Resurrection Fest 2014 | Reportagem do 2º dia

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1 de Agosto: Anal Hard, Vortice, Iwrestledabearonce, Wormed, Texas In July, Angelus Apatrida, Looking For an Answer, Born From Pain, Segismundo Toximano, GBH, Vildhjarta, Skeletonwitch, Suffocation, Down, Raised Fist, Converge, NoFX, Watain, Sick of it All

Nada como uma noite bem dormida na tenda, no conforto de uma esteira e de um saco cama, para recarregar baterias. O segundo dia do Resurrection Fest teria de tudo um pouco e o micro-clima de Viveiros, apesar de ter sido bastante benevolente no primeiro dia, continuava a ser visto com alguma suspeita perante nuvens tão carregadas. Entrando no recinto é visível uma maior movimentação do que na mesma hora no dia anterior.

Ao som dos Anal Hard começava o bailarico frente ao Chaos Stage, as danças tradicionais “hardcorianas” não faltaram. No palco dos rituais o dia seria marcado por sonoridades cada vez mais extremas e cada vez mais distantes da gênese do festival o que cria alguma contestação nos clientes mais antigos da casa. Mas o que interessa são resultados e esses foram visíveis em concertos pujantes como dos catalães Vortice que transpiram Meshuggah por todo o lado, é verdade, não deixando de encher a tenda com uma brutalidade matemática.
A aparente crise de identidade dos Iwrestleabearonce despertou o interesse de muitos que assistiam ao seu concerto. O que para alguns é algo experimental para outros era simplesmente entretenimento, bom ou mau é mais uma questão de gosto pessoal. 
Mas voltando às sonoridades mais extremas, os “grunhidos” dos Wormed anunciavam uma potencial matança de volta ao Ritual Stage. O seu Brutal Death Metal não fez salpicar entranhas nem qualquer tipo de fluidos, não nos fez vomitar nem algo do gênero… Aos madrilenos faltou aquele afamado factor x que conseguisse transformar um concerto demasiado limpo para uma, perdoem-me o termo, bela javardice. O que neste contexto é algo positivo. De qualquer forma não deixava de ser interessante a escalada sonora que os palcos secundários nos ofereciam nesta tarde de sexta-feira. 
Na passagem pelos Texas in July não deixamos de reparar que há uma certa distinção entre os vocalistas norte-americanos e os europeus sendo que os primeiros, talvez pela política de massas, tem sempre uma preocupação acrescida em preencher os requisitos de frontman da banda e de mestre de cerimónias como fora o caso. Aproveitaram para apresentar um tema novo (“Broken Soul”). 

Se há uma banda que conhecemos bem e que, em geral, os portugueses nutrem especial carinho são os thrashers espanhóis Angelus Apátrida. Nas suas últimas passagens por Portugal ficou claro que o reconhecimento alastrou-se pela Península Ibérica.

A jogarem em casa a escala ficou obviamente maior mas também mais intensa. O Mosh-Pit demonstrou-se imparavel e para delírio dos fãs não faltaram temas obrigatórios como “Give’m War” com o seu já tradicional Wall of death, assim como “You Are Next” e ” Blast Off”. O guitarrista David Alvarez conseguiu desviar o foco das atenções, normalmente apontados ao vocalista Guillermo Izquierdo, actuando sentado face à lesão que apresentava na perna que pelo aspecto robótica não será coisa boa. Grande profissionalismo, uma atitude que no mínimo merece os nossos aplausos. 7 temas bastaram para serem coroados Reis em Viveiros.
Nós sabemos que pode não ser legítimo comparar actuações de um Brutal Death Metal com Grindcore, no entanto, a “javardice” que faltava aos Wormed foi de certa forma apaziguada com Looking For an Answer que actuaram da forma como por cá gostamos de Grindcore. Curto, grosso e sujo. Muito sujo. Não esquecendo nunca que por cá temos bandas que não ficam nada aquém das bandas que iam passando pelos rituais. Mas este menu de degustação sonora do segundo dia não abandonou o hardcore por muito tempo: não faltou slam dancing frente aos Born From Pain
No palco principal os veteranos Segismundo Toxicomano incendiavam com o seu punk rock energético que fez suar muito do público que debitava letras não deixando dúvidas que se tratava de uma banda de culto no país vizinho. 

Num registo mais old-school, momentos depois no mesmo palco (principal), os históricos GBH relembraram a multidão que o verdadeiro punk vem da terra da majestade de alguns, porque outros simplesmente lhe entregam de bandeja um belo f**k you. Os finais dos anos 70 já soam a história de tão distantes que já estão, no entanto há gêneros que primam pela teimosia em manterem-se fiéis à sua sonoridade. Este é o caso e na plateia aplaudiu-se isso mesmo.
Antes ainda espreitamos os Suecos Vildhjarta, aparentemente foram inseridos no cartaz no seguimento da matriz Meshugguiana.
Temas que se queriam atmosféricos não causaram um impacto por aí além. Talvez pela hora, talvez pelas condições. De qualquer forma só saiu a ganhar quem prova um pouco de tudo neste buffet porque nas carnes nem tudo estava bem temperado (mas também não fora descaradamente mau). Mas quem não gosta de salada também não passou fome. Até porque este palco ainda tinha muito a acrescentar ao segundo dia de festival… A Wilhelm Scream continuavam o feeling mais descomprometido no palco Chaos graças ao seu hardcore mais melódico.
O primeiro indício de Black metal surgiu a cargo dos Skeletonwitch que não se pode afirmar como uma banda do género de forma incontestável mas em certos pormenores são óbvias as influências do movimento. Esta sonoridade mais exótica, aliado ao concerto de Suffocation, ambos marcados para actuarem antes dos Down, reunia um número cada vez maior de pessoas tornando a tenda pequena demais para tanto metaleiro. Os americanos que andaram na estrada no início do ano com Amon Amarth e Enslaved com o seu quinto álbum de originais “Serpents Unleashed” partiram alguns pescoços evidenciando que esta injecção de metal extremo começava a surtir efeitos.
Pouco depois, os seus compatriotas Suffocation presentearam-nos com um dos melhores concertos da tenda nesse dia, demonstrando que mesmo no mundo da música a experiência salvaguarda muita coisa. O público aderiu em peso sendo possivelmente a maior enchente com S.Pedro a nosso favor ( as condições atmosféricas do terceiro dia ditaram novas enchentes). O seu Death Metal clássico cai sempre no agrado dos mais conservadores e deveriam ser uma paragem obrigatória a todas as bandas que tentam dar novas roupagens ao prefixo death, perdendo muitas vezes o seu virtuosismo. Um concerto que prendeu centenas mesmo com o horário a poder fazer tremer a recta final. 
No palco principal, após aquela que fora possivelmente a maior pausa entre concertos, Phil Anselmo torna-se rapidamente o centro das atenções de todo o Resurrection Fest. Nada se prende com a banda em si, nem com as performances do lendário frontman hoje em dia. Há todo um saudosismo em volta deste senhor, e que é dogmaticamente merecido. Estamos a falar de um marco geracional que se prolongou para as que se seguiram. É uma lenda viva e isso só por si já vale a presença o mais próximo possível das primeiras fileiras. É verdade que dos Pantera já só restam as memórias e as esperanças, mas nos Down há muito que se descobriu novos tesouros, mais lentos obviamente, mas com aquele toque de New Orleans que acrescenta sempre uma boa dosagem de stoner “coolness”.
Já sem Kirk Windstein na formação há de facto menos uma figura carismática no entanto, quase vinte anos depois, NOLA é um clássico e o seguimento da discografia mesmo não tendo atingido tamanha fasquia nunca deixou de convencer. Os exemplos recentes dos lançamentos dos EPs IV – part I e II comprovam a boa recepção quer na crítica como pelos fãs.
A banda pratica o que se define de realismo, maximizando os pontos que ainda lhes são favoráveis. Um idealista dirá que era juntar o Zakk Wylde e Pantera com eles… Ninguém contradiz tal vontade, mas porque não desfrutar do que é real? Foi exactamente isso que o público espanhol optou por fazer. Com os olhos a brilhar e uma ou outra referência ao físico de Anselmo, nunca se ouviu qualquer tipo de piropo em relação aos Pantera, não houve sequer possibilidade de o fazer: o headbanging constante deixou o cérebro dormente e a concentração estava focada em não falhar nenhum acorde no Air guitar. “Eyes of the South” abriu a sessão que passou por temas chave como “Lifer” e “Hail the Leaf” (nem é preciso descrever o tipo de discurso que antecedeu o tema). Como seria de esperar, o EP lançado este ano teve o seu peso na setlist com três temas: “We Knew Him Well”, “Hogshead/Dogshead” e “Conjure”. A boa disposição da banda foi visível do princípio ao fim nesta segunda passagem pelo festival e um exclusivo Espanha/Portugal. Relembrou-se Dimebag no aplauso da noite terminando um senhor concertão com um autêntico coro com a inevitável “Stone the Crown” e com “Bury Me in Smoke”.
O auge da tal escola americana de performers / frontman retirou-se do palco com o dever cumprido sem necessidade de qualquer tipo de carta na manga. 
De volta aos palcos secundários, encontrámos os suecos Raised Fist a remarem contra a maré de um público ainda em êxtase com uma banda que poderia muito bem ser considerada headliner. A dedicação demonstrada rapidamente reflectiu-se na resposta do público. Por breves momentos imaginámos os Refused… Por norma não fazemos grandes referências críticas à distribuição das bandas pelos palcos, mas desta vez temos de abrir uma excepção. 
Os Converge justificavam-se no palco principal e a prova está no êxodo que se verificou em direção à tenda Ritual. Com a transferência dos Watain para o Chaos Stage coube-lhes a responsabilidade de ser a ultima banda de originais a pisar tal estrutura. O público português há algum tempo que não consegue matar saudades desta banda que tem tanto de cativante como de influente verificando-se já um certo culto em seu redor. O ultimo álbum All We Love We Leave Behind ainda roda em muitas aparelhagens e certamente continuará assim durante algum tempo. O concerto em si correspondeu a todas as expectativas e para alguns mais entusiastas excedeu até! Música pesada, que transcende o hardcore, o metal, e que envolto em toda aquela técnica torna-se simplesmente arte… Levada ao extremo como gostamos. Ainda longe de acabar a noite já eram evidentes os níveis de satisfação neste segundo dia. 
NOFX rebentaram com o Pavilhão dos Lombos em 2007. Não sabemos se por medo da conta ou por outra coisa qualquer, nunca mais voltaram… 7 anos depois, o que verificamos em Viveiros é que há coisas que nunca mudam. O concerto é ainda repleto de discursos de inconveniência máxima, regados a uma bela dose de ironia é certo, os hinos perduram e a audiência continua a enlouquecer do princípio ao fim. Pode até não ter sido o mais agressivo, mas fora talvez o maior em termos de dimensão. E basta olhar para os nomes do cartaz para perceber que só existir a dúvida já é incrível! 
A abrirem com “60%” rapidamente atacaram temas bem conhecidos como “Dinossaurs Will Die” e “The Brews”. “72 Hookers” representou o seu álbum mais recente de 2012 mas foi com “Murder the Government”, “Seeing Double At the Triple Rock”, “Leave It Alone” e “Linoleum” que conquistaram de forma definitiva o público que nunca baixou o ritmo. Se noutras praias são bandas como The Offspring e Green Day que ficam como o registo de uma adolescência, nesta é claro e evidente que NOFX não passou ao lado de ninguém. Uma passagem por “Radio” dos Racind e de covers que muitos nem conhecem o original de tão boas que são como “Perfect Government” de Punk in Drublic, o afamado álbum que comemora mais uma data redonda (20 anos!!), assim como ” Shortest Pier”. E como todo o set foi um desfilar de êxitos não poderiam faltar “Franco-Unamerican”, “Stickin in My Eye” e a bem decorada “Bob”. Para terminar em festa: “Kill All the White Man”. A dupla “El Hefe”/Mike (sem menosprezar o resto da banda) é de facto muito própria e as suas performances juntam o seu punk easy-listening com uma espécie de Stand-Up Comedy bastante próprio. Não há parecido. Não tentem fazer parecido. Não queremos réplicas. Queremos NOFX em Portugal. Se no futuro dissermos que vimos um belo concerto de Black Metal a seguir a NOFX poucos acreditarão.
Os Watain, que estavam agendados para o palco dos rituais, que todo o dia deliciou o público metaleiro, apresentou-se no Chaos Stage e rapidamente se percebeu o porquê… Os Suecos apresentaram-se com um cenário digno de um Hellfest ou de um Wacken, com direito a fogo, muito fogo. Um pedaço de inferno demasiado grande para a tenda e um chamariz para muitos curiosos que se deixaram encantar pelo espetáculo. É difícil explicar como de facto a coisa funcionou muito bem mesmo fora de contexto. Um concerto muito envolvente graças à aura criada. Se o Grindcore se quer javardo, o Black metal quer-se assustador e rodeado de suspense. Quer-se como um ritual pagão que outros fossem os tempos e teríamos a Inquisição à perna para nos meter na fogueira. Assim foi. 
Se há alguma banda que merece um estatuto especial neste festival são os Sick of it All. Podem não ter o record de presenças mas estavam lá quando tudo começou em 2006, ainda longe da realidade que encontramos em 2014. Os veteranos da cena hardcore de NY são históricos a par de nomes como Madball e Agnostic Front e a sua discografia conta com álbuns históricos como “Scratch the Surface”, por exemplo, que também data esse ano de boas castas, 1994. O hardcore clássico que marcou toda a evolução e dinâmica do gênero já não é de todo adolescente. Amadureceu fiel a si mesmo mas a sua mensagem perdura como continuamos a verificar nas suas actuações. Este foi mais um desses casos. “Death and Jail” abriu, da melhor forma o bailarico da ultima banda a pisar o palco principal neste segundo dia de loucos! Ao segundo tema já se relembravam “Clobberin Time” do primeiro álbum “Blood, Sweat and No Tears”. Um concerto que premiou o público com vários momentos marcantes da sua carreira como “Injustice System”, “Take the Night Off”, ” Us vs Them”… Não ficou para trás “Scratch the Surface” que se candidatou ao sing along da noite. Mas temas como “Santuary” e “Friends Like You” comprovam que apesar da maratona de metalada, este é um festival Hardcore. Como não podia faltar, “Step Down”, um clássico absoluto, rebentou com todas as energias pondo mesmo em causa a recuperação… 
Ainda havia um terceiro dia pela frente e nem todos estavam preparados para o que iriam encontrar. Para acabar em beleza, e já que se tinha despertado o bichinho ao estar a meros metros de Deus Anselmo, nada como acabar a noite a rebentar as cordas vocais com os Display of Power, banda de tributo a Pantera que faz jus à fama que ganhou na estrada. Guerrilla recordou os êxitos de Rage Against the Machine numa noite que já ia cumprida e positivamente desgastante. Fazem falta festivais destes que preencham assim o dia do festivaleiro português.
Texto : Tiago Queirós
Fotos : Nuno Santos

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