de celebração dos XX anos da banda no Ritz.
Apêndices”, “Cavalo Alado” e “Candelabro do Amor” serão sempre alguns dos temas com melhor receptividade por parte da escumalha mais antiga, que não se envergonhou no momento de dar a voz frente ao palco.
A sua presença pelo recinto já adivinhava tal momento, como noutras ocasiões já tínhamos testemunhado, mas que se torna sempre o mais memorável seja que noite for: Fernando Ribeiro, vocalista dos Moonspell sobe ao palco para dar voz na colaboração mais mediática da história do metal nacional. “Anjo Exilado” é simbiose pura. As vozes encaixam perfeitamente e a empatia é visível. Seguiu-se “Escaravelho” sem que nenhum dos titãs arredasse pé. Uma conclusão em tom épico para uma noite de grande nível. Não fosse claro, o encore.
A salva de palmas da noite deu lugar a dois temas, “Fantasma” e “Cada Homem” fecharam então uma setlist que facilmente agradou gregos e troianos. Outra coisa não seria de esperar.
Uma noite memorável numa altura de abertura da época festivaleira e que nos deparamos com a triste realidade de que há cada vez menos rock/metal no circuito mainstream. Uma tendência difícil de contornar pelo que é de louvar quem tem a coragem de promover este tipo de iniciativas.
Um RCA CLUBE ao rubro, com vários pesos pesados do meio, com elementos dos Moonspell, Ramp, Switchtense, entre outras bandas, a darem o exemplo e a apoiarem o que se faz por cá (o que só abona a favor deles) assim como o produtor, dono de um belo C.V., Daniel Cardoso assim como, curiosamente, Paulo Ventura que ficou mediático na recente participação como jurado do programa televisivo Factor X.
Um cartaz eclético que deu frutos. No fim, a resposta do público é unânime: venha um 4º Rockline Tribe Fest!

Texto: Tiago Queirós
Fotos: Nuno Santos (veja abaixo todas as fotos)

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(vídeo do Youtube da Rockline Tribe)

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