No passado dia 26 de março, o Paradise Garage tremeu com a passagem da Blitz! Europe in Fire e recebeu os já lendários VADER (Polónia), acompanhados dos HATE (Polónia) e Shredhead (Israel), numa noite memorável para os verdadeiros apreciadores de bom metal. A promotora Prime Artists foi, mais uma vez, a responsável por um evento que se tornou, quanto a nós, um acontecimento imperdível na agenda de concertos deste ano, com casa quase cheia e um público rendido a um som devastador.
A escolha dos thrashers israelitas Shredhead para iniciar as noites da Blitz! Europe in Fire resultou na perfeição. À hora prevista, o vocalista Aharon Ragoza invadiu o palco com a descarga de energia que caracteriza o último álbum editado pela banda, Death is Righteous, considerado pela crítica o seu trabalho mais pesado, quando comparado com o álbum anterior, de 2011. A audiência, ainda reduzida, teve de se render à interação permanente deste vocalista que encheu a sala com uma brilhante atuação e entrega total. Excelente estreia em Portugal, com boa adesão do público à rapidez extrema do seu thrash metal, enriquecido com bons momentos groove. Quando o próprio Aharon Ragoza saltou do palco e desafiou os mais próximos para o primeiro circle pit, já a banda tinha a sua missão cumprida: público aquecido, convencido, e pronto para a devastação polaca.
Quando os polacos HATE iniciaram a atuação, boa parte do público aproximou-se mais do palco, tornando visível o entusiasmo com que a banda era aguardada. O coletivo de Varsóvia, formado em 1990, apresentou uma setlist composta por temas editados nos últimos 10 anos, que apenas incluiu dois temas do último álbum, Crusade: Zero, de janeiro passado.
Desde o início da atuação, os HATE apresentaram-se muito fortes, com grande coesão, deixando o público verdadeiramente impressionado com a brutalidade e ritmo frenético do seu blackened death metal, amadurecido por décadas de experiência. Quem esperasse apenas uma banda death manchada de black e fortemente influenciada pelos compatriotas e contemporâneos Behemoth, certamente surpreendeu-se. Essa seria uma apreciação demasiado redutora para HATE, que transmitem nas suas composições o efeito “metralhadora” exigido pelo seu nome, ódio impiedoso sem espaço para ambientes e adereços de culto satânico. HATE não são só anti-Cristo; são anti-Civilização, nas bases em que esta se encontra assente. E posto isto, só se pode esperar a devastação total, o grau máximo de destruição, do qual a Humanidade deverá emergir em busca da perfeição.
Hate |
Foi assim que temas de álbuns mais antigos como Anaclasis- A Haunting Gospel of Malice & Hatred (2005) Morphosis (2008), Erebos (2010) e Solarflesh (2013) foram “disparados” sem piedade, sob o olhar magnificente de Atf Sinner, vocalista, guitarrista e compositor da banda, detentor de uns guturais poderosos que interpretaram admiravelmente os cenários apocalípticos das letras da sua autoria. Deste conjunto, destacamos Erebos (Erebos, 2010) e Threnody (Morphosis, 2008) pela forte adesão do público, completamente rendido ao som demolidor da banda.
Do último álbum, Crusade: Zero (2015), Valley of Darkness e Leviathan foram os temas escolhidos, deixando o público preso aos solos arrepiantes da guitarra de Domin e a outros momentos, mais melódicos, sempre acompanhados da pulsação forte imposta pela banda.
HATE terminaram assim uma atuação brilhante, deixando o palco livre para os polacos que se seguiram, cabeças-de-cartaz de uma noite que continuaria a surpreender.
VADER subiram ao palco com pompa e circunstância, exibindo a segurança e a experiência adquiridas com o passar dos anos e que lhes conferem o título de ícone do death metal europeu. Surgiram envolvidos num cenário dantesco, com adereços de palco adequados ao ambiente de Tibi et Igni, editado em 2014. E foi mesmo por este último trabalho que começaram e ao qual deram destaque ao longo do concerto, embora a setlist incluísse igualmente temas que remontam aos primeiros álbuns da banda, tais como The Ultimate Incantation (1992) ou De Profundis (1995).
Vader |
O vocalista Piotr “Peter” Wiwczarek bem gritou Good to be back!, e sentiu-se, de facto, este entusiasmo ao longo do concerto. Silent Empire e Reborn in Flames (De profundis, 1995), Decapitaded Saints (The Ultimate Incantation, 1992) e Carnal (Black to the Blind, 1997) foram alguns dos pontos altos da atuação do coletivo de Olsztyn, gerando forte adesão no público, que respondeu ao som poderoso da banda com headbang, mosh, aplausos e gritos de aclamação.
Do novo álbum, Triumph of Death e Go to Hell (Tibi et Igni, 2014) fizeram tremer a assistência, mas foi Hexenkessel o tema que considerámos mais arrebatador e no qual destacamos o trabalho do guitarrista Marek “Spider” Pająk, que já nos tinha arrepiado em Decapitaded Saints.
Impondo um ritmo arrasador, assente em riffs típicos do death, de rapidez extrema, bem acompanhados por uma bateria que marcou pulsação fortíssima, VADER quase não deixaram respirar a assistência do início ao fim da atuação. Era de prever que teriam de regressar ao palco após o último tema, dado o pedido irrecusável do público, completamente rendido. E voltaram, tocando, por último, Helleluyah (Impressions in Blood, 2006) com a mesma descarga de energia.
Foi uma noite memorável, imprópria para cardíacos, a exigir minutos para recuperação, antes de deixarmos o Paradise Garage. Quando se ouve bom death metal polaco, a pulsação é outra.
Agradecimentos: Prime Artists
Texto: Sónia Sanches
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