[Report] Vagos Open Air 2015 (1º dia)

Category: SFTD Followers Comments: No comments

Dia 1, 07.08.2015: Within Temptation | Amorphis | Heaven Shall Burn | Vildhjarta | Moonshade | Scar For Life

Ao contrário de outras publicações que já lhe vão dando o devido destaque, a Songs for the Deaf Radio está bem familiarizada com o Vagos Open Air. Alguns de nós nunca faltaram a uma edição e este é já o ponto de encontro anual da nossa “família”, que a cada ano que passa cresce graças aos nossos leitores/ouvintes.

Em 2011 começámos a nossa missão neste mesmo festival, ainda no antigo recinto (Estádio do G.D.Calvão). Assistimos de perto à sua evolução e hoje sentimos que de certa forma faz um pouco parte de nós. No nosso calendário as datas estão marcadas como pedra, e passada mais uma edição assim perduram.
Recentemente, estivemos (mais uma vez) presentes no Resurrection Fest, que para muitos é o maior festival do seu género na Península Ibérica e se por um lado não ficámos imunes à quantidade não deixámos de sentir falta de momentos realmente especiais, com maior proximidade, duração e entrega de ambas as partes quer do público como das bandas.
Uma das críticas recorrentemente referida em relação ao V.O.A. é a inexistência de um palco secundário que pudesse colmatar os tempos mortos, aos quais nós lhes chamamos de convívio. É curioso que é esse “defeito” que permite criar a aura única de Vagos enquanto festival, quer pelo ambiente familiar como pelos concertos em si. No seu historial não faltam grandes memórias… Não de cartazes na globalidade mas de concertos singulares e isso vale bem mais do que dois ou três palcos que nos dividem constantemente.
Assim sendo, pegámos nas mochilas, tendas e sacos-cama e rumámos à capital do metal nacional. A população local já se habituou à peregrinação anual que lhes invade as ruas de preto e, mais uma vez, nos receberam de braços abertos. 
O vento forte que temíamos pelo caminho fez-se de convidado indesejado e também rumou à metalada. Já com a pulseira no pulso e de estacas bem pregadas ao chão (não fossem as tendas voarem) seguimos para ao recinto ainda em horário laboral.
A pedido dos headliners Within Temptation e face aos seus restantes compromissos profissionais, a organização optou por adiantar o início dos concertos para uma hora antes, das 17h para as 16h, mantendo assim o alinhamento das bandas. 
Nem todos puderam marcar férias e o horário não permitia grandes milagres pelo que por essa hora encontrámos um recinto ainda muito despido.

Scar for Life 

Coube aos portugueses Scar for Life a honra de abrir o festival, não em português mas sim em inglês, para espanto dos mais distraídos. Uma confusão legítima pois apesar da banda ser nacional tem como vocalista Rob Mancini (Hotwire; Crush) 
Este projecto que nunca poupou esforços em reunir músicos de grande nível, quer nacional (Daniel Cardoso [Anathema], Marco Resende [Low Torque], Tó Pica [Ramp; Sacred Sin], Sales [Ramp,The Girl on Black Bikini], etc) e até mesmo internacional (Vinnie Appice [Black Sabbath], Neil Murray [Whitesnake], Ged Rylands e Neil Fraser [TEN], etc.). O seu hard rock com laivos de metal melódico, no que toca a formações e colaborações, delicia os fãs do género e com mérito. No entanto sempre romperam melhor em estúdio do que nos grandes palcos que parecem ser escassos para este conjunto, tirando alguns eventos pontuais. Por isso mesmo, e apesar de não serem uma banda da linha dura do metal, Vagos era uma oportunidade única para consagrar um pouco mais a sua obra perante uma audiência bem mais vasta do que lhes é habitual.
Infelizmente, para a história ficam os problemas de som claríssimos que não escaparam a ninguém, dentro ou fora do recinto tal não fora a falta de noção do volume (principalmente no que toca à voz).
Não fora uma tarde a favor dos Scar for Life, mas foi mais uma lição de vida. Uma ferida que certamente ficará sarada e que não terão problemas em dar a volta por cima. Esperemos que aos presentes lhes tenha criado o “bichinho” de irem pesquisar um pouco mais. São já três álbuns e muito rock’n’roll.

Moonshade

Do Porto vieram os Moonshade,que apesar de serem vítimas de menor reconhecimento (uma realidade com os dias contados), com o seu Death Metal Melódico irão ganhar o seu espaço nas discografias dos amantes da música escandinava. Apesar de estarem amenizados os problemas técnicos, acabaram por não desaparecer (que pedra no sapato!) criando algum atrito. No entanto, a margem de manobra fora maior que com a banda anterior e os Moonshade souberam contornar as dificuldades, agarrando com unhas e dentes esta oportunidade que, sem dúvida, mereciam.
O EP Dream|Oblivion tem tanto de demolidor como melódico, não poupa nos guturais (que certamente fizeram o gosto de amantes de Amon Amarth) mas também não falha nos outros registos vocais, algo que ficou bem espelhado em “Dawn of the New Era”.
“Fall to Oblivion” e “Genesis 3.5” mantiveram a fasquia alta para uma das melhores promessas do género na actualidade.
Esta curta passagem teve o seu ponto final com “Goddess Eternal”, o tema que vai servindo de porta estandarte da sua obra. A postura em palco aliada ao som mais apetecível aos metaleiros proporcionaram os primeiros brindes da tarde. A reacção dos presentes, ainda longe do número desejado, foi clara: 1-0, ganhou a banda, perderam os técnicos de som. O jogo foi renhido e o vencedor foi justo. Deixaram tudo em “campo” ao contrário deste improvável adversário. Os aplausos foram espontâneos e merecidos.
O facto de terem sido adiantados os concertos uma hora ditou todo um efeito bola de neve: os problemas de som foram sintomáticos da falta de tempo para fazer soundchecks (este fora, pelo menos, o caso dos Scar for Life). Esta alteração na programação não trouxe nada de positivo para as bandas portuguesas nem para ninguém para sermos justos. São apenas ossos do ofício. Sem contratempos temos sempre os CDs na aparelhagem.

Vildhjarta

A primeira banda estrangeira desta edição presenteou o público com uma sonoridade pouco convencional, até mesmo para o mundo do metal, baptizado de Djent. É certo que ainda está em aberto o debate sobre se as particularidades desde tipo de som se podem considerar um movimento só por si, mas vamos aceitá-lo como tal.
Por norma todas as comparações neste género vão em colisão directa com os Meshuggah (que também já têm o seu nome no histórico de Vagos), e esse tipo de pressão denota-se na forma como as bandas optam pelo seu processo criativo e até mesmo de produção.
Os Vildjharta são um exemplo das “vítimas” de um legado que tem tanto de influente como de capador. No caso referido não faltam argumentos que os consagram mas no caso deste conjunto a escassa discografia apenas criou o hype e ao vivo ainda têm de dar tudo e em qualquer circunstância.
Na Quinta do Ega os suecos falharam por completo na altura a que se lhes pedia serem o primeiro grande nome deste festival.
O som confuso e inconstante que agrada aos fãs da modernidade metaleira esteve longe de convencer o público. Ser imprevisível em demasia pode rapidamente expor a falta de aptidão em garantir a atenção das pessoas, e assim o foi. 
Com o Sol quase ao nível do palco e com o vento forte, foi por respeito que muitos se mantiveram de pé face às difíceis condições climatéricas que marcaram o primeiro dia de festival. Os instrumentos soaram pouco perceptíveis e a técnica apenas se fez notar ao nível visual e de pouco efeito a nível da própria música. A linguagem corporal da banda indicou alguma frustração com o desenrolar do tempo na curta hora que lhes fora garantida. No fim ninguém ficou a ganhar. Esperemos melhores dias e que o possam provar em sala fechada, num ambiente mais propício a usufruir de forma maximizada o que eles nos têm para mostrar. Infelizmente, já da última vez que nos cruzámos com estes rapazes, em Viveiro, tínhamos tido a percepção de assistir a algo com poucas memórias a guardar.
Logo à partida, “Benblast” soou ruidosamente catastrófico mas sendo um tema chave da minimalista discografia ainda conseguiu obter algumas reações positivas. 
Com poucos exemplos explosivos guardados para o primeiro dia os metaleiros gentilmente ignoraram o picar de ponto que se passou em palco e gastaram os primeiros cartuchos, principalmente ao som de “Dagger”. “All These Fellings” do álbum de estreia Maastaden deu por terminado o show destes contemporâneos do metal progressivo que tanto se estranha como se entranha… A seu tempo.
Este difícil arranque, veio-se a comprovar, no fim dos 3 dias de concertos, como o período menos consagrado sendo os Vildjharta os maiores derrotados nesta VII edição do V.O.A..
O pior ficou para trás.

Heaven Shall burn

Os Heaven Shall Burn eram à partida um dos nomes que levantava maiores expectativas no primeiro dia de festival. As suas actuações ao longo destes 15 anos (que passaram desde a última passagem por Portugal) criaram todo o estatuto que sustenta os germânicos. Mitos foram criados, concretizados e comprovados ao longo deste tempo. Na nossa memória está ainda fresco o concerto que deram no Resurrection Fest em que bateram o record de maior circle-pit da história do festival, tal não fora o efeito da sua passagem.
Por todos estes argumentos e outros mais, este era um dos concertos que surtia maiores dúvidas face ao potencial impacto.
Em Espanha o público é visivelmente dado ao metalcore mas em Portugal a história é diferente e apesar de esporadicamente os promotores apostarem neste género, não há uma fan base que se faça notar. 
Por outro lado, a Prime Artists já tinha apostado recentemente na passagem da tour de Cannibal Corpse com Suicide Silence e os efeitos da banda de abertura foram assinaláveis sendo clara a distinção entre públicos. Pode até não haver um nicho próprio mas o de sempre está cada vez mais cativado com os seus efeitos.
Não sendo uma banda descaradamente Deathcore teimam em deixar claras as linhas de death-metal e hardcore que dão consistência ao seu poderoso som. Ao vivo estão longe de abrandar e em estúdio vão provando a sua fidelidade ao extremo. São sem dúvida um dos maiores nomes do metal europeu da actualidade e muitos foram os que se deslocaram propositadamente para os ver ao vivo e a cores.
O largo intervalo ficou justificado pelo próprio frontman Marcus Bishoff, e não por um roadie como poderia ter optado, face ao atraso na chegada dos instrumentos ao aeroporto. A organização arranjou forma de conseguir preencher essa lacuna e o profissionalismo da banda fora evidente. Este é aliás um dos aspectos que melhor se sobressai em palco: o nível de empenho em garantir que tudo funciona nos conformes transcende a ideia de se deixarem levar pelo rock’n’roll e esperar que o resto venha por acréscimo. Tudo foi feito ao pormenor de forma a garantir que todos os esforços são maximizados no resultado final. Mais uma vez fora mais do que positivo, fora memorável.
“Counterweight” deu início à actuação dos grupo dos irmãos Bischoff e na plateia já se encontrava uma multidão bem maior do que momentos antes.
Sempre muito comunicativo, o vocalista não pecou em alcançar a simpatia dos presentes que corresponderam com alguns dos maiores moshes que assistimos em todo o ano.
Também de Deaf to Your Prayers, o álbum que em 2004 os catapultou para os tops, seguiu-se “Profane Belivers” mas foi o mais recente álbum VETO (cujo o artwork esteve presente na tela de fundo) e Iconoclaust (Part One: The Final Resistance) que serviram de espinha dorsal numa setlist que fora certamente do agrado de quem esperou tantos anos para reencontrar os Heaven Shall Burn.
Se em algum momento o ritmo (do público) diminui, singles como “Combat” e “Hunters Will Be Hunted” serviram de reviravolta dando início a uma recta final digna de um camisola amarela. O Wall of Death em “Voice of the Voiceless” parece ter dado folga a um público já longe de amorfo. Daí para frente foi sempre a subir.
Um dos momentos chave do concerto foi sem dúvida a cover dos Edge of Sanity, “Black Tears”, que se por um lado fora reconhecido pelos amantes do death metal sueco, por outro não surpreendeu os mais familiarizados com os Heaven Shall Burn sendo já uma das mais requisitadas. 
Não chegaram a concretizar os desejos de ver um circle pit em redor da plataforma de som, mas não se pode dizer que estiveram longe… “Trespassing the Shores of Your World” foi a banda sonora da apoteose anarquicamente apocalíptica que se fez sentir na zona de perigo. A temperatura aumentou, o vento frio deixou de se fazer sentir e onde outrora havia relva passou a haver pó.
A jovem metaleira, a rondar os seus seis anos, que fora chamada ao palco terá certamente uma memória para a vida e graças a ela nós também. Mesmo com a “manada” à solta na sua frente e com a barreira linguística a fazer das dela, a menina rendeu-se ao headbanging num dos momentos de maior ternura de todo o festival. Esta malta é da pesada mas a verdade é que tem um coração de manteiga. 
Para terminar em grande só poderia faltar “Endzeit”, de longe um dos temas mais reconhecido. O sing along foi prova disso mesmo.
A disciplina alemã, que nem sempre é fria e distante, mais uma vez foi prova de eficácia e eficiência. A próxima vez não vai ser daqui a 15 anos, com certeza.

Amorphis

Quem já conhecia bem os cantos à casa eram os Amorphis e desta vez trouxeram consigo uma tour que muito agradou os fãs. O vigésimo aniversário de Tales From the Thousand Lakes não poderia passar ao lado de uma digna celebração e nem com novo álbum à espreita tal fora ignorado.
Já perdemos a conta às vezes que estes finlandeses pisaram os nossos palcos mas uma coisa é certa: esta fora das melhores passagens que deles temos memória.
O elevado número de merchandise visível pela multidão indicava que este certame fez deles um cabeça de cartaz não-oficial e a atitude demonstrada em palco não deitou por terra tais expectativas. Pelo contrário.
A par de Overkill, foram das “contratações” mais criticadas desta edição pelo facto de serem repetentes mas desde cedo as fizeram cair por terra.
A introdução “Thousand Lakes” serviu de ponto de partida em tom épico como quem celebra um pedaço de história. Se hoje o metal nórdico é uma certeza mais do que afirmada, outrora dava os primeiros passos. Nas nossas andanças pelo recinto chegamos a ouvir quem levasse os elogios ao ponto máximo: fora este o álbum que fez de clique a pelo menos um dos metaleiros presentes e a alegria na sua cara espelhava bem isso.
O primeiro vislumbre de Tomi Joutsen foi feito, sem surpresa, em “Into the Hiding”. De óculos de sol e com o seu característico microfone em riste, atacou a lírica decorada por muitos. Os seus guturais estiveram em grande forma, sem cair em exageros perigosos e mantendo o controlo de forma irrepreensível. Outro tema que também nunca deixou de estar presente regularmente nas setlists fora “The Castaway” e pelas reacções percebeu-se bem porquê. Um hino para os amantes do melódico: as linhas de guitarra são viciantes e o cantarolar torna-se involuntário de tão natural que é.
O alinhamento continuou fiel ao do álbum. “First Doom” puxou pelo headbanging mas “Black Winter Day”, mesmo já em modo automático de tanto tocarem, continua a ser o momento alto de toda a performance. Os telemóveis e os isqueiros elevaram-se proporcionando todo um belíssimo ambiente.
As diferentes texturas que Tales From A Thousand Lakes demonstram fazem crer numa certa nostalgia. De facto os anos 90 foram algo muito próprio no seio do metal e se hoje este pode ser datado, na altura rompeu muitas barreiras num género recente e cheio de preconceitos. O Death Metal desde então nunca mais fora o mesmo e a nível artístico só ficou a ganhar com isso, influenciando as mais diversas bandas do contigente nórdico. “In the Beginning” foi sem dúvida um belo exemplo disso mesmo.
A maior raridade deste concerto foi certamente “Forgotten Sunrise”, talvez uma oportunidade única para os portugueses, assim como “Father’s Cabin” com todos os seus tiques Prog que deliciaram a multidão com tamanha demonstração de musicalidade. Longe da popularidade, este fora paradoxalmente o momento que melhor espelhou o grande nível de concerto que os Amorphis nos reservaram para a noite de sexta-feira.
Para surpresa de muitos houve ainda tempo para mais do que o expectável: “Vulgar Necrolatry” dos Abhorrence, uma cover que a banda fez questão de incluir nos seus trabalhos de estúdio, assim como Sign of the North Side, ambos do velhinho The Karelian Isthmus que data de 1992.
A sessão old-school ficou confirmada com dois temas de Elegy (1996): a dinâmica “Against Widows” e “My Kantele”.
Para o fim ficou guardado o improvável instrumental “Folk of North”, outra das raridades que certamente tiveram de reaprender a tocar. Nós retribuímos tal esforço com os nossos aplausos sentidos. Viveu-se assim mais um grande momento em Vagos. Assim sendo, independentemente do que estaria para vir, o primeiro dia acabaria com saldo positivo.

Within Temptation

O nome mais controverso deste cartaz foi sem dúvida o dos holandeses Within Temptation a quem lhes fora imposta a difícil tarefa de convencer o público (habituado às sonoridades mais escuras e distantes do mainstream) que as suas características mais comerciais e abrangentes também pudessem obter bons resultados em Vagos.
Se por vezes o cabeça de cartaz sabe a cereja em cima do bolo, neste dia soube a cereja… no meio de uma salada de frutas. 
Caso a tradicional inclusão de bandas lideradas por senhoras pudesse sortir comparações, as suas características musicais apenas comprovariam que tal é apenas fruto do sexismo que perdura neste meio, pelo menos na óptica do público. Os Within Temptation não fazem (tanto) parte do imaginário dos Lacuna Coil e dos conterrâneos Epica por muito que a figura de uma mulher forte em palco possa trazer algumas semelhanças.
Se os exemplos anteriores são indiscutivelmente parte integrante do imaginário metal, longe de fazerem parte do mainstream, a banda de Sharon den Adel não.
A falta de clareza no rumo que pretendem levar a longo prazo ditou, ao fim de já vinte anos de banda, uma certa alienação pouco benéfica no que toca a concertos ao vivo, pelo menos em Portugal em contextos de festival. Mais do que nunca os Within Temptation rumam numa direcção oposta à da maioria do público que lhes recebeu.
Os defensores da banda apontam para cartazes como o do Wacken, Graspop ou Bloodstock e isso são sem dúvida óptimos argumentos, no entanto não são suficientes para uma aposta destas em Vagos. 
Quem se lembra do concerto em 2008 no Optimus Alive? Quem viu pela transmissão não poupou elogios… Mas lá presente o que se constatou foi um vazio constrangedor (talvez o maior nestes anos todos) comprovando que a estratégia de “um pé aqui e outro ali” não lhes serve de muito em terras de lusitanas.
Não omitimos os seus fãs, que estiveram bem presentes no Paradise Garage e nos Coliseus, por exemplo, mas certamente ficaram melhor servidos nesse tipo de sessões mais familiares sem aqueles que o mundo cibernautico chama de “haters” em seu redor. Não há nada pior que assistir às “nossas” bandas rodeado de antagonismos.
No fundo, este fora essencialmente o ponto negativo da prestação pois de resto cumpriram da forma habitual, fazendo uso de métodos que não são muito entusiasmantes para os metalheads como gravações de backvocals e o uso desmesurado de efeitos que apenas o peso lhes faz distinguir das fórmulas pop.
O peso sinfónico aliado a sonoridades mais próximas de um power metal que outrora envergaram não foram de todo os pontos a destacar deste concerto mesmo com a abertura promissora com o mais recente single “Paradise (What About Us?)” que originalmente contava com Tarja Turunen (Nightwish), uma figura bastante querida do público português.
Uma coisa é certa, lutaram desde cedo para mostrar serem merecedores do fecho da primeira noite após aquela que fora a edição de maior sucesso da história do festival (2014), e esse esforço inicial foi sem dúvida a melhor fase de toda a hora e meia de concerto.”Faster”, pelo número de telemóveis em modo gravação, era dos temas mais esperados por aqueles que descomplexadamente seguiram rumo à Quinta do Ega para ver os holandeses e “In the Middle of the Night” comprovou que The Unforgiving continua a ser um dos álbuns predilectos.
Com o sol posto já hà algumas horas, o frio apertava e por muito que a vocalista percorresse o palco de uma ponta a outra não deixou ela própria de ser vítima de tais condições. No entanto “The Edge of the World” não falhou em aquecer-nos a alma num momento de certa forma mágico.
Aos poucos a humildade da banda, que sem pretenciosismos em tentar ser algo que não são, ía silenciando os críticos… Mas tal nível não conseguiu ser sustentado.
Segui-se o single “Dangerous” que contou com Howard Jones (Killswitch Engage) como participação especial mas apenas no ecran de fundo (sem dúvida uma das maiores produções de palco que o festival já nos ofereceu). O tema soou banal, tal como em estúdio, sendo claro que neste álbum os esforços residiram em questões contratuais em prol da própria qualidade. Os tons góticos, em retrospectiva, assentavam-lhes tão bem… Mais tarde isso ficou sublinhado com “And We Run”, com as tais gravações por trás, neste caso com Xzibit espante-se. Não há explicação possível para esta colaboração. 
Outro momento que à priori ninguém acreditaria ser possível seria ouvir Lana Del Rey no V.O.A.. “Summer Sadness”, na versão dos Within Temptation, comprovou bem o tal conforto que demonstram ter com o mundo da música mainstream aplicando apenas roupagens com uns quilinhos a mais.
A setlist foi continua no âmbito greatest hits: “Angels”, a muito aplaudida “Memories” e “What Have You Done” foram alguns dos picos (?) de um concerto que ia arrefecendo a par dos termómetros.
O último tema aparentava ser o homónimo do primeiro álbum, Mother Earth, mas não abdicaram de um encore mais marcado pela praxe do que propriamente requisitado. “Cover By Roses” e “Ice Queen” fecharam uma noite que se queria mais prolongada. 
A banda fez o que tinha a fazer, com todas as suas armas, proporcionou bons momentos frente aos seus fãs e por isso terá que ser isentada de culpas. Melhor dificilmente poderiam ter feito. Por outro lado, não podemos deixar de sublinhar a realidade dos factos, apostar com este nível de risco não pode ser apenas aplaudido quando funciona, como se de um wildcard se tratasse (os Epica assim foram na edição anterior acabando por esgotar o Paradise Garage meses depois). Não se pode habituar o público a headliners como Kreator, Opeth e Gojira e apresentar uma banda tão descontextualizada sem esperar sofrer os efeitos, tanto ao nível do número de entradas como nos níveis de satisfação.
Sem dúvida alguma que Amorphis e Heaven Shall Burn foram os grandes vencedores do primeiro dia mas, as falhas técnicas iniciais, o headliner fora de contexto e o relógio com os ponteiros a passar pouco mais da meia-noite, fizeram apertar ainda mais a fome que tínhamos de concertos que apenas fora saciada na tarde seguinte. Aí sim houve fartura.

Texto: Tiago Queirós
Fotos: Nuno Santos (todas as fotos aqui: dia 1 | dia 2 | dia 3)

Report do 1º Dia Report do 2º Dia | Report do 3º Dia

Leave a reply

You may use these HTML tags and attributes: <a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <s> <strike> <strong>