Resurrection Fest 2014 | Reportagem do 1º dia

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31 de Julho: Ash is a Robot, Hummano, Acid Mess, Hyde Abbey, Childrain, Mutant Squad, Rise of The Northstar, Cobra, More than a Thousand, Atlas Losing Grip, Red Fang, Backtrack, Hacktivist, Crowbar, Authority Zero, Amon Amarth, The Ocean, Architects, Megadeth, High On Fire, Kreator

O primeiro dia do Resurrection Fest, só de olhar para o cartaz, prometia não deixar descansar as pernas de todos aqueles que rumaram a Viveiro, vindos de toda a península Ibérica (e não só). Coube aos portugueses Ash is a Robot abrirem as hostilidades no Ritual Stage numa altura em que ainda muita gente se instalava nas zonas de camping ou ainda estavam retidas nas filas de troca de bilhetes.

A sua prestação deixou marcas, até mesmo físicas como mais tarde a banda publicou no seu Facebook. Abrir um festival desta dimensão assim como a sua tour que está em curso pelo Reino Unido, são provas evidentes que este é um conjunto a ter em conta, para os mais distraídos, dentro do panorama nacional. 
Os espanhóis Hummano logo de seguida atacaram o Chaos Stage com o seu LP “Is the Shit” mas é de volta à tenda dos rituais que encontramos a primeira surpresa desta edição: Acid Mess
Um trio jovem que vai buscar referências clássicas de uns Black Sabbath mas sem nunca cair no glamour de ramificações mais hard rock. Curiosamente no nosso país já temos uma nova geração dedicada à nostalgia algo renascentista que se revê nos ensinamentos dos 70’s atmosféricos , no entanto, essas bandas (as mais jovens pelo menos) não optam pelo caminho menos virtuoso e mais pesado como neste exemplo. Uma banda que se inseria perfeitamente no Reverence ao lado de nomes como Electric Wizard e Hawkwind. 
Os que iam enchendo o recinto aderiam aos primeiros Mosh Pits invocados pelo deathcore dos Hyde Abbey e dos Childrain. Talvez por as baterias estarem cheias não houve qualquer tipo de contenção no público reflectindo-se isso na abertura do palco principal com um prato típico da região: Mutant Squad. Dentro de um Thrash Metal que se enquadra bem no seguimento de ideias de Angelus Apatrida (que pisaram o mesmo palco no dia seguinte) e que cai facilmente no agrado de quem segue o movimento underground português através de nomes como Switchtense ou Primal Attack. Mais desligados do groove, a par dos seus compatriotas, atacaram riffs rápidos e eficazes abrindo da melhor forma um palco que ao longo dos 3 dias deixaria belas memórias. Apesar de alguns anos de carreira, o seu primeiro LP “Titanomakhia” está ainda recente (2013) e ainda anda na estrada. Uma banda que não fugiu ao toque de midas de Daniel Cardoso na mistura do segundo EP o que só por si é o suficiente para chamar à atenção do metaleiro português. 
Cheios de “bazófia” estavam os franceses Rise of the Northstar, uma imagem de marca de algumas bandas da cena hardcore que por aí andam, mas que não é do agrado de quem tem as suas referências no mundo do metal. De qualquer forma é de destacar toda aquela imaginário nipónico que destaca a sua carreira. 

Com apenas uns minutinhos para espreitar os Cobra na outra ponta do festival, no Ritual Stage, muito do público presente já aguardava pelos portugueses More Than a Thousand. Há muito que a banda é já uma referência nestas andanças mas não deixa de surpreender o impacto que criam no público espanhol. Um concerto que teve algumas dificuldades técnicas de início, algo raro diga-se, mas que foram ultrapassadas ao longo dos temas apresentados.
O novo álbum “Volume V: Lost At Home” serviu de base para o certame. Bem participativo, Vasco Ramos demonstrou-se mais do que um vocalista, um autêntico frontman! Não faltou o Single “Heist” num pequeno concerto que acabou com o auge “No Bad Blood” do “Volume IV: Make Friends and Enemys”. Um exemplo para a nova geração Sadina que cada vez mais se faz notar. A banda marcou assim, de forma bem juvenil, a sua terceira passagem pelo festival e pelo que se constatou, com centenas aos saltos, mosh-pit constante e com direito a Wall of Death, as próximas passagens pela terra de nuestros hermanos irão fazer furor. Às vezes é isto que faz falta comprovar para perceber o porquê da internacionalização de certas bandas nacionais. A presença de Mike Ghost no baixo ainda nos fez imaginar um regresso dos Men Eater, e quem sabe naquele palco, mas isso fica no âmbito da imaginação por enquanto.
O primeiro momento mais easy-listening, que neste festival passa muito pela aposta no punk rock melódico, bastante influente na adolescência de muito do público hardcore, ficou a cargo dos suecos Atlas Losing Grip. Sim, há vida para além do Death Metal na Suécia. 
Daqui para a frente foi sempre a subir… Já não são uns meros desconhecidos graças aos seus riffs que tresandam a cerveja que nos fazem relembrar o bom que é ouvir Rock sem compromissos e sem enfeites desnecessários. Só poderíamos estar a falar dos norte-americanos Red Fang que ainda hoje são recordados em Portugal pela sua passagem na tour de “The Hunter” dos Mastodon.
Um dos melhores concertos desta edição do RF mesmo sendo algo deslocado na retórica hardcore / metal. Não faltaram temas como “Blood Like Cream” e ” Dirt Wizard” mas são as já obrigatórias “Wires” e “Prehistoric Dog” que obtiveram as melhores reações. O seu stoner rock é do mais contagiante que há memória sendo de facto um concerto para os portugueses terem em conta já no próximo mês no Reverence Valada. 
No palco Chaos Stage, seguiram-se os Backtrack com a sua sonoridade bem apontada aos amantes da cena NYHC, com influências bem mais clássicas que noutros exemplos que se passeiam entre variantes mais extremas. 
O RF é um festival que dentro de um certo tipo de público até se demonstra bem abrangente. Há desde público para Black metal, sessões de Grindcore assim como drum’n’bass ou algo mais Emo… Agora Rap Metal?! Não tinha morrido? Pois bem, Resurrection… Os britânicos Hacktivist têm chamado à atenção nos últimos tempos, no entanto o que vimos em palco foi uma certa falta de identidade própria. É certo que muitos aderiram, mas muitos que foram enganados com promessas de uma espécie de Meshuggah quanto à sonoridade certamente não se sentiram recerssidos com um nu-metal fora de horas. Um concerto competente mas sem grande lugar para memórias futuras. 
Nesta fase do primeiro dia de festival o mainstage já ditava o ritmo apesar de tudo. Kirk Windstein é uma espécie de Lemmy da cena Sludge Metal. Tal como os Motorhead, nos Crowbar, não é necessário grande esforço para atingir um peso que abala a gravidade de todos em redor. Aqueles riffs cuja história remota a deuses como Iommi continuam a fazer estragos ao nível cervical. Já passaram uns anos desde Corroios e os portugueses, pelo menos, já ressacavam. Os fans mais antigos que ainda buscam temas de outros tempos terão dificuldade hoje em dia em conseguirem ver os seus desejos cumpridos, no entanto quem buscava a qualidade de produção de temas de grande nível como “All I Had ( I Gave)” e  “Cemetery Angels” pode dizer que assistiu a um belo concerto. Não faltou “Walk With Knowledge Wisely” do mais recente “Symetry in Black”, um dos álbuns a ouvir de 2014.
Enquanto os Deuses Nórdicos não conquistavam o que outrora fora território celta os Authority Zero do Arizona acalmavam os ânimos do público menos dado ao Metal com sonoridades dignas para soundtrack de um vídeo para o Fuel TV. Os outros reabasteciam os copos, ou os cornos (literalmente) como belos vikings que somos frente aos já míticos Amon Amarth
É inevitável encarar os suecos de sorriso nos lábios. Quem já conhece a banda sabe que as suas musicas são autênticas aventuras mitológicas em tom de epopeia e que se enquadram bem na tal imagem que temos preconcebida da antiguidade dos países nórdicos. O sucesso crescente dos álbuns da banda aliado ao aumento sustentado da base de fãs dita concertos cada vez mais participativos por parte do público. “Father of the Wolf”, cujo vídeo fez furor nas redes sociais, abriu este concerto exclusivo na Península Ibérica que já soa a greatest hits: “Deceivers of God” ,”Death in Fire”, “Guardians of Aasgard”, ” As Loke Falls” também do ultimo álbum … Não faltaram temas fortes e orelhudos, de tal forma que os seus ecos perduraram pelos 700 km de viagem até Lisboa. “A recta final marca a derradeira conquista do público galego em mais uma batalha histórica dos Amon Amarth que não temem fazer uso de armas tão letais como “Twilight of the Thunder God” e a reconhecida “The Pursuit of Vikings”. 
Quem seguiu viagem em direcção à tenda dos rituais deu de caras com algo mais uma vez fora de contexto mas que igualmente encaixava que nem uma luva… O experimentalismo dos The Ocean após o concerto dos Amon Amarth é como comer um daqueles pratos gourmet depois de uma bela sandes de porco no espeto (ou um bocadillo!). Não se trata de qualidade mas sim de timing pelo que não julgo o público que deixou escapar um grande momento musical. A projecção de som que caracterizava a tenda criou um ambiente atmosférico brilhante, algo já conhecido nos seus trabalhos em estúdio mas que muitas vezes se perde ao vivo, o que não fora o caso. Uma anestesia necessária, pela frente ainda haviam algumas horas frente ao palco. 
Os Architects eram uma das bandas mais esperadas, pelo menos no que toca ao merchandise visível pelo recinto. De facto este primeiro dia não fazia jus ao seu cariz hardcore, pelo menos a nível de nomes sonantes. O seu novo álbum “Lost Together/ Lost Forever” tem tido boas reacções o que é sempre um bom pretexto para reunir uma boa multidão. A sua entrega em palco é incontestável, no entanto aos poucos muita gente se ia dirigindo para o palco principal aguardando o nome mais mediatico da edição 2014 do RF. 
Não é preciso grandes introduções. Os Megadeth são, queiramos ou não, uma banda histórica e incontornável no mundo da música pesada. Como portugueses tínhamos uma certa curiosidade em rever a banda de Dave Mustaine onde o “aguante Megadeth!” não soasse forçado. As setlists são muito previsíveis, o que não é algo recente mas, se por um lado não abona a favor da banda, por outro dá garantias a quem procura os clássicos. 
Chris Broderick ataca “Hangar 18” de rompante num trunfo demasiado valioso para ser usado tão cedo. O entusiasmo que se verificou nos mais recentes concertos no Pavilhão Atlântico e Rock in Rio não se fez sentir em Viveiros. Pelo menos não de forma tão imediata. Um seguimento de êxitos atrás de êxitos : “Wake Up Dead”, “In My Darkest Hour”, “Skin O’My Teeth”, “Sweating Bullets”, “Tornado of Souls”… De facto apenas dois temas estiveram fora do contexto Best Of que acompanha a banda regulamente levando a questionar o porque da aposta dos Megadeth em lançarem álbuns como “Supercollider” que não conseguem-se afirmar nem na crítica nem no público de forma unânime. Desse álbum em concreto apenas “Kingmaker” picou o ponto sendo de longe o momento mais frágil de toda actuação. Outrora a banda já fora bastante radiofônica e isso é relembrado em “A Tout Le Monde” e “Trust” mas é na recta final que tentam chegar à camisola amarela. “Symphony of Destruction” em Espanha não é de facto como em Buenos Aires mas foi dos temas mais aplaudidos. No entanto é na dupla final que se ganha aquele sentimento de missão cumprida: “Peace Sells” e “Holy Wars” deram uma lição de história mais uma vez. Cruzando a meta dificilmente se pode afirmar que os Megadeth se sagraram vencedores após uma performance demasiado profissional, como todos os aspectos inerentes a tal. 
Com High on Fire retomaram-se as sessões de air-guitar e de headbanging. Foram cabeças de cartaz no Milhões de Festa dias antes e no Ritual Stage tiveram alguns milhares deliciados com a máquina de fazer riffs, de seu nome Matt Pike
Da cidade de Essen para o mundo, os Kreator influenciaram diversos gêneros ramificados do Thrash Metal que os caracteriza, em bandas com sonoridades cada vez mais extremas. São considerados o maior nome dos Big 4 alemães e isso confirma-se numa discografia cheia de álbuns clássicos. Num passado mais recente podemos afirmar que os ícones do gênero têm revelado uma maior preocupação em garantir melhor qualidade de estúdio, no seu caso podemos apontar “Phantom Antichrist” como um bom exemplo disso mesmo. E foi como o tema homônimo que deram início sem grande surpresa a uma sessão de thrashalhada à antiga! Os Kreator, ao contrário dos Megadeth não aparentam qualquer tipo de vergonha face aos seus trabalhos recentes e de facto temas como “From Flod into Fire”, “Hordes of Chaos” e “Enemy of God” são muito bem recebidos. No entanto é com a velhinha “Endless Pain” do seu primeiro álbum e “Pleasure to Kill” realmente se põe em causa a segurança nas imediações do que servia de epicentro de destruição frente ao palco. Um concerto com direito a um Wall of Death vistoso numa recta final de encore a três tempos para garantir o k.o.: “Violent Revolution”, um dos temas mais aguardados, e também do longínquo ano de 1985 “It’s time…to raise… The Flag of Hate”!!! Rebentando com “Tormentor” que criou um cogumelo, semelhante ao de uma explosão nuclear, de poeira. Há testemunhas que comprovam que este era visível desde Vigo. Um concerto de peso que não deixou ninguém desiludido certamente. Venha mais uma dose em Vagos!! 
O palco principal fechou assim da melhor forma mas há que ter em conta as origens do Resurrection Fest para perceber que o seu público ainda aderiu em massa ao ultimo concerto a cargo dos Ignite com o seu punk/hardcore mais melódico terminando esta primeira dose com boa disposição no ar.
Texto : Tiago Queirós
Fotos : Nuno Santos

A ver também:

-Report 3º dia (link em breve aqui)
-Video resumo (em breve aqui)
-Fotos do 1º dia na Publicação de Songs for the Deaf Radio.

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