
9 de Agosto: Opeth, Annihilator, Behemoth, The Haunted, Angelus Apatrida, Requim Laus
Em Vagos as manhãs são para aproveitar, a bem ou a mal. O sol bate forte, assim como o aquecimento central de muitas tendas. O pescoço podia doer, a nuca ceder perante a gravidade (face aos excessos da noite anterior) e as mazelas dos moshes a começarem a fazer-se sentir mas a missa ainda nem a meio estava.

Coube aos madeirenses Requiem Laus a árdua tarefa de abrir um dia que iria competir taco a taco, ou até mesmo exceder, o número de espectadores do anterior. No continente poucos estão familiarizados com a banda hoje em dia, pelo que o conforto de uma sombra ou de uma imperial mais barata fora de recinto ditou a fraca adesão do público. Uma banda com um metal clássico, com alguns pormenores mais rasgados, que merecia outra resposta de um público como o do Vagos.
“De Espanha nem bons ventos, nem bons casamentos.” Até ao dia que os Angelus Apátrida pisaram palco no nosso país. Não foi a primeira vez, nem mesmo este ano, e a aposta em Portugal está a revelar ser bastante frutífera.

No seguimento do dia anterior é visível a aposta primária na construção deste festival: 4 nomes “grandes”- bem reconhecidos na indústria, e dois portugueses ou espanhóis. Relembro que o terceiro dia de festival tem um estatuto especial pois tratava-se de uma data extra para poder encaixar uma ultima data da tour dos Gojira.

Os polacos Behemoth já têm o seu lugar na história do que muitos apontam como sendo Blackened Death Metal e a “persona” Nergal dá a cara pela banda que trás consigo ao vivo a “full experience” que se advinha nos seus álbuns.
Ultrapassada a maior adversidade da vida do mítico vocalista que fora diagnosticado com leucemia, conseguiram surpreender tudo e todos com “The Satanist”, álbum lançado este ano. Enganados estão aqueles que pensam ser saudosismo solidário, não o é de todo. Prova disso mesmo está no espetáculo épico que a banda proporcionou ao público português, podendo muito bem encaixar em lugares mais cimeiros do cartaz. É mais do que justo apontá-los como uma das mais influentes bandas do seu género e igualmente aceitável encarar o ultimo registo como um dos álbuns mais poderosos da sua discografia, previsivelmente nos tops de final de ano, não sendo de todo um visionário. São 10 álbuns e mais de duas décadas de carreira que se espelharam na Quinta do Ega num belíssimo concerto, envolvente e absorvente. Hipnótico por vezes. Um nível de qualidade que não fica indiferente até ao metaleiro mais dado a sonoridades menos extremas. “Blow Your Trumpets Gabriel” e “Ora Pro Nobis Lucifer” abriram da melhor forma um concerto que não deixou para trás temas como “Conquer All” e “As Above So Bellow”. “The Satanist” é já um tema obrigatório e não faltou. “Ov Fire and the Void” , “Alas, Lord is Upon Me”… Um desfilar de singles que certamente foram do agrado dos muitos fãs que os polacos ganharam ao longo dos anos no nosso país.
“O Father O Satan O Sun!” na recta final deixou o público a salivar por mais. Que a saúde esteja com Nergal porque nós estamos com os Behemoth, e por este andar, as vezes que forem precisas. Muitos apontarão este como um dos melhores concertos desta edição.
Aqueles que gostam do seu metal “guitarrado” e sem grandes aventuras deliraram com os Annihilator e para não darem a parte fraca dirão que não esperariam eles outra coisa… Ora a verdade é que de facto foi o concerto certo à hora certa, mas ninguém poderia adivinhar o impacto que este alcançou.

A boa disposição reinou e adivinhando-se um serão menos explosivo com o concerto seguinte, ninguém poupou energias no Mosh-Pit. Certamente que eles irão recordar este concerto por algum tempo, e nos também não o esqueceremos tão rápido! Por esta altura o recinto já teria atingido o seu pico, igualando a procura do dia anterior e possivelmente, para não dizer provavelmente, excedeu o número de entradas batendo o record do festival certamente.
A fazer-se história fez-se ao som de Opeth para agrado de milhares num concerto que apesar de tudo não teve uma reacção unânime .

Muitos dos presentes estiveram presentes em 2011, quer em Vagos como em Almada e os ecos que perduram salientam a discrepância de um concerto esmagador para algo mais denso e poético, que nem sempre caí bem no estômago… Na altura “Heritage” dividia os metaleiros de forma quase radical. Muitos aplaudiram a estética do álbum, outros criticaram a falta de ligação às raízes que fascinaram em tempos o núcleo de fãs. Neste retorno a Vagos houve uma certa falta de seriedade na forma como deveriam encarar o concerto, devendo ou optar por uma estrutura mais festivaleira, digna de um Open Air, ou não temer um registo intimista, também passível de ser concretizável neste festival em concreto. Demasiadas paragens, e até mesmo prolongadas que não conseguiam ser atenuadas com a boa disposição de Mikael Akerfeldt.
Há pouco a apontar em relação aos temas, que poucos conseguem fazer parecido sequer, não é por acaso a procura que este dia em particular verificou. “The Devil’s Orchard” é alvo de reconhecimento imediato e anestésico face ao desgaste de um dia demasiado produtivo para um headliner conseguir uma plateia a seus pés. Um público demasiado criterioso não deve ser igualado a um público do contra, como se verificou de forma crescente, algo demasiado injusto e ingrato para o conjunto com tamanho historial de sucessos. Quem se abstraiu de todos os pormenores em redor da música em si conseguia alcançar aquele transe inerente à magnitude de certos temas. Os que se deixaram levar certamente classificarão este concerto com nota positiva, sem ser em demasia pela falta daqueles momentos únicos, mas não deixarão, e bem, de assinalar que o profissionalismo técnico nunca esteve em causa. Houve falta de alma, é verdade, mas nada mais. “Deliverance” relembrou outros tempos e o público entusiasmou-se mas nada comparável a “Blackwater Park”. No entanto soube a pouco. Apesar de tudo esta passagem pelo festival não poderá ficar marcada pela negativa, porque não o merece, é apenas a prova que se a dificuldade em chegar ao topo é grande, maior é a responsabilidade em justificá-lo. Os suecos de Estocolmo já nos provaram bastante e certamente irão reconquistar os portugueses numa próxima passagem.
Texto: Tiago Queiros
Fotos: Nuno Santos e António Gaspar (Requiem Laus)
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