Vagos Open Air 2014 | Reportagem do 1º dia

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8 de Agosto: Kreator, Epica, Soilwork, Sylosis, Kandia, Gates of Hell

Uma bela tarde de Sexta-feira aguardava a peregrinação metaleira à simpática cidade de Vagos.
Desde 2009 que o evento já é encarado como tradição, quer para os festivaleiros como para os habitantes locais, cada vez mais hospitaleiros. Pregam-se estacas e define-se nova morada de residência para os próximos dias. De preferência com sombra e alheia ao “ambipur” próprio das zonas sanitárias. Daqui para a frente a única dúvida que pairava no ar seria a complicada decisão entre a fiel amiga cerveja, que saltitava entre “fino” e “imperial” na capital do metal nacional, e o histórico Hidromel.
Com tudo preparado, dá-lhe gás com Gates of Hell! Com o recinto já bem composto começava a confirmar-se as previsões dos mais positivistas que apontavam esta edição como a de maior procura desde a primeira em 2009. 
É bem possível que esse objectivo tenha sido cumprido mas aquela hora o sol ainda batia forte e ninguém ali estava pelos números, se bem que muitos frente ao palco buscavam sombra… A banda portuense entrou em palco de rompante com “Phenomenal Syndrome”.
Estava aberta a sessão. Longe da paisagem de um Wacken, Raça teve frente a um público explosivo que não se contém ao demonstrar o entusiasmo de estar presente em mais uma edição do Vagos Open Air. Talvez poucos para quem tenha ficado mal habituado, mas certamente bons! Em resposta o frontman, como já é habitual, sempre se demonstrou presente e activo na interacção com a plateia, um traço característicos de toda esta geração de peso com pares desde os Switchtense aos Primal Attack para não falar, obviamente, dos Revolution Within. Com “Critical Obsesion” na bagagem não havia espaço para grandes dúvidas. Velocidade e peso. E alguns “-alhos”. Foi com o tema que dá nome ao álbum que os Gates of Hell conseguiram a melhor reacção, um belo Wall of Death para relembrarem mais tarde algures no Youtube. Muitos dos presentes já conheciam a banda, alguns já se cruzaram várias vezes. Dos outros certamente se criaram novos fãs.
Os Kandia até poderiam ser uma novidade para muitos dos presentes mas não o eram de todo para a SFTD Radio. 
Já por várias vezes falámos sobre esta banda que de certa forma criou polémica ao entrar neste cartaz. De facto não será a banda mais convencional de se inserir neste festival, o que só aumentava a pressão, especialmente sobre a vocalista Nya, pelo que os seus resultados seriam de especial interesse para todos. 
Ao início do concerto a banda aparentava estar com algumas dificuldades técnicas (em se ouvir) mas nada prejudicial em demasia. Adversidades comuns a outras tantas. “New Breed” com o seu riff mais metal deu início a um concerto que continua em busca do reconhecimento de “All is Gone”. Não se pode dizer que o público deste festival não esteja habituado a figuras femininas, o seu historial é claro, no entanto não se mostrou fácil e a sua inserção da banda no horário também não a favoreceu nesse aspecto. 
Do que se destaca, e já uma constante, recordamos a presença fiel da sua Luminous Legion que acompanha a banda como uma autêntica claque ultra que não teme vestir a sua camisola. Jogavam fora mas não faltaram. Para a história, deste que apesar de tudo, é um dos maiores passos na carreira da banda, fica a escalada entre ser vítima de uma pressão incrível por parte de um público que se demonstrou antagônico antes mesmo de dar a cara, conseguir ganhar o seu espaço em palco e finalmente conseguir demonstrar o que conseguem fazer de melhor. Não há nada mais metal que isto.

A primeira banda internacional, pode muito bem ser apontada como o primeiro grande momento do dia: Sylosis
Os ingleses com já três álbuns e que, a par e passo, vão ganhando espaço na indústria, estavam em dívida para com o público português desde a passagem dos Fear Factory e Devin Townsend Project quer no Porto como em Lisboa, quando cancelaram a sua presença. Em vez de sedentos credores encontraram uma plateia derretida, não só pelo suor, mas pelo som projectado das colunas e amplificadores. Em certos momentos seria possível dar algumas festas na barriga de muitos dos cabeludos (e não só) que compõem a tal peregrinação. 
Da guitarra saíam constantemente escalas matemáticas que associadas às secções rítmicas catalisavam alguns movimentos corporais por vezes involuntários. Facilmente se justifica assim a dimensão que o Mosh Pit ganhou em relação ao primeiro concerto, sem que muita coisa fosse preciso para atingir tal nível. Um metal com características bem contemporâneas, que nem sempre é visto com bons olhos pelos mais conservadores mas que fora um sucesso em Vagos. A aumentar a fasquia do festival será certamente por aqui. Quem sabe um dia não teremos nomes como Trivium e Devildriver já para não falar mesmo de uns Lamb of God ou Machine Head. Claro que muitos iriam torcer o nariz, mas o que não faltaria era gente para preencher essa vaga e muitas mais. Um concerto que, independentemente de gostos pessoais, deixou muito pó no ar e pouco espaço para críticas. 
Seguiram-se os Soilwork que estiveram, como o estrangeirismo inglês diz bem, “far away for far too long”. Uma década nos dias que correm é desligar por completo o cabo da ficha dos portugueses. 
Grande parte dos presentes nunca tinha visto um concerto dos suecos. Já não seria talvez um nome que viesse à cabeça logo à primeira se fossem sondados para a escolha do cartaz, não fosse, claro, “The Living Infinite”. O ultimo trabalho da banda de Björn “Speed” Strid foi muito bem recebido, o que não escapou aos promotores que apostaram forte neste primeiro dia de festival. 
O primeiro sunset desta edição foi marcado pelo seu Death Metal cada vez mais melódico, com uma evidente aposta no trabalho de produção cheio de elementos que preenchem todos os espaços em branco. Um peso demasiado dependente de aspectos técnicos, mas do norte da Europa não esperamos nós outra coisa. Não deixa de ser evidente uma certa influência americana em toda a dinâmica quer criativa como em palco diferenciando a banda de muitos dos seus conterrâneos tornando-a até mais acessível.
“This Momentary Bliss” ditava as previsões de um concerto com vista a dar continuidade à promoção do ultimo álbum. Uma entrada pujante mas que teria outro impacto com menos luminosidade, algo que de certa forma foi-se revelando com a passagem do tempo: o escurecer trouxe todo um ambiente que encaixa com a mistura de versos de autêntico caos com os “chorus” harmoniosamente melódicos, orelhudos e cheios de vontade de serem cantados em coro. “Nerve”, single de 2005 que foi alvo de reconhecimento, não foi esquecido. “Spectrum of Eternity” foi o tema chave desta passagem pela Quinta do Ega que terminou em grande com “Stabbing the Drama”. Mais de 10 anos depois passaram com distinção no teste. Queremos mais. 
Não eram uma novidade no curriculum do festival (estiveram presentes na primeira edição), e pelo número de passagens pelo nosso país nos últimos anos, podemos afirmar que os Epica têm um carinho especial pelos portugueses. E pelas portuguesas, sem discriminação face a eventuais ciúmes que possam ter pairado no ar. 
Simone Simons é de facto o centro das atenções, por diversos motivos, e mais uma vez conseguiu seduzir com a estonteante delicadeza de seu timbre na sua poderosa voz. Com “The Quantum of Enigma”, lançado este ano, a banda holandesa proporcionou um bom momento de metal sinfônico não pretendendo em vão desgastar-se a converter ateus. 
De facto, não há grande ciência neste sub-gênero no que toca a conquistar ouvintes, é bastante linear: ou se gosta ou se põe à beira do prato. Infelizmente, esse tipo de reacção do público faz quebrar o ritmo, mas o cliente tem sempre razão e essa será sempre uma premissa a ter em conta. As harmonias, típicas do metal sinfónico, cheias de influências provenientes da música clássica, anexadas às técnicas de soprano, acimentaram ainda uma bela parcela do público que certamente não perdeu Lacuna Coil, por exemplo, naquele mesmo palco na edição anterior. 
As vozes de insatisfação fazem se ouvir mais facilmente que as restantes, como em tudo, o que por vezes espelha a imagem errada do que realmente se passou. Não foi de facto um dos momentos chave do festival mas sejamos sinceros, Epica antes de Kreator dificilmente o seria por muito benevolente que fossem os peregrinos de Vagos. Os tão afamados guturais iam dando uma certa dinâmica a um concerto bem competente com direito a encore, com um belo solo de bateria em “Cry for the Moon” terminando com “Unchain Utopia” e “Consign to Oblivion”. 
Ficou prometida mais uma passagem pelo nosso país, entretanto marcada para 29 de Novembro no Paradise Garage em Lisboa. 
Os alemães Kreator são uma instituição bem conhecida, e ao contrário de outras de sectores financeiros e industriais, bem acarinhada pelos portugueses que nunca fecharam os olhos ao contributo da banda na história do metal. A SFTD Radio ainda recentemente se tinha cruzado com a banda no Resurrection Fest, como assim o fora com os Angelus Apátrida e com os franceses Gojira
Já nessa altura aplaudimos o nível de intensidade que continuam a saber conseguir aplicar nos seus espetáculos que de facto dificultam a explicação aos mais novos do porquê de bandas como esta estarem referenciadas no mesmo contexto de uns Metallica (antigos) ou de uns Megadeth sob a etiqueta de thrash metal. Isto é thrash metal. Old-school, clássico, como quiserem adjectivar… É pura destruição pincelada a power chords e a solos com tanto de rápidos como de furiosos. 
30 anos de carreira são justificados com desfilar de clássicos e sustentados com álbuns mais recentes que tem sabido aplicar a fórmula Kreator, que tinha tudo para estar desgastada mas que continua a receber feedback positivo. Toda aquela interactividade com o público ainda soa tudo muito 80’s e algo distante do que se faz a nível contemporâneo, mas tudo isso faz parte da experiência. 
O concerto não fugiu ao que encontramos no mais recente álbum ao vivo “Dying Alive” que junta temas de “Phantom Antichrist” com alguns dos favoritos dos fãs. “Mars Mantra” é o soar do alarme. Não houve anti-aérias que evitassem o bombardeamento. O tema homónimo do ultimo trabalho de estúdio já está na ponta da língua, “From Flood Into Fire” de seguida… 
O trabalho dos seguranças frente ao palco aumentou exponencialmente num ápice. O crowd surf foi uma realidade constante e o mosh pit tomou proporções dignas de um campo de batalha. Um espetáculo paralelo ao do palco. E um belo espetáculo diga-se. “Endless Pain” e “Pleasure to Kill” foram peças de artilharia pesada usadas bem cedo para não restarem dúvidas quanto às intenções de conquista determinista alemã. A estratégia foi sempre bem clara: encantar com o discurso de Petrozza nos momentos mais pacíficos e atacar sem tréguas sempre que podiam. “Hordes of Chaos”, “People of the Lie” e a mais recente “Death to the World” iam puxando pelo público que nem precisava de confetis e grandes efeitos de fumo, como os que usaram para dar um certo pormenor ao espetáculo. 
No entanto são ainda “Enemy of God” e a mítica “Violent Revolution” que arrancam o maior número de “Yeah’s” e até mesmo algumas vénias. Por esta altura já os pulsos doíam tal a velocidade estonteante do palhetar. Os virtuosos do Air guitar não se limitam a imitar acordes e as palhetas a 1€ e 50 cent teriam de servir para algo mais que cerveja! “Civilization Collapse” antecedeu o tradicional encore. De bandeira em riste não houve espaço para dúvidas. It’s time to raise…” The Flag of Hate”!! Abre-se a clareira, efectua-se um dos maiores Wall of Death do festival e espera-se não acabar a noite de lanterna na mão à procura de dentes. Um tema chave de toda uma carreira que distingue os Kreator dos restantes exemplos conterrâneos, “Tormentor” fechou a noite garantindo ainda alguns litros de suor, algum sangue, muito pó no ar e perspectivas de aumento de vendas tanto nas barracas de cerveja como de Hidromel.
Texto: Tiago Queirós
Fotos: Nuno Santos
Fiquem atentos à nossa página para as reports dos dias seguintes.
Entretanto vejam as fotos deste dia:

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