[Report] Vagos Open Air 2015 (3º dia)

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Dia 3, 09.08.2015: Bloodbath | Overkill | Orphaned Land | Alestrom | Ne Obliviscaris | Ironsword | Midnight Priest

Ao terceiro dia fez-se luz, a solar entenda-se, e o calor bem cedo se fez sentir. As caras ressacadas lá foram desaparecendo com a água fria dos chuveiros que logo pelas 8h/9h salvavam vidas. Ou pelo menos pareceu.
O último dia não era para despedidas e com um cartaz daqueles os festivaleiros sabiam que tinham de aproveitar cada minuto.

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Ao contrário de outros eventos que parecem uma espécie de viagem de finalistas fora de época, no Vagos Open Air, com o seu público mais maduro (é visível uma grande maioria na faixa etária entre os 20 e os 40 anos), é normal assistirmos à desmontagem de tendas na manhã de domingo e isso mais uma vez foi verificado. Eram muitos os corajosos que trabalhavam segunda-feira, o tal só comprova a unicidade deste público, assim como o amor que têm à camisola metaleira. Preta como manda a tradição.
Valeu-nos S.Pedro que finalmente cessou o vendaval desconfortante dos dois primeiros dias, permitindo tirar proveito da Praia da Vagueira ou de passeios pelas paisagens do distrito de Aveiro, que bem merecem ser exploradas.

MIDNIGHT PRIEST

Às 15h30 em ponto, como previsto no horário, os Midnight Priest deram o tiro de partida com o seu bem tradicional Heavy Metal cantado em bilíngue (português e inglês).
Aos poucos a afluência ia aumentando no meeting point do costume, frente ao palco, onde a sombra era escassa mas a vontade de “abanar o capacete” se sobrepunha.
O jovem Lex Thunder, passado mais de um ano, ainda se vai dando a conhecer como vocalista e as suas capacidades vocais são óbvias.
A sonoridade que busca muito de uns Judas Priest com um laivos de Iron Maiden (Steve Harris definiu há muito o padrão galopante que apaixona os fãs do género) já não alcança as mesmas reacções e para muitos está de portas fechadas e trancadas nas dezenas de álbuns clássicos que saíram nas fornadas dos anos 80. Por cá até vamos tendo algum saudável saudosismo com nomes como Mindfeeder, Attick Demons, Iberia entre outros mais, que vão saciando a fome de alguns, mas seria fechar os olhos à realidade se afirmássemos que o Heavy Metal ainda mantém a fórmula da juventude.
Assim sendo, foi com muito gosto que presenciámos as marcações serradas nas barreiras de segurança logo à entrada desta tuna do metal coimbrense (ou mais correctamente, conimbricence).
O concerto foi focado no último álbum, “Midnight Steel”, desde o início com “Thunderbay” passando por “Into the Nightmare” e o single “Hellbreaker”.
Se em tempos o público estranhava a onda NWBHM cantada em português, tornou-se claro que eram alguns desses temas que muitos aguardavam. Já mais soltos, atacaram o seu hit “Rainha da Magia Negra” no melhor momento de toda a actuação e com um feedback bastante positivo.
“À Boleia com o Diabo” foi outra das que os Midnight Priest já não se conseguem desassociar nesta nova fase da carreira que começou em 2008 mas que soa quarentona. A opção de cantar em inglês poderá ser um apontar de armas a outro nível (resultado da experiência Wacken?) mas por cá o seu charme passava mesmo por cantar na língua que todos falamos. Por muito estranho que poderia soar.

NE OBLIVISCARIS

Num registo bem diferente, os Australianos Ne Obliviscaris estrearam-se em Portugal e, como prevíamos, encantaram tudo e todos com a sua mistura de sons suaves e melódicos com os rasgos guturais, que dão um leque de texturas coeso. Juntos resultam num choque “Bela e o Monstro” de puro romance, de uma beleza transcendental, sem soar gótico em demasia, brejeiro, enfadonho ou artificial.
A forma como deixam fluir e crescer os temas não deixa ninguém indiferente e Citadel, o recente segundo álbum, demonstra isso na perfeição. Em Vagos a banda fez cair queixos e deixou no ar que num futuro vale a pena repetir a aposta, ou num horário mais cimeiro no cartaz ou em nome próprio (vontade para voltar não lhes falta como nos confidenciaram).
No Resurrection Fest não puderam contar com o baixista dadas as especificidades técnicas do seu baixo, desviado no aeroporto, mas desta vez, com todos os elementos em palco, sobressaíram as secções rítmicas (os carris das composições) e superiorizaram o seu som ao vivo.
Os portugueses foram brindados com um conjunto de sons que balançaram bem entre a complexidade e a simplicidade, o progressivo e o imediato, o cru e o belo. Uma viagem pelo mundo do fantástico em tom de poesia.
A dualidade entre os vocalistas não soa a dueto mas sim a um complemento repleto de sentido quer estético como musical. Sem cair em pretenciosismos nem na tentação de traços desnecessários. As dinâmicas de altos e baixos que não caiem em exageros ajuda a fluir toda uma experiência de suave êxtase. O público deixou-se apaixonar entre os seus movimentos involuntários e a estática, resultante do efeito surpresa.
Foi com “Devour Me, Colossus (Part I): Blackholes” que a banda mais distante da sua terra natal se apresentou aos portugueses. Se por momentos predominou a frieza de Xenoyr com a sua aura black metal logo Tim Charles cativou com as linhas de violino e com os seus clean vocals que nunca se deixaram intimidar. A sua figura simpática e calorosa equilibrou bem os contrastes que fazem deles uma banda única no espectro do metal.
As influências de Death Metal, quer puro como melódico, com elementos de música clássica fizeram-se notar principalmente na mistura de arpegios de guitarra com os blast beats arrebatadores. O cuidado em deixarem bem perceptíveis todas as notas deixou claro que o trabalho de cordas (que não são poucas nem nas guitarras nem no baixo) é essencial no resultado final.
Citadel pode ser o difícil segundo algum mas não demonstra falhas nem inseguranças, tal como a obra prima Portal of I que surpreendeu a crítica e os catapultou para o estatuto que merecem.
A escolher um momento em concreto: “Painters of the Tempest (Part II): Triptych Lux”.
Há bandas que criam música, há outras que criam arte. Em latim Ne Obliviscaris traduz-se para algo como “não esquecer”. Não nos esqueceremos.

ALESTROM

O prémio do concerto mais divertido foi certamente para os Alestorm que acabaram por preencher a vaga deixada pelos Halestorm, algo que não deixa de ser curioso e que parece ter ido ao encontro com os pedidos que foram feitos, em tom de brincadeira, nas redes sociais. Independentemente disso, estes piratas eram já um dos nomes mais requisitados e os resultados foram claros: rambóia que encheu o recinto de boa disposição.
Desde Korpiklaani no Ermal que uma banda deste género, mais humorístico entenda-se, que não se verificava tamanho nível de efeitos.
Com o público eufórico os escoceses saíram de Portugal com o tesouro debaixo do braço.
Com mais de Jack Sparrow do que Barba Negra, estes corsários do arraial contagiaram com o seu folk regado de Power metal optimista como nem a Peste Negra conseguiria.
Os sorrisos nas faces demonstraram pouco escorbuto e muita alegria, quer no palco com na maré de corpos que não cessaram a ondulação, quer no mosh como nos crowdsurfings que não deram descanso aos seguranças (o seu profissionalismo é incomparável a qualquer festival).
A cidra do Sommersby que o capitão Christopher Bowes envergava não fez jus ao andamento do público que brinde atrás de brinde ia criando o maior aglomerado de “party animals” que há memória desta edição.
O non-sense da tela de fundo e os sucessivos diálogos dinamizaram bem o tipo de show que propõem e que baptizaram de True Scotish Pirate Metal. Há rótulos que até deixam bem a ideia no ar…
Ameaçaram um ataque ao stock de cerveja com “Drink”, cantado em coro como mandaram os corsários, mas atacaram bem foi no “Rum” que fechou em grande um show que teve tanto de metal como de arraial popular: moshpits amigaveis, crowdsurfers incansáveis e até comboios passaram pelo apeadeiro da Quinta do Ega.
Vela posta, bandeira hasteada e com o saque completo seguiram rumo ao próximo alvo. Que se cuidem os marinheiros que por aí andam à deriva. Em Vagos não tiveram piedade… “Keelhauled” ainda se faz ouvir quando o nevoeiro cobre a ria de Aveiro.

Orphaned Land

Bem exótico foi o concerto dos Orphaned Land que trouxeram um pouco do Médio Oriente para Vagos. A diversidade predominou neste terceiro dia o que valorizou bastante os últimos momentos do V.O.A.. Mais do que concertos singulares, foi no seu conjunto que se proporcionaram as melhores experiências. Esta fora uma das melhores, sem espaço para dúvida.
Vieram de Israel para o nosso país com a sua mensagem de paz ao som do metal quer em Inglês, Árabe como Hebraico, para que não hajam dúvidas.
A boa disposição de Kobi Farhi (que fez questão de deixar bem claro o seu gosto pela actividade sexual e que logo não poderia ser Jesus, mesmo que aparentasse) ditou uma grande proximidade com o público. Não foram poucos os que marcaram o seu lugar ainda antes de começar, talvez pelos ecos da última passagem por Lisboa.
A etiqueta “extreme” encaixa facilmente em tudo o que seja menos convencional no mundo do metal e que se possa imaginar como tal… É mais uma percepção. O catálogo dos Orphaned Land diz-nos que na sua génese até o foram mas a ideia que hoje temos destes simpáticos rapazes é que não é por aí que primem. Não faltam exemplos de grandes bandas que vão amolecendo, vimos os Opeth no ano anterior por exemplo, e algumas até pela positiva como os Anathema. Neste caso, os detalhes que distinguem as suas músicas sempre sobressaíram os aspectos mais melódicos pelo que esta nova fase pode mesmo vir a ser considerada a melhor.
“All is One” é o single homónimo do mais recente álbum e que muito tem contribuído para o crescimento mediático da banda. Usado como tema de abertura, obteve resultados imediatos. Os portugueses estranharam mas gostaram. Trocaram o moshpit pela dança do ventre e mesmo assim deixaram bem claro que estarão presentes em força no Cinema São Jorge para assistir à passagem em acústico da banda num futuro próximo. Há coisas que não conseguimos explicar. Go with the flow? Possivelmente, só perdeu quem não se deixou viajar pelas paisagens áridas do deserto. Vieram de uma região repleta de tormentas mas também de história e cultura. O seu folk deu-nos uma lição: o metal há muito que deixou de ser anglo-saxonico e que também não se deve limitar a fronteiras nórdicas e germânicas… O mundo do metal une-nos a todos e aparentemente de forma quase imprevisível.
A base de fãs portuguesa ficou certamente maior. O mérito é deles e que a sua humildade lhes fique intacta. Nem sempre se vive de virtuosismos e nem sempre é isso que aplaudimos.

OVERKILL

Em noite de Supertaça, ainda por cima com o muito aguardado derby Lisboeta, adivinahava-se que muitos metessem uma pausa nos concertos em prol da televisão mais próxima do recinto.
Quando toca a futebol no nosso país não se fazem milagres e todos sabemos por anda Jesus nestes dias…
O pontapé de saída coincidiu com o intervalo entre concertos e os primeiros riffs da banda de Bobby Ellsworth não foram suficientes para convencer o retorno dos fanáticos da bola que por esta altura estariam fora do recinto.
De qualquer forma, os efeitos que se temeram não foram tão nefastos como poderiam ter sido e a moldura humana esteve bem composta para receber os Overkill que já tinham passado por Vagos em 2012 e pelo Paradise Garage no passado mês de Novembro.
Sendo uma das bandas obrigatórias do repertório Thrash norte-americano, o respeito por tamanhas figuras era obrigatório e em momento algum faltou. A setlist foi marcada por clássicos e pelos temas mais marcarantes dos últimos álbuns. Sem haver um cuidado acrescido em mostrar os temas de White Devil Armory como o fizeram em Lisboa, não abdicaram do single “Armorist” que novamente voltou a ser servido à entrada e com o suspense “XDM” a introduzir, como podemos verificar no álbum.
Apenas “Bitter Pill”, na sua onda Metallica versão Death Magnetic, foi eleita para promover um pouco mais o álbum que veio a público no ano passado.
O tema que mais se fez ouvir na edição de 2014, se bem se lembram, foi “Electric Rattlesnake” graças aos DJs de serviço, que sabe-se lá porquê, nos obrigaram a ter bem decorada a letra na ponta da língua. Pelo menos o refrão, vá. Talvez por isso o seu efeito foi claro e a par dos picos de todo o concerto. É sem dúvida a música chave da última década dos Overkill e o público não ficou impávido. Cantou, esperneou, perdeu um pouco das estribeiras… Fez o que lhe compete: curtiu como se não houvesse amanhã. E, de facto, no que toca ao Vagos Open Air não havia. Por isso…
Com as vozes aquecidas a sequência seguinte premiou os fãs mais antigos que se fizeram mostrar ao longo de hora e meia. “Powersurge” e “In Union We Stand”, ambos do velhinho Taking Over, puxaram pelos coros de vozes que aumentaram de música para música.
Do primeiro álbum, “Rotten to the Core” continua a ser uma das favoritas e se anteriormente “Hammerhead” possa ter passado ao lado de alguns, esta não passou certamente. Um hino que outrora catapultou os Overkill para os ícones que são hoje.
O desgaste do mítico vocalista aos poucos ia-se tornando cada vez mais visível, algo difícil de aceitar perante tamanho herói, mas perfeitamente compreensível. A idade pesa e dela já se esquivou por muito tempo, algo que sempre aplaudimos mas que temos de aceitar como uma realidade doravante. Assim se explicam as sucessivas saídas de palco que preferimos ignorar enquanto nos deslumbrávamos com a máquina de riffs chamada Dave Linsk, que não sendo um membro original muito contribuiu para renascer a banda das cinzas. Sejamos sinceros, há todo um período que não merece ser explorado da mesma forma que os primeiros e os últimos três álbuns.
Os Destruction tinham cativado com a demonstração ao vivo dos primeiros passos da banda e de igual forma fizeram estes rapazes munidos de “End of the Line”, “Horrorscope”, “Hello From the Gutter” e “Overkill” (o seu original do EP de ’84).
“Ironbound” não teve o mesmo gosto que teve na mítica sala Alcantarense mas não deixou de introduzir bem a expectável recta final.
Se em algum momento tiveram perto de entrar no clube dos Big 4 esse fora ao som do mítico álbum The Years of the Decay e muito graças ao sucesso do porta estandarte “Elimination”, ainda hoje o tema mais reconhecido da vasta carreira, bem produtiva quer ao nível de estúdio como de quilometragem por todo o tipo de estradas. Mais uma vez o momento alto na passagem pelo nosso país.
O momento da despedida, que curiosamente coincidiu com o apito final no Estádio do Algarve, foi feito não de acenos de mão aberta mas com o, universal e politicamente incorrecto, dedo do meio no ar. A tradicional cover dos punks do Canadá The Subhumans, “Fuck You” mais uma vez fechou uma actuação que pecou pela falta de tempero e não de ingredientes.
Sem dúvida que esta setlist estava repleta de argumentos fortes (bem superior às duas últimas) mas faltou no ar aquela aura própria de momentos especiais. Realmente, isto da música não pode ser encarado como ciência exacta e a leitura que fazemos é algo de bastante pessoal. Simplesmente, não se fizeram sentir as reacções de satisfação espontâneas como em 2012, por exemplo. Três passagens num curto período de tempo criaram saturação ou seria uma maioria benfiquista no público? Nunca saberemos…


BLOODBATH

Os últimos Headliners desta edição do festival, são um dos nomes mais interessantes do Death Metal contemporâneo e a procura fez-se notar. Longe do mediatismo dos Black Label Society (que tocaram na noite anterior) foram o maior pretexto para os amantes dos sons mais extremos e não foram poucos os que se deslocaram de propósito, de todos os cantos deste país à beira mar plantado, para os receber de braços abertos.
O longo espaçamento entre concertos permitiu que fosse reposta a totalidade dos festivaleiros dentro do recinto, uns mais contentes do que outros é certo, mas nada como uma sessão demoníaca e completamente sanguinária para resumir o futebol à sua insignificância.
Os Bloodbath são uma super-banda. Tresandam experiência e individualmente já provaram o seu trabalho há muito. Ao contrário das formações galácticas que volta e meia surgem no mundo do rock, esta realmente faz sentido (as outras também tem muito $entido…) e a força presente nos álbuns é banda sonora do cataclismo, do fim dos tempos, do apocalipse.
Em palco o aspecto visual fora levado ao detalhe com as pinturas faciais que camuflavam a formação de luxo com Anders Nyström e Jonas Renkse (Katatonia), (Opeth) e com o mais recente vocalista, nada mais nada menos que Nick Holmes (Paradise Lost).
No ano passado tivemos oportunidade de assistir, naquele mesmo palco, aos projectos principais do vocalista e do seu antecessor, Mikael Akerfeldt, com Opeth a proporcionarem um concerto demasiado soft e os Paradise Lost a proporcionarem um dos melhores concertos que há memória no nosso país. Sinais dos tempos?
Por esta altura o mítico vocalista do West Yorkshire, e não da Suécia ao contrário dos restantes elementos dos Bloodbath, tem os holofotes apontados graças não só a esta substituição de titãs como ao mais recente álbum dos próprios Paradise Lost onde deixa bem claro o retorno em força dos seus guturais.
Apesar de abrirem com “Let the Stillborn Come to Me” e “Mental Abortion” foi um concerto com muito mais do que uma apresentação de Grand Morbid Funeral. A estreia da banda em Portugal foi marcada por várias passagens pelo catálogo que conta já com quatro álbuns de estúdio.
Fora o concerto mais pesado dos três dias e, curiosamente, já há quem estranhe tamanha brutalidade em Vagos – algo impensável há uns anos mas que comprova o fim do elitismo metaleiro.
No final do ano a tour com Carcass, Obituary, Napalm Death e Voidvod promete entrar nos tops do ano (pelo menos no que toca ao Death Metal) mas terá que batalhar muito depois deste.
O encore foi feito ao som dos dois temas mais emblemáticos da carreira dos Bloodbath para deleite do público mais fiel à cena DM: “Eaten” o grande momento de todo o concerto e “Cry My Name” não deixou de soar a homenagem aos grande nomes old-school do movimento, Entombed e Dismember por exemplo. As alterações na métrica diferenciaram bem o carimbo de Holmes mas não borrou a pintura em momento algum. Pelo contrário. A confiança em palco e a postura dominante transpareceram a fase positiva que atravessa na sua carreira.
Se Vallenfyre arrebataram o RCA Club, os Bloodbath não ficaram para trás nem um milímetro.

IRONSWORD

A terminar a noite tivémos o regresso dos portugueses Ironsword aos palcos. A banda, que conta já com duas décadas, rompeu o seu hiato para este concerto com o intuito de celebrar a carreira dedicada ao heavy metal.
Os sucessivos agradecimentos por parte do vocalista/guitarrista Tann, o único membro original de 1995, demonstraram bem a importância daquele momento para o trio em palco. Infelizmente predominou um vazio constrangedor e uma prestação pouco conseguida deixando no ar a ideia de uma formação demasiado verde para aquele palco. De qualquer forma, mais do que os aspectos técnicos deve-se retirar deste último concerto a consagração de outro ícone do metal nacional, da mesma forma que os Filii Nigrantium Infernalium o são dentro do underground português (no seu género). Com o novo álbum None But the Brave em carta, os resistentes amantes do heavy tradicional, que neste caso incide nas epopeias e aventuras mitológicas de Conan,o Bárbaro, não deixaram de frisar o seu apoio. Não tão virados para o NWOBHM como os Midnight Priest mas sim para o Battle Metal que acaba por ser mais um daqueles termos forçados mas que bem identifica o imaginário presente quer na lírica, como nas composições. Para não dizer mesmo na forma de estar em palco. Fiéis ao passado, como se lhes espera.
Um momento que se queria especial passou ao lado de muitos. A programação foi-lhes completamente desfavorável mas o novo álbum é forte e esperemos que seja um bom argumento para fazer o efeito Fénix, renascendo das cinzas e atacando os palcos deste país.

CONCLUSÃO

Ao terceiro ano do Festival na Quinta do Ega sente-se cada vez mais a proximidade do público com a população e comércio local que aparentam estar já bem habituados à peregrinação metaleira. Essa realidade é muito benéfica para a experiência num total mas que no fundo não passa de uma externalidade positiva e que escapa um pouco à própria produção.
Os aspectos que podem vir a ser melhorados, face à evolução do Vagos Open Air, incidem bastante nos serviços disponibilizados ao nível de restauração que são limitados e provocam bastantes filas. Ao nível de som é urgente fazer um update apto e capaz de aguentar o nível de som que todos esperamos e aguardamos o ano inteiro. Os WCs necessitam de uma manutenção mais regular, um problema crónico da maioria dos festivais.
Ao nível de acessos a rampa da entrada continua a ser um aspecto a melhorar.
Por outro lado, o tratamento da segurança no recinto continua a ser exemplar; o serviço de chuveiros fora adaptado e com bons resultados; as tomadas eléctricas disponíveis permitem recarregar baterias, pelo menos do telemóvel, o que é sempre bom; o hidromel continua maravilhoso; o ambiente familiar está cada vez mais a ser levado à risca com toda uma nova geração de crianças que acompanham os pais metaleiros (é sempre uma imagem muito engraçada); o tratamento para com pessoas de mobilidade reduzida continua a demonstrar que este é um festival para todos os headbangers.
Ao nível do cartaz 2015 registámos vários vencedores: Heaven Shall Burn e Amorphis, Black Label Society e Venom, Ne Obliviscaris e Orphaned Land… Podendo adicionar outros, mas no que toca a “derrotas” temos de dizer Vildjharta.
O curioso caso Within Temptation deverá será revisto pela organização face aos seus objectivos de futuro e como poderão ser as consequências desse tipo de estratégia.
Quanto à eventualidade de um segundo palco, e por consequente uma maior aposta de bandas nacionais: é necessário ter noção da possível dimensão do investimento face ao possível aumento de entradas. O público de Vagos é fidelizado… É complicado poder dizer, sem hesitações, que seria um update sustentado. 

De qualquer forma, sem aparentar o sucesso da edição 2014, o VOA voltou a ser o main event do metal em Portugal. O nível de cartaz provou-se mais na prática do que em teoria, o que realmente premeia os festivaleiros, quer com históricos como com revelações sensacionais. Foram três dias memoráveis. De antologia diga-se.
Para o ano a Songs for the Deaf Radio contará estar novamente presente, como manda a tradição.

Texto: Tiago Queirós
Fotos: Nuno Santos (todas as fotos aqui: dia 1 | dia 2 | dia 3)

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