SonicBlast Moledo 2014 | Report 1º dia (c/ entrevista à organização)

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No dia 15 de Agosto de 2014, em que se celebrou os 60 anos do rock n’roll, não havia melhor maneira de celebrá-lo senão assistir a este Festival SonicBlast, nesta 4ªa edição, durante dois dias, em Moledo na Vila de Caminha, em pleno coração do Alto Minho, no distrito de Viana do Castelo.
Uma  ambiência perfeita conjugada com os recursos da terra, para uma festa sem igual, em todo o país.
O movimento Stoner/Rock tem seguidores aqui nesta região, concentrados como não se encontra em mais lugar nenhum e juntaram-se a eles os visitantes estrangeiros vindos de vários lugares da Europa, como Espanha, Alemanha, Inglaterra e França.
Digno de estar a par e passo com outros Festivais de renome nesta região, o SonicBlast continua a surpreender com as bandas que convida e cada vez mais se torna a Meca minhota do rock e referência até a nível internacional.
Nomes como os The BellRays, os Stone Dead, Blue Pills, Mr.Miyagi e Burn Pilot, movimentam os ‘peregrinos’ em massa em busca de música de qualidade e momentos inebriantes provocados pelos riffs de guitarra e a ‘jinga’ groove dos baixos, acompanhadas de batidas frenéticas das baterias.
Curiosamente o estilo Punk à moda de Ramones, o Heavy e o Doom, juntam-se e fundem-se com as melodias electrizantes e mensagens fortes que incorporam na perfeição, unindo os básicos ritmos de puro rock, ao estilo dos antigos anos 70, como por exemplo, Led Zeppelin, Janis Joplin, Fleetwood Mac e Pink Floyd  e fazem o Stoner Rock, bem ritmado e carregado de riffs pesados elevando-nos à euforia total com um som renovado, que permite tudo.
Um Festival bem organizado e cada vez melhor, mas desta vez a distância entre o recinto e o parque de campismo quebrou o espírito de confraternização das outras edições, os tais ‘amigos p’rá vida’ foram menos que os esperados, contudo nada faltou a este público, que nem de um banho quente se privou, no campismo bem equipado e ordeiro.
Gostámos de ver esta juventude, que aproveita a evolução das comodidades oferecidas nestes eventos dos dias de hoje, aliado a uma procura séria de música pela música. Um público que sabia bem ao que vinha porque depois nas tendas reproduziam os seus talentos com as guitarras e outros instrumentos, nos intervalos dos momentos do Festival.
Caso para dizer que o After Party não resultou como se esperava também.. afinal era a 45 minutos a pé do recinto, não tendo assim muita adesão da malta, que já sofria de tanto andar.
Os recursos de praia, piscina e ambiente rural foram de novo elevados a pontos de interesse, uma característica especial deste evento, onde participaram várias entidades locais, com ‘demos’ e aulas de surf e a presença dos skaters, com os seus truques mirabolantes.
A AMIR, associação que acolhe o evento desde o inicio, com a sua piscina, é o local perfeito para a realização dos concertos da tarde, como que dando uma ‘agitadela’ na malta para a explosão musical que se anunciava.
No final deste artigo podem encontrar uma entrevista com Ricardo Rios, um dos responsáveis por este evento.

Vou contar-vos então como foi o…1º dia:
Depois da tenda montada em lugar estratégico e de pulseiras em punho, dirigimo-nos ao recinto da AMIR, para assistir aos concertos.
Apresentaram-se, num palco maior que o da edição anterior, os Solar Corona de Barcelos, que nos embalaram num som electrizante do seu rock psicadélico, formando uma audiência, sentada à sua frente, concentrada em cada acorde que se soltava das guitarras.
A tarde estava ventosa e a vontade de entrar na piscina era pouca e em pouco tempo o recinto ficou cheio de toalhas estendidas, com a malta sentada a apreciar o sol e a música.

Depois os Acid Mess (n.d.r.: que já nos tinham surpreendido aquando da sua passagem pelo Resurrection Fest), com os seus longos cabelos, sobem a palco e como se entrássemos num túnel do tempo, fazem-nos sentir ‘in retro mode’ dos anos 70. 
Com um rock agressivo e melódico, ao estilo old school e que por momentos, traz alguma agitação no Centro Cultural.

A 3º banda da tarde são os Jibóia, que mesmo sem um dos elementos presentes, a teclista e vocalista Ana Miró, deambularam pelos temas do seu ultimo EP ‘Badlav’, criando a ambiência que os festivaleiros procuravam, de um rock poderoso e cheio de arranjos electrónicos, deixando o público em êxtase.

Este é um evento de música pela música e os elementos das outras bandas como os The Church of Misery, também se sentaram e conviveram connosco, mostrando a simpatia natural de quem se sentiu bem recebido e acarinhado  pelo público. O ambiente perfeito estava criado, peace and love e muito acid rock.


Aproximadamente duas horas de intervalo e os festivaleiros vão de regresso às tendas para recarregar baterias e esvaziar a geleiras bem apetrechadas. É maioritáriamente um público juvenil, e maioritáriamente galego, com uma atitude hippie freak, sedentos de boa música e muita arte. Uma comunidade a fazer lembrar os tempos de Woodstock, mas de gadgets numa mão e guitarra na outra, onde deram asas ao seu espírito livre, cantando, berrando ‘Olé’ acompanhado de uma trompete afinada e com a devida resposta em coro de todo o acampamento, criando um ambiente ‘happy’ durante todo o Festival.
A tarde foi fresca e a noite também, mas nem por isso o baixista Joel dos Burn Pilot se calçou, característica especial do músico, para atacar com um perfeito groove o seu instrumento, fazendo-se ouvir em todo o vale de Moledo, abrindo assim o palco principal do Festival.
Esta banda alemã esteve em tour em Portugal e levam daqui amigos para a vida. Então começam as faixas contagiosas como ‘Feedback Mind’ e foi a melhor maneira de provocar um ligeiro headbanging . Enquanto outros temas, como ‘No Catharsis’  extraído do seu mais recente álbum ‘Intense’ que  fez-nos render a atmosferas musicais mais compostas e experimentais.
Nós também ficámos ‘amigos’ da banda , pois deram-nos uma serenata de rock à porta da tenda e marcaram presença no campismo, nas duas noites do evento, tal como outro músico do Porto, o Hugo Franco aka Hunter S. Thompson, que nos deliciou com umas modinhas ao estilo de Rui Veloso, encantando-nos com as sus letras originais. Um momento épico para a equipa da SFTD.
Logo a seguir, em palco, explodem os Prisma Circus que nos colocam em sentindo com guitarras a rasgar o ambiente com o seu Heavy Psych Rock , de Barcelona, puxando cada vez mais público para junto de palco, que agora dança em euforia total contagiando todo o recinto, que se enchia com o frenezim da folia do acampamento e faziam a festa. E é esta a mistura especial e genuína da banda catalã, combinando a essência do melhor do rock dos anos 60 com a inovação da década de 70 com ‘riot mood’que serviu de inspiração para o tema ‘Joseph Merrick (Elefant Man)’ ou a acelarada batida do tema ‘Asylum’s Gate’. Um concerto de muita qualidade!

The BellRays que já andavam a dar que falar por cá em Alcobaça e em Cascais, levam-nos também agora a outra dimensão. 
A voz da californiana Lisa Kekaula, num timbre misturado entre Nina Simone, Tina Turner e o James Brown, ao lado de Roberts Vennum na guitarra, fizeram o público entre sorrisos, explodir com o som Punk, Rock & Soul, fazendo-nos dançar ao ritmo de músicas como ‘On The Top’, ‘Coming Down’ ou tema ‘Voodoo Train’.
A vocalista também é conhecida entre público português pelas suas participações com Basement Jaxx e The Legendary Tigerman, no álbum ‘Femina’.
Um ‘blast’ sonoro impossível de não gostar, com a alegria e a força que saía do palco, tal como esperavam os fãs, no evento. Como ela própria perguntou: ‘Is this a rock show?’ e a resposta ‘YES’ ecoou alto nas encostas das montanhas da aldeia de Cristelo, em Moledo.
Nunca vi um evento com tantos estilos de rock diferentes entre si ,a caberem tão bem no mesmo palco.
Entram os portugueses Black Bombaim as ‘desfiar’ as guitarras no seu último trabalho ‘Far Out’, ‘Titans’ (2012) e ‘Saturdays and Space Travels’ (2010) através do seu puro stoner rock optaram por temas longos e densos numa ambiência de experimentação e instrumentalismo brilhantes. Depois de um show na areia da praia no evento DunaJam, e da sua atuação no Boom Festival, o regresso desta banda era muito esperado. Os sons graves do baixo embalavam-nos num rock bem ‘jingado’com cheiro a Carlos Santana, fazendo a audiência fechar os olhos e dançar com o outer-space jam, vindo de planetas ainda por descobrir, em um excelente concerto.
Com o corpo e espírito elevado eis que descem à terra os The Church of Misery!
Estes japoneses, radicados nos Estados Unidos, são a representação idílica da capacidade que a música tem de unir povos e a excelência musical da banda, mostra-nos que de facto, o rock é universal! 
A voz do teclista/vocalista Hideki Fukasawa, num misto tipico de doom, Black Sabbath, Motorhead, Lamb of God com rock californiano, ao estilo dos anos 70…poderosíssimo…deixou de boca aberta um público que ficou, por momentos, vidrado no cenário em palco.
Atacaram temas do seu ultimo trabalho lançado em 2013 ‘The Kingdom Scum’  e estontearam o público, que teve direito a crowdsurfing e pulos em ‘mosh’ ao som da boa música.
Esta banda com raízes no Thrash Metal, já tocou no mesmo palco que Monster Magnet, Testament, Kreator, Napalm Death e Possessed, numa curta tour europeia pelos paises do norte no inicio do ano, mas não falharam a sua passagem por cá na sua Tour de Verão 2014.
Como disse anteriormente, a banda era de uma simpatia humilde e exótica, que nos encantou de imediato e depois de ‘sangrarem’ as guitarras envoltas nas pancadas estrondosas da bateria e  embrulhada na voz de Fukasawa , mereceram a taça do melhor concerto, de todo o evento!
Esta banda com os seus riffs de guitarra, poderosa voz e sumptuosos acordes do teclista e a sedução do baixo de Tatsu Mikami, um dos elementos fundadores da banda que já teve várias formações ao longo dos seus 20 anos de carreira, casou perfeitamente o Metal com o puro stoner rock, deixando-nos viciados.
Os temas ‘Lambs To The Slaughter (IanBrady/ Myra Hin Diey)’, ‘Killfornia (Ed Kemper)’ ecoavam no peito do público que respondia com dança, ‘dives’ e mosh,  até ao fim do concerto, tal como com ‘El Padrino (Adolfo de Jesus Constanzo)’ e o ‘Candyman (Dean Corll)’ deixando-nos ‘aguados’ por mais musica com alta qualidade de som.


Decorrida a noite de concertos era tempo de ‘recarregar’ nas tendas e para alguns seguir para o After noutro local, mais acima nos montes, que por esse mesmo motivo, não teve muita aderência devido à distância e à subida que teriam de  percorrer a pé. Assim a festa continuou até altas horas em alegre convivência no parque de campismo, junto à praia de Moledo.


ENTREVISTA À ORGANIZAÇÃO DO SBM (RICARDO RIOS)
Transcrevo uma pequena entrevista, gentilmente cedida pelo Ricardo Rios a explicar-nos como foi ter esta ideia de um Festival ali e como conseguiu desenvolvê-la para este sucesso.

1 – Olá Ricardo Rios, gostaria de saber de onde surgiu esta ideia, o Festival SonicBlast, e como obtiveram o apoio da Junta de Freguesia Moledo/Cristelo e da Casa da Cultura de Moledo, nestes últimos 4 anos?
Eu sempre ouvi muita música e fui a muitos concertos. Nos últimos anos, foi surgindo a vontade de querer fazer um festival, trazer algumas bandas à minha terra… Em 2011, um pouco por acaso, lá nos decidimos a passar para a acção. Juntamos alguns amigos e falamos, um pouco a medo, com o Presidente da Junta de Freguesia e da Câmara Municipal de Caminha, e a nossa ideia foi logo muito bem aceite! A ideia sempre foi fazer o festival no Centro Cultural de Moledo, por todas as condições que reunia (piscina, etc.). Falamos com a associação que aí opera, a AMIR (Associação Moledense de Instrução e Recreio), que nos cedeu o espaço. Posso dizer que, no que diz respeito à aceitação, fomos muito bem recebidos.
2 – Como foi criado o vosso grupo de trabalho e as parcerias no Surf e Skate, visto serem atividades desde 2011, incluídas no evento? Qual é o principal objectivo desta inclusão de atividades outdoor, praia, piscina, surf e skate?
O nosso grupo de trabalho é também, o nosso grupo de amigos e o que nos une é mesmo o gosto pela música. Mas eu também sou um apaixonado por estes desportos, apesar de já não os praticar, pelo menos com frequência. No fundo, tentei juntar os meus gostos pessoais, com as possibilidades que Moledo oferece. Moledo é visitado por muitos surfistas, pessoal que pratica windsurf, kite… Tem todas as condições para a prática destes desportos, mas, em 2011, não havia um único evento que chamasse a atenção para isto… Quanto ao skate, gosto muito e continuo a fazer força para que um dia se construa um skatepark em Moledo. No SonicBlast, trabalhamos com escolas e lojas da especialidade do distrito.
3 – Porquê da escolha deste estilo de música, mais indie e  stoner rock psicadélico?
É o que mais gostamos. Mas ainda há muito por incluir… Não queremos pôr barreiras nem limites… O SonicBlast vai fluir consoante o nosso gosto e as coisas novas que vamos conhecendo…
4 – Como reage a comunidade circundante,  visto estar localizado num ambiente rural, com a dimensão que já atingiu, a própria àrea do evento aumentada e com cada vez mais adeptos?
Principalmente depois da última edição, que superou as nossas expectativas, temos tido um feedback muito positivo. A população vê o SonicBlast Moledo como uma forma de desenvolver o turismo… Notou-se muita diferença no comércio (habitação, restauração…). Temos sempre criado mais postos de trabalho, e isso também é muito bom, tendo em conta a conjuntura actual.
5 – Pretendem expandir para um evento de maior dimensão ou manterem-se fiéis a um estilo mais específico tanto na música escolhida, como no tipo de público, mais comunitário, roqueiro e virados para as artes e desportos de natureza? Qual é a vossa grande aspiração, neste contexto, no futuro?
Claro que gostávamos de crescer mais um pouco, mas sem com isso fugir ao tipo de música que gostamos. Ainda há muito para crescer…

A Songs For The Deaf Radio agradece a disponibilidade demonstrada!

Texto/entrevista: Stanana

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